Jean-Marie Le Pen: "É preciso que Marine ganhe"

por Rosário Salgueiro

Em entrevista exclusiva à RTP, conduzida pela correspondente em Paris, Rosário Salgueiro, Jean-Marie Le Pen conta como foi expulso do partido que fundou em 1972 pela própria filha, a atual candidata Presidencial. As desavenças pessoais são no entanto colocadas de lado quando o assunto é a atual corrida ao Palácio do Eliseu.

Desde 2015 que pai e filha não se falam, mas o antigo líder da Frente Nacional, que esteve à frente do partido durante 39 anos e ocupa atualmente o lugar de Presidente honorário, coloca os atritos pessoais de lado.

"É preciso que Marine ganhe, porque Macron é o regresso do socialismo, é a continuação da política inaugurada por Hollande", diz o líder histórico.

Le Pen defende que o sistema está a tentar promover a candidatura de Emmanuel Macron "por todos os meios", um candidato que concorre como líder do movimento "En marche!" e que parte com a vantagem de ser desconhecido e de não ter inimigos.

"Na política, fazemos inimigos pelas posições que tomamos. Macron não tem posições", reitera Le Pen.

Sobre as acusações de que a líder da Frente Nacional é alvo pelo uso indevido de fundos do Parlamento Europeu para a criação de empregos fictícios, o líder histórico diz que "não existe um caso Le Pen", e que também o caso "Fillon" é uma invenção.

"Fazem tudo para que a esquerda continue no poder", considera Jean-Marie Le Pen.
"Decadência da Europa"
O apelido de Jean-Marie Le Pen confunde-se com a história da Frente Nacional, já que foi candidato presidencial pelo partido em cinco ocasiões. Em 2002, alcançou a segunda volta das eleições presidenciais, tendo sido derrotado por Jacques Chirac.

Agora, que as sondagens voltam a prever a passagem à segunda volta da candidata do partido de extrema-direita, o pai de Marine Le Pen diz que a ascensão do partido corresponde ao movimento de "decadência da França, que é também em parte a da Europa".

O velho continente é, na visão do antigo candidato presidencial, um continente "sobrepovoado" e que a sociedade francesa passa por uma "fase de decadência". Diz ainda que a França não precisa de imigrantes e refugiados no mercado de trabalho.

"Se há empregos em França, eles deviam estar destinados aos desempregados franceses. Se estamos a deixar entrar outras pessoas estamos a dar-lhes os lugares dos nossos trabalhadores, por um lado, e por outro a recebê-los como beneficiários, quando não temos capacidade para isso", argumenta.
"Até à minha morte"
Com 88 anos, o antigo dirigente e ex-soldado da legião francesa ainda não desistiu da vida política e promete continuar "até à morte, enquanto tiver forças e meios".

"Porque haveria de parar? (...) Quando temos uma missão de qualidade superior, quando temos um ideal, temos de o servir. Sobretudo quando sabemos que o nosso país corre um grande perigo. Não é altura de pousar as armas nem de calçar as pantufas. Por isso dormimos de botas calçadas", completa o líder histórico da Frente Nacional.
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