Jornalíssimo

por João Fernando Ramos, Rui Sá

Uma startup norte-americana criou carne de frango e pato sem sacrificar nenhum animal. Quem provou diz que é deliciosa. A carne sintética leva à pergunta que todas as semanas é deixada aos mais novos em www.jornalissimo.com: Faz sentido produzir carne em laboratório? Imaginas-te a comer carne sintética?
Na edição desta semana desta rubrica Joana Fillol fala ainda dos rios que esta semana foram considerados "pessoas".

No espaço de uma semana, três rios foram considerados "pessoas". O primeiro foi o Whanganui, na Nova Zelândia. Depois foi a vez do Ganges e do Yamuna, na Índia.

Dia 16 de março, o povo nativo da Nova Zelânida conseguiu um feito pelo qual lutava há mais de cem anos (160, para sermos precisos): o Parlamento neozelandês reconheceu personalidade jurídica ao rio Whanganui.

Ou seja, o rio que, em Maori, é conhecido como 'Te Awa Tupua' passa a ter os mesmo direitos legais que tem um ser humano. Por exemplo, se os interesses do rio forem postos em causa, ele poderão ser defendidos em tribunal por advogados da tribo e do Governo, segundo a Globo.

Para os Maori, este rio - o terceiro mais longo da Nova Zelândia - não é um rio qualquer. O povo tem uma ligação espiritual muito forte com o rio. Venera-o. Como afirmou o representante do povo Maori, o deputado Adrian Rurawhe, citado pela BBC: "O bem-estar do rio está diretamente ligado ao bem-estar do povo e por isso é realmente importante que seja reconhecido com a sua própria identidade".

A nova lei estabelece que o rio é "uma entidade viva única que vai das montanhas ao mar, incorporando os seus afluentes e todos os seus componentes físicos e metafísicos".

Os Maori tiveram, ainda, outro motivo para celebrar. O Tribunal deu-lhes vitória numa ação judicial e atribuiu vários milhões de euros para serem aplicados no melhoramento do rio Whanganui.

O Ministro da Justiça da Nova Zelândia afirmou, na altura, que este reconhecimento de personalidade jurídica a um rio era "única". E foi. Mas apenas durante alguns dias. Já esta semana, um tribunal no norte da Índia concedeu também personalidade jurídica a dois rios sagrados para os hindus: o Ganges e o seu principal afluente, o rio Yamuna.

Na Índia, foram nomeados três guardiães legais destes rios que poderão agir para os proteger e salvaguardar os seus interesses.

Esta medida significa, também, que se alguém danificar o rio pode ser julgado.

Também na Índia, o papel destes dois rios no "sustento físico e espiritual" do povo Hindu, no seu bem-estar, foi sublinhado em Tribunal.

Para muitos, a decisão é uma esperança de que mais medidas sejam tomadas para proteger o Ganges, que apresenta elevadíssimos níveis de poluição.


Iremos comer carne sintética no futuro?


A história da companhia 'Memphis Meat' escreve-se assim: "Nós (os fundadores) adoramos carne. Mas, como a maioria das pessoas, não gostamos dos efeitos negativos que a produção convencional de carne implica: a destruição ambiental, as preocupações com o bem-estar animal, os riscos para a saúde".

São estas as razões que três empreendedores - um cardiologista, um biólogo especialista em células estaminais e um engenheiro biomédico - justificam para criar a empresa 'Memphis Meats', como se pode ler no site.

A 'Memphis Meats' anda por estes dias nas bocas do mundo porque acabou de apresentar - e de dar a provar a um painel de especialistas - a primeira carne de frango e de pato produzida sem sacrifício de animais. Em laboratório.

Em inglês este tipo de carne, criada a partir de células estaminais de animais, tem um nome: 'clean meat'. E esta "carne limpa" está mais próxima de chegar ao nosso prato do que talvez possas imaginar.

Esta não foi a primeira vez que se produziu carne de forma artificial. Já foi criada carne de vaca utilizando o mesmo método, por exemplo na Universidade de Maastricht, na Holanda, há quatro anos.

O que a 'Memphis Meats' pretende é transformar radicalmente a forma como a carne chega ao nosso prato, produzindo carne autêntica a partir de células estaminais de animais, evitando assim o abate dos mesmos.

Outra preocupação é poupar o ambiente: a meta da empresa é que o fabrico desta carne signifique emitir menos 90% de gases com efeitos de estufa e reduzir, na mesma percentagem, o gasto de água e de terra dedicada tradicionalmente à produção animal.

Os responsáveis pela empresa garantem que, além das preocupações ambientais, animais e de saúde pública, têm outra preocupação: a de que o sabor da carne seja delicioso.

Quem já provou a carne de frango e pato criada pela empresa de São Francisco (Califórnia) garante que ela é deliciosa.

"O pato era rico, saboroso, suculento", contou Emily Bird ao jornal inglês 'Telegraph'. Esta convidada para degustar a carne produzida pela 'Memphis Meats' disse, ainda, que "foi incrível estar a provar o melhor pato da minha vida e saber que ele foi produzido de uma forma astronomicamente melhor para o planeta, a saúde pública e os animais". Quanto ao frango o comentário foi este: "Sabe realmente àquilo que é".

Produzir este tipo de carne não é, no entanto, algo económico. Pelo menos de momento.

Segundo o jornal espanhol 'La Vanguardia' produzir meio quilo custa à 'Memphis Meats' cerca de 8300 euros. Mas, num ano, o custo já diminuiu para metade. E a empresa espera que, em 2021, os seus produtos cheguem ao mercado a um preço competitivo com o da carne tradicional.

Será que o objetivo temporal da empresa se vai concretizar? Difícil responder. Este é um setor novo, que precisa ainda de regulamentação. Além disso, poderá meter em crise um setor pesado da economia mundial, o da agropecuária.
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