Jantar tarde aumenta riscos de cancro

por RTP
Células cancerígenas são mostradas numa tela, na Alemanha Fabian Bimmer - Reuters

Um estudo desenvolvido por cientistas espanhóis e publicado esta terça-feira conclui que quem janta mais tarde tem mais probabilidade de ter cancro da mama ou da próstata.

A investigação desenvolvida por cientistas do Instituto de Saúde Global de Barcelona dá a conhecer que o horário das refeições está associado ao risco de cancro da mama e da próstata.

Segundo o estudo publicado no International Journal of Cancer, jantar antes das 21h, ou menos de duas horas antes de ir dormir, eleva em 25 por cento a percentagem de ser diagnosticado com cancro da mama e da próstata.Risco de cancro diminui com o aumento do intervalo entre o jantar e a hora de dormir

Acresce que aqueles que vão dormir duas ou mais horas após o jantar têm menos 20 por cento de risco de ter estes dois tipos de cancro.

O estudo utilizou uma amostra composta por 621 pessoas com cancro da próstata e 1205 com cancro da mama. Fizeram também parte da investigação 872 homens e 1321 mulheres não doentes.

Os cientistas espanhóis questionaram os participantes no estudo acerca do seu estilo de vida, padrões de sono e de refeições e hábitos alimentares.
Possíveis explicações
Os cientistas concluíram com o presente estudo que os inquiridos que sofriam de cancro tinham uma maior tendência para “petiscar” durante a noite. Verificaram também que os efeitos de um intervalo maior entre o jantar e a hora de ir dormir eram mais visíveis naqueles que sofriam de cancro da mama e da próstata, mas que seguiam recomendações de prevenção de cancro.

Os investigadores do Instituto de Saúde Global de Barcelona afirmam que os dados que apresentam podem ser um resultado de jantares tardios que forçam a aceleração do metabolismo, numa altura em que ele deveria estar a abrandar na hora de dormir.
Este é o primeiro estudo feito em seres humanos que mostra os efeitos na saúde relacionados com padrões de alimentação
Catherine Marinac, investigadora no Dana-Farber Cancer Institute, explica que os horários das refeições afetam os níveis de açúcar que, por sua vez, estão associados a doenças cancerígenas.

“Estudos baseados na população descobriram que pessoas que comem a uma hora avançada da noite apresentam taxas mais elevadas de obesidade e piores perfis metabólicos. E, em particular, verificamos que as pessoas que têm uma maior duração do jejum noturno, que implica menos refeições noturnas, têm um melhor controlo glicémico e menor risco de reincidência de cancro”, acrescenta Marinac, citada pela CNN.

No estudo explica-se que a mudança nos horários das refeições está associada aos níveis de leptina (hormona que regula o balanço energético), “com a sincronização de ritmos circadianos periféricos como níveis de glicose e inflamação sistémica”.

“A interrupção do relógio biológico e a redução da capacidade de processar glicose são possíveis fatores mecânicos que associam as refeições noturnas ao risco de cancro”, esclarece Catherine Marinac.

Ganesh Palapattu, chefe de oncologia urológica na Universidade de Medicina de Michigan, defende que existem muitas questões que não foram consideradas no estudo e que poderiam alterar os resultados. No entanto, não deixa de descrever as conclusões como “intrigantes”.

“Não somos apenas o que comemos. Somos como comemos e podemos muito bem ser quando comemos”, afirma Palapattu.
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