Jordânia recebe Bento XVI com apelo a diálogo entre muçulmanos e cristãos
O Rei Abdallah II da Jordânia exortou esta sexta-feira o Papa a abrir "um novo diálogo de compreensão e boa vontade" entre muçulmanos e cristãos. Na capital jordana, primeira escala de um périplo de oito dias pelo Médio Oriente, Bento XVI manifestou "profundo respeito pela comunidade muçulmana" e saudou o papel do Reino Hachemita em defesa da paz entre árabes e israelitas.
A liberdade religiosa, vincou o Papa, "é naturalmente um direito humano fundamental", pelo que a sua "esperança fervorosa" e as suas "orações" recaem sobre a necessidade de garantir que "o respeito pelos direitos inalienáveis e pela dignidade seja cada vez mais afirmado e defendido não apenas no Médio Oriente mas em todo o Mundo".
"A minha visita à Jordânia é uma feliz ocasião para exprimir o meu profundo respeito pela comunidade muçulmana", sublinhou o Papa, para logo referir a um dos pontos mais importantes do périplo, o processo de paz entre israelitas e palestinianos. A Jordânia, assinalou Bento XVI, "está há muito na vanguarda das iniciativas a favor da paz no Médio Oriente e no Mundo, encorajando o diálogo entre religiões".
"Ajudar a dissipar a sombra do conflito"
O diálogo entre cristãos e muçulmanos foi a nota dominante na primeira intervenção de Abdallah II ao lado do Papa. O Rei jordano alertou contra o recrudescimento do fundamentalismo, instando Bento XVI a desempenhar um papel mais activo na procura de uma solução para o conflito israelo-palestiniano.
"Hoje, juntos, devemos renovar o nosso compromisso para com o respeito mútuo. Aqui, agora, devemos criar um novo diálogo global de compreensão e de boa vontade", propugnou o monarca. Contra as "vozes da provocação", Abdallah II citou a ameaça de "ideologias ambiciosas de divisão" e dos consequentes "sofrimentos indizíveis". Um cenário que convoca as cúpulas religiosas a darem "um contributo importante na Terra Santa".
"Devemos, juntos, ajudar a dissipar a sombra do conflito através de uma solução negociada que responda aos direitos dos palestinianos e à liberdade e ao direito dos israelitas à segurança", frisou.
Horas antes, a bordo do avião que o transportou à Jordânia, o Papa havia soerguido o véu sobre o conteúdo dos discursos talhados para a missão no Médio Oriente, considerando o diálogo "trilateral" (entre judeus, cristãos e muçulmanos) "muito importante para a paz".
Irmãos Muçulmanos
Ainda no Aeroporto Internacional de Amman, Abdallah II garantiu a Bento XVI que a visita papal "é favoravelmente acolhida por todos os jordanos". Contudo, a primeira deslocação do sucessor de João Paulo II a um país árabe em quatro anos de pontificado é também o combustível de críticas entre alguns sectores do Islão. É o caso dos poderosos Irmãos Muçulmanos e do respectivo órgão político, a Frente de Acção Islâmica. Ambos afirmaram que Bento XVI "não é bem-vindo". A não ser que apresente desculpas pelas suas "declarações contra o Islão".
Na base dos protestos está ainda a memória da polémica suscitada por Bento XVI em 2006, quando o Papa estabeleceu um nexo entre a história do Islão e a violência armada. Com o acentuar das reacções adversas, o Sumo Pontífice viria a corrigir as suas afirmações, proferidas durante uma palestra na universidade alemã de Regensburg.
As autoridades jordanas não estão à espera de quaisquer manifestações organizadas por movimentos extremistas, mas implementaram um apertado dispositivo de segurança na capital do país. O aparato militar é visível nas principais artérias de Amman.
Após a cerimónia de recepção, a comitiva do Vaticano dirigiu-se ao centro de acolhimento de deficientes Regina Pacis, inaugurado em 2004. A instituição é gerida por voluntários cristãos e muçulmanos.
No sábado, Bento XVI reúne-se com clérigos e intelectuais muçulmanos na Mesquita Al-Hussein, visitando, mais tarde, ao bíblico Monte Nebo, onde Moisés teria morrido depois de contemplar a terra prometida. Para domingo está prevista uma missa no Estádio de Amman.
Telavive, em Israel, recebe a "peregrinação de paz" de Bento XVI na próxima segunda-feira.