Japonesas repudiam declarações de político sobre "mulheres de conforto"
Tóquio, 15 mai (Lusa) - As mulheres da ilha japonesa de Okinawa, no sul, exigiram hoje um pedido de desculpas, depois de um político de Osaka ter sugerido que as tropas naquela zona tenham acesso à "indústria do sexo".
No princípio da semana, o presidente da câmara de Osaka (oeste), Toru Hashimoto, declarou que as "mulheres de conforto" - que a maioria dos historiadores concorda terem sido forçadas à escravidão sexual pelo exército imperial japonês durante a Segunda Guerra Mundial - desempenharam um "papel necessário" para manter as tropas na linha.
Num comunicado conjunto, 25 grupos de mulheres de Okinawa protestaram contra as declarações de Hashimoto e exigiram um pedido de desculpas e a retração das palavras do presidente da câmara de Osaka.
A indignação das mulheres de Okinawa surgiu na ocasião do 41.º aniversário do regresso da ilha à soberania do Japão, pondo fim à ocupação dos Estados Unidos, depois do fim da Segunda Guerra Mundial. A China e a Coreia do Sul também reagiram com fúria.
Cerca de 200.000 mulheres da Coreia, China, Filipinas e de outras zonas asiáticas foram obrigadas a prostituir-se em bordéis militares nos territórios ocupados pelo Japão durante a Segunda Guerra Mundial, de acordo com vários historiadores.
Para o presidente da câmara da principal cidade do oeste do país, as "mulheres de conforto" asiáticas obrigadas a prostituirem-se nos bordéis do exército nipónico durante a Segunda Guerra Mundial eram "uma necessidade".
O governo japonês distanciou-se desta afirmação.
"Quando os soldados arriscam a vida sob as metralhadoras e queremos dar-lhes repouso em algum lado, é evidente que precisamos de um sistema de mulheres de conforto", declarou, sem ambiguidades, na segunda-feira à noite Toru Hashimoto, perante todas as televisões japonesas.
Como no ano passado, quando o presidente da câmara da Nagoya (centro) questionou a ocorrência do massacre perpetrado em 1937, em Nankin (leste da China), pelas tropas japonesas (mais de 300.000 pessoas mortas, de acordo com dados oficiais chineses), as declarações de Hashimoto foram imediatamente condenadas em Seul e Pequim.
"Estamos profundamente dececionados por uma personalidade oficial defender estes crimes bárbaros", declarou na terça-feira uma porta-voz do ministério dos Negócios Estrangeiros sul-coreano.
"Chocados e furiosos", reagiu a porta-voz da diplomacia chinesa, Hong Lei. "Da forma como vê o seu passado, dependerá o futuro para o Japão", acrescentou na terça-feira.
As relações do Japão com a China e a Coreia do Sul continuam a ser profundamente marcadas pela ocupação japonesa da península coreana (1910-1945) e a eleição, em dezembro, de Shinzo Abe, considerado um nacionalista, não melhorou a situação.
O primeiro-ministro nipónico manifestou vontade de reformar a Constituição pacifista do arquipélago, que proíbe o recurso à guerra, e quer também rever a declaração oficial de 1995 sobre "os remorsos" do Japão.
Mas repetiu que o governo de Tóquio não pretende rever o reconhecimento do Japão dos sofrimentos infligidos aos povos da Ásia durante o último conflito mundial.