Israel ergue postos militares em zona-tampão com a Síria pós queda de Assad

por Carla Quirino - RTP
Tanques israelitas em Al Hamadyeh, perto dos Montes Golã, em Quneitra, Síria Ercin Erturk - Anadolu via AFP

Imagens de satélite revelam que as Forças de Defesa de Israel instalaram pelo menos sete bases ao longo da zona desmilitarizada do Monte Hermon sírio até Tel Kudna, nos Montes Golã. A construção desta linha de postos avançados numa zona-tampão traçada por um acordo de 1974 pode indiciar a intenção de uma presença prolongada por parte do Estado hebraico.

As imagens em causa são provenientes do Planet Labs PBC e verificadas pela unidade Sanad da Al Jazeera e BBC Verify.

Onze dias depois da queda do regime sírio de Bashar Al-Assad, a monotirização por satélite revelou diferenças na zona-tampão desmilitarizada.As anomalias apontam para obras a decorrer num local a mais de 600 metros dentro do perímetro que é conhecido como Área de Separação, que vai da encosta sul do Monte Hérmon e se funde com os Montes Golã.

Pelos termos do acordo de cessar-fogo de Israel com a Síria, em 1974, as Forças de Defesa de Israel ficaram proibidas de cruzar a chamada Linha Alfa, na extremidade ocidental da Área de Separação.

Mais concretamente, as imagens verificadas a 19 de dezembro de 2024 - já Assad tinha fugido para Moscovo - e a 1 de fevereiro de 2025 mostraram seis estruturas construídas durante este período na zona-tampão. A sétima está a ser construída fora da zona-tampão e dentro do território sírio.

De acordo com a Al Jazeera, as imagens revelam também obras de estradas em torno dos locais | Planet Labs PBC

A construção parece ter começado no início deste ano, com imagens de baixa resolução a mostrar um desenvolvimento gradual no local desde o primeiro dia de janeiro, segundo a BBC.

Os sete pontos apresentam-se quase todos alinhados e estão localizados a oeste da vila de Hadar, a oeste de Jabata al-Khashab, ao norte de al-Hamidyah, vila de Quneitra, ao sul do Lago Aziz (dois locais) e acima de Tal al-Ahmar.

Cinquenta anos passados sobre o acordo, celebrado com a dinastia Assad, os militares israelitas não só começaram a mover-se dentro da zona-tampão como avançaram para território sírio.

Planet Labs PBC

O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, alega que o acordo de 1974 foi firmado com um regime deposto e, portanto, é inválido: “Não permitiremos que nenhuma força hostil se estabeleça na nossa fronteira”.

o novo presidente interino da Síria, Ahmed al-Sharaa, realça que o novo Governo reconhece o acordo de 1974 com Israel. “Após anos de conflito e guerra, a Síria não permite novos confrontos”, disse al-Sharaa a 14 de dezembro de 2024. “A prioridade neste momento é a reconstrução e a estabilidade do país, e não há espaço para se envolver em disputas que podem levar a mais destruição”, sustentou.


Perto da zona desmilitarizada, há relatos de cidadãos sírios sobre a movimentação israelita nas suas terras. Denunciam ainda a existência de postos de controlo, prisões não autorizadas, invasões de moradias e fecho de estradas. Segundo a BBC, fotografias de jornalista sírio de 20 de janeiro mostravam camiões, retro-escavadoras e tratores na zona-tampão.

Por sua vez, Telavive diz que estas operações visam conter ameaças aos cidadãos israelitas. À BBC as IDF referiram que os "militares estão a operar no sul da Síria, dentro da zona-tampão e em pontos estratégicos para proteger os moradores do norte de Israel".

Planet Labs PBC

A Força de Observação da Separação das Nações Unidas (UNDOF - missão internacional de manutenção de paz colocada nos Montes Golã sírios desde 1974) adverte, por sua vez, que a construção israelita ao longo da Área de Separação com a Síria equivale a "violações graves" do acordo de cessar-fogo de 1974.

Inicialmente, Israel alegou que estas posições seriam temporárias. Porém, o histórico de anexações do Estado hebraico, associado à construção de bases em áreas no topo do Monte Hermon, já na Síria, pode deixar antever uma permanência prolongada.
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