Johannes Kaiser promete `lei e ordem` e pode surpreender nas urnas
O candidato de extrema-direita chilena Johannes Kaiser encerrou a sua campanha a prometer militares nas ruas, a defesa da Constituição neoliberal do antigo ditador Pinochet e a expulsão dos imigrantes ilegais do país.
"Vamos levantar o Chile da situação na qual nos meteram. Linha dura e economia livre é a resposta", resumiu na quinta-feira o deputado, de 49 anos, que pode surpreender no próximo domingo e passar à segunda volta.
O candidato mais extremista destas eleições encerrou a campanha em Providencia, bairro de classe média da capital chilena, na presença de mais de cinco mil pessoas, muitas da periferia de Santiago do Chile, indicando que a promessa de "linha dura" contra a criminalidade também seduz a classe baixa chilena.
O casal Jacqueline e Fernando Muñoz, vindos de La Cisterna, na região metropolitana da capital chilena, estava entre os apoiantes, de bandeira chilena numa mão e na outra um cartaz: "Salvemos o Chile".
"Voto em Kaiser porque quero um país próspero e que termine com a delinquência. Voto na lei e na ordem para o nosso país. Acredito que Kaiser nos pode salvar e tirar o país das mãos dos delinquentes. O comunismo levou-nos a esta delinquência", desabafou a assistente dentária Jacqueline à Lusa, numa referência ao atual Presidente chileno, Gabriel Boric, cuja coligação do Governo escolheu como candidata a comunista Jeannette Jara.
"A única alternativa que temos para sair do que estamos a viver no Chile é a linha-dura contra os bandidos. Entraram muitos imigrantes ilegais a cometerem delitos. Precisamos de alguém que os cace e tire do país. Os nossos filhos já não saem tranquilos de casa. O tráfico de drogas está nas esquinas. As pessoas já entenderam que o comunismo não serve", afirmou, por sua vez, o comerciante Fernando.
No palco, com um discurso veemente, Johannes Kaiser aproveitou os apelos populares para endurecer as medidas contra os traficantes de droga para subir nas sondagens, que o colocam agora com possibilidade de passar à segunda volta.
"O tráfico de drogas, o terrorismo e o crime organizado têm um partido político: é o Partido Comunista que mantém relações com o regime da Venezuela", disse Kaiser, em referência à candidata comunista, líder nas sondagens.
Johannes Kaiser era um desconhecido até as mega manifestações populares de 2019 contra a desigualdade social atribuída à Constituição de 1980, do então ditador Augusto Pinochet (1973-1990). Conseguiu popularidade através de um canal na rede social YouTube e foi eleito deputado há dois anos pelo Partido Republicano, de José Antonio Kast, de extrema-direita.
No entanto, Kast moderou o discurso para ampliar a base eleitoral, levando Kaiser a formar, no ano passado, o Partido Nacional Libertário, inspirado no Presidente argentino, Javier Milei.
Assim, Kaiser tornou-se mais extremista do que Kast, já considerado de extrema-direita.
As sondagens no Chile só podem ser divulgadas até duas semanas antes das eleições e os últimos estudos indicaram que a comunista Jeannette Jara lidera, com cerca de 30%, as intenções de voto, Kast com 20% e Kaiser, em franca ascensão, estava tecnicamente empatado em terceiro lugar. Em quarto lugar, surgia a candidata da direita tradicional Evelyn Matthei.
Juntos, os três candidatos da direita, todos de famílias alemães, superam os 50% dos votos, indicando a vitória daquele que passar à segunda volta.
A consultoria AtlasIntel, por exemplo, apontou Jara com 33,2%, Kast com 16,8% e Kaiser também com 16,8%.
O extremista prometeu fechar as fronteiras com a Bolívia, expulsar os estrangeiros ilegais e construir "campos de recondução" na fronteira, bem como reformas do poder judiciário, do sistema processual e do Ministério Público para combater o crime, com a pena de morte para delitos de violação.
Indicou que vai indultar os polícias presos por reprimir violentamente as manifestações populares de 2019 e os presos por violação aos direitos humanos durante a ditadura (1973-1990) de Augusto Pinochet.
No terreno internacional, quer retirar o Chile de tratados "que limitam a soberania" como o Acordo de Paris e o Tribunal Interamericano de Direitos Humanos.
Na segunda-feira, no último debate eleitoral na televisão, prometeu "militares nas ruas", dando mais poder às Forças Armadas.
"Não vamos continuar como ratos de laboratório da comunidade internacional", avisou, no discurso de encerramento de campanha.
A apoiante Jacqueline concordou com a expulsão dos imigrantes irregulares.
"Anos atrás, chegaram imigrantes para trabalhar, mas agora, neste período, chegaram para cometer delitos e destruir. Nunca houve tanta delinquência no Chile como com este governo. Os que vieram para trabalhar devem continuar no país, mas os ilegais devem ser expulsos", defendeu.
"Kaiser é a garantia que temos de que a Constituição de 1980, que prevê um país ordenado, vai continuar", concluiu o marido Fernando Muñoz.