Israel encara ensaio de míssil do Irão como "provocação"

por Carlos Santos Neves - RTP
Na sexta-feira, durante um desfile militar em Teerão, o Presidente iraniano afiançou que o seu país jamais aceitará autolimitar o programa balístico Abedin Taherkenareh - EPA

O Governo israelita reagiu este sábado, pelo punho do ministro da Defesa, ao anúncio iraniano do ensaio “com sucesso” de um novo míssil balístico capaz de atingir alvos a dois mil quilómetros de distância. Avigdor Lieberman considera tratar-se de “uma provocação aos Estados Unidos e aliados” e “uma forma de testar reações”.

“O míssil balístico que o Irão disparou constitui uma provocação aos Estados Unidos e aliados, incluindo Israel, e uma forma de testar as nossas reações”, afirmou em comunicado o gabinete do ministro israelita da Defesa, o falcão Avigdor Lieberman, em resposta ao ensaio do míssil denominado Khoramshahr.
O acordo sobre o programa nuclear iraniano recebeu em 2015 as chancelas dos Estados Unidos, Irão, Alemanha, China, França, Grã-Bretanha e Rússia.

Lieberman acrescentou que o anúncio do regime dos ayatollahs constituiu também, na ótica de Telavive, “prova suplementar da ambição do Irão em tornar-se uma potência mundial para ameaçar os países do Médio Oriente ou o Estados democráticos do mundo”.

“Podemos imaginar o que poderia acontecer se o Irão se dotasse das armas nucleares às quais aspira. É preciso que isso não aconteça”, rematou.

O ensaio anunciado pela televisão estatal iraniana não é alheio ao contexto de confrontação diplomática entre a atual Administração norte-americana e Teerão.

O Presidente dos Estados Unidos ameaça estilhaçar o acordo nuclear estabelecido em 2015 com o regime, ao abrigo do qual o Irão aceitou manter as suas atividades neste domínio entre fronteiras estritamente civis, em troca de um alívio progressivo das sanções impostas pelo Ocidente.

Na passada terça-feira, perante a Assembleia Geral das Nações Unidas, Donald Trump referiu-se ao acordo como “uma das piores transações em que os Estados Unidos entraram”. E no mesmo fórum o primeiro-ministro israelita reforçou mais tarde os argumentos do sucessor de Barack Obama, embora a Agência Internacional de Energia Atómica tenha vindo assegurar que Teerão tem respeitado os termos do acordo.
“Operacional”

A data do teste do míssil balístico não foi revelada. Contudo, na sexta-feira - dia em que o Khoramshahr foi apresentado a par de um desfile militar para assinalar o início da guerra entre Irão e Iraque, em 1980 -, um alto responsável iraniano adiantava que a arma estaria “operacional num futuro próximo”.O Irão já detinha dois mísseis – o Ghadr-F e o Sejil – com alcance de dois mil quilómetros, ou seja, capazes de atingir Israel e as principais bases norte-americanas na região.

O acordo de 2015 não impede as atividades balísticas do Irão. O texto é, todavia, enquadrado pela Resolução 2231 do Conselho de Segurança das Nações Unidas, documento que exige ao regime que se abstenha de desenvolver mísseis com capacidade para transportar ogivas nucleares.

“O míssil Khoramshahr, com um alcance de dois mil quilómetros, pode transportar várias ogivas convencionais para atingir vários alvos”, explicava na sexta-feira o general Amir Ali Hadjizadeh, comandante da divisão aeroespacial dos Guardas da Revolução, em declarações citadas pela agência Irna.

Também na sexta-feira, durante o desfile militar, o Presidente iraniano afiançou que o país jamais aceitará autolimitar o programa balístico.

“Quer queiram, quer não, vamos reforçar as capacidades militares necessárias em matéria de dissuasão. Vamos desenvolver não apenas os nossos mísseis, mas também as nossas forças aéreas, terrestres e marítimas. Para defender a nossa pátria, não pediremos autorização a ninguém”, clamou então Hassan Rohani.

c/ agências internacionais
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