José Genoíno demite-se da presidência do PT no Brasil

José Genoíno anunciou hoje a sua demissão da presidência do Partido dos Trabalhadores (PT), do presidente Lula da Silva, na sequência de um escândalo de corrupção que envolve vários dirigentes do partido.

Agência LUSA /

"Considero que não deveria continuar a presidir ao partido.

Faço isso com o sentimento do dever cumprido nos 30 meses em que estive à frente do PT. Sempre encarei isso com uma missão", disse José Genoíno, numa conferência de imprensa, em São Paulo.

O dirigente indicou ter decidido demitir-se depois de consultar as forças políticas do PT e em vista "das grandes dificuldades" vividas pelo partido.

"Tenho de colocar as minhas pretensões políticas em segundo plano", disse, ao salientar a "importância estratégica de Lula da Silva como promotor das mudanças" no Brasil.

A demissão foi anunciada no início da reunião da Direcção Nacional do PT, a instância máxima do partido, que está reunida em São Paulo para analisar a mais grave crise política desde o início do Governo de Lula da Silva, em Janeiro de 2003.

A demissão de José Genoíno ocorre na sequência de uma série de denúncias envolvendo os principais dirigentes do Partido dos Trabalhadores em suspeitas de corrupção.

O escândalo já levou a demissão do secretário-geral do PT, Sílvio Pereira, e do tesoureiro, Delúbio Soares.

O esquema de corrupção, tornado público nas últimas semanas pela imprensa brasileira, envolve a participação do publicitário Marcos Valério, ligado ao PT.

Marcos Valério, segundo as denúncias, utilizava parte dos recursos recebidos por serviços prestados a empresas públicas para pagar uma verba mensal - "mensalão" - a vários parlamentares.

Em troca do pagamento, os parlamentares passariam a apoiar os projectos enviados pelo Governo do presidente Lula da Silva.

Documentos oficiais comprovam que Marcos Valério foi avalista de pelo menos dois empréstimos do PT junto de bancos privados, no valor total de 1,8 milhões de euros (cinco milhões de reais).

Os empréstimos foram aprovados pelo então presidente do PT José Genoíno e pelo tesoureiro do partido Delúbio Soares, segundo documentos tornados públicos.

Na passada sexta-feira, um dirigente do PT foi detido ao tentar embarcar num aeroporto em São Paulo com 155 mil euros em dinheiro.

José Adalberto Vieira da Silva, secretário do PT no Estado do Ceará, na região Nordeste do Brasil, foi detido por polícias ao tentar embarcar num voo de São Paulo para Fortaleza.

O dirigente transportava 200 mil reais (70 mil euros) dentro de uma mala e o restante em notas de dólar presas ao corpo, quando foi detido e encaminhado para uma esquadra da polícia.

A legislação brasileira determina que, para transportar dólares no país, é preciso comprovar que a quantia foi obtida numa instituição autorizada.

José Adalberto Vieira da Silva trabalha para o irmão de José Genoíno, o deputado estadual pelo Ceará, José Nobre Guimarães.

A detenção do dirigente foi apontada por analistas políticos como a "gota d+água" que levou a demissão do presidente do PT.

A Direcção Nacional do PT deverá anunciar neste final de semana os substitutos para os dirigentes demitidos.

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