Itália à procura de explicações para queda de ponte em Génova

por Raquel Ramalho Lopes - RTP
Minutos após o desabamento, o ministro italiano dos Transportes escrevia no Twitter que estava a “seguir com grande apreensão o que parecia ser uma tragédia imensa” Stefano Rellandini - Reuters

A queda parcial da Ponte Morandi, na Autoestrada 10, em Génova, fez dezenas de vítimas mortais. O governador da Ligúria já admitiu que os trabalhos de manutenção, efetuados há dois anos, foram insuficientes.

Chovia torrencialmente pelas 11h30 desta terça-feira em Génova (menos uma hora em Lisboa), no norte de Itália, quando cedeu um troço da estrutura, situada sobre uma empresa quase vazia devido à proximidade do feriado, a via férrea e o Rio Polcevera, nome pelo qual também é conhecido o viaduto.Um porta-voz da UNICEF confirma que entre as vítimas mortais está uma criança.

“Infelizmente, cerca de 30 pessoas morreram e muitas outras estão seriamente feridas”, declarava o vice-primeiro-ministro Matteo Salvini, citado pela agência AGI ao início da tarde.

O último balanço oficial das autoridades apontava, ao anoitecer, para 26 mortos. Todavia, a agência ANSA indicou, com base em fontes dos bombeiros, que podem ter morrido até 35 pessoas. Há ainda notícia de 15 feridos. O número de vítimas pode subir nas próximas horas, uma vez que, quando se deu o colapso, estavam em cima da ponte três camiões e 35 carros. Caíram de uma altura de 45 metros e ao longo de mais de 80 a 200 metros de comprimento.

“Esta ponte, pela qual passei centenas de vezes… Mas agora tudo farei para ter os nomes dos responsáveis passados e presentes. É inaceitável morrer assim em Itália”, afiançou Salvini, em conferência de imprensa na Sicília.

Minutos após o desabamento, o ministro italiano dos Transportes escrevia no Twitter que estava a “seguir com grande apreensão o que parecia ser uma tragédia imensa”.

Com um comprimento total de 1.182 metros, o viaduto atravessa um dos vales da cidade italiana de Génova, sobre estradas, linhas de comboio, casas, centros comerciais e o rio Polcevera. Após o acidente, os serviços de comboio foram interrompidos.

A Autoestrada 10, conhecida como “autoestrada das flores”, liga Génova a Vintimille, na fronteira com a França.Recados para Bruxelas
Horas após o acidente, o Governo italiano defendia o aumento do investimento para recuperar as infraestruturas, em vez dos aconselhados cortes por Bruxelas em nome da disciplina orçamental.

“Devemos perguntar-nos se respeitarmos estes limites é mais importante do que a segurança dos cidadãos italianos. Obviamente que para mim não é”, declarou o vice-primeiro-ministro Salvini, que é também líder da nacionalista Liga.

“Os factos trágicos em Génova lembram-nos dos investimentos públicos de que tanto precisamos”, completou o porta-voz económico da Liga, Claudio Borghi.

Com estes recado, o Governo italiano prepara-se para fazer lobby junto da Comissão Europeia para que o aumento dos investimentos públicos sejam excluídos dos cálculos da União Europeia do défice italiano.Trabalhos desconhecidos
Na altura do acidente, a base da também chamada Ponte Morandi, nome do arquiteto que a desenhou na década de 1960, estava a ser alvo de “obras de reforço”.

“O colapso foi inesperado e imprevisível. A ponte era constantemente monitorizada, até mais vezes do que o previsto na lei”, garante Stefano Marigliani, diretor para a área de Génova da empresa Autoestradas por Itália, concessionária da ponte que ruiu.

No entanto, o chefe da agência de proteção civil, Angelo Borrelli, disse não ter qualquer informação de que o viaduto estivesse a ser intervencionado.

O governador do noroeste da Ligúria já veio classificar a manutenção de insuficiente.

Uma parte central da Ponte Morandi, em Génova, Itália, desabou na manhã desta terça-feira durante uma tempestade. Há dezenas de vítimas mortais.


Ainda sobre a manutenção da ponte, o ministro dos Transportes conseguiu fazer a sua defesa, mas também uma forte crítica. “Estas tragédias não podem acontecer num país civilizado como a Itália. A manutenção é prioritária sobre tudo e os responsáveis devem pagar”, disse Danilo Toninelli, alinhando pelo diapasão do primeiro-ministro.

Em Génova, o seu vice-ministro Edoardo Rixi lembrava à SkyNews24 que os moradores “usam esta ponte duas vezes por dia. Não podemos viver com infraestruturas construídas na década de 1950 e 1960”.

Na bolsa de Milão, as ações do grupo Atlantia, dono da sociedade italiana de autoestradas e controlado pela família Benetton, caíram dez por cento logo após o desastre.

A empresa “Autoestradas por Italia expressa as suas condolências pelas vítimas do colapso do Viaduto Polcevera na Autoestrada 10… e agradece aos socorristas pelos seus extraordinários esforços”, reagiu em comunicado.

Ao mesmo tempo, o operador rodoviário anunciou que iria trabalhar com as autoridades para esclarecer as causas do desastre, encontrando-se também a ajuda a encontrar a maneira “mais rápida, eficiente e segura” de reconstruir o viaduto.Problemas estruturais
A estrutura em causa, inaugurada em 1967, foi alvo de remodelações em 2016.

Os problemas estruturais da ponte não são novidade. Um artigo publicado num site especializado em engenharia apontava para “dúvidas estruturais” antigas.

“O viaduto Morandi apresenta desde o início aspetos problemáticos”, analisa o engenheiro e professor da Universidade de Génova Antonio Brenchium.

Outros especialistas criticavam os onerosos custos de manutenção, defendendo a construção de uma nova ponte.
Mais de 200 bombeiros no local
“De repente, a ponte veio abaixo com tudo em cima. Foi realmente um cenário apocalíptico. Não queria acreditar nos meus olhos”, descreveu o motorista Alessandro Megna, que tinha estado pouco antes num engarrafamento por baixo da ponte que ruiu.

Ao Viaduto Polcevera acorreram 200 bombeiros, com cães, para tentar encontrar corpos e dar socorros aos que se encontravam sob os escombros da ponte e das viaturas. À espera estavam helicópteros que levavam os feridos para os hospitais.

“As primeiras vítimas da superfície foram evacuadas, agora ainda falta procurar sob os escombros, mas há milhares de toneladas de betão”, dizia à France Presse, a meio da tarde, o bombeiro francês Patrick Vilardry.

“A esperança nunca pára, já retirámos uma dúzia de pessoas dos escombros, vamos trabalhar 24 horas por dia até que a última vítima seja resgatada", contava mais tarde o chefe de bombeiros Emanuele Giffi, chegado do Piemonte.

O responsável por coordenar as buscas nas três áreas principais onde os destroços caíram avança que “há edifícios que foram atingidos, mas parece que todas as vítimas estavam na ponte".

A ministra da Defesa fez saber que o exército está pronto para ajudar e pode enviar viaturas para as operações.
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