Juan Manuel Santos dedica Nobel da Paz a colombianos que sofreram com guerra

por Ana Sofia Rodrigues - RTP
“É um grande reconhecimento para o meu país. É com humildade que o recebo e estou eternamente grato”, sublinhou Juan Manuel Santos John Vizcaino - Reuters

Numa entrevista ao Comité norueguês, o Presidente da Colômbia veio dedicar o Prémio Nobel da Paz “ao povo colombiano que tanto sofreu” com a guerra de 52 anos. O líder das FARC afirmou, por sua vez, que o único prémio que ambiciona é a paz.

O laureado considerou ainda que o acordo de paz está “muito, muito próximo” de conquistar o seu objetivo, considerando que o Nobel representa um enorme encorajamento.

“É um grande reconhecimento para o meu país. É com humildade que o recebo e estou eternamente grato”, sublinhou Juan Manuel Santos.



Quando questionado sobre que mensagem gostava que a atribuição deste Nobel passasse, o Presidente da Colômbia respondeu que há agora que perseverar para chegar ao fim da guerra. “Estamos muito, muito próximos. Precisamos apenas de fazer um esforço mais, de perseverar. Este prémio vai ser um grande estímulo para conseguir o fim da guerra e começar a conclusão da Paz na Colômbia. Este prémio vai ser recebido pelo povo com emoção, especialmente pelas vítimas, pois é em nome delas que este prémio é atribuído”.

Juan Manuel Santos diz que o esforço tem sido agora o de trazer aqueles que não têm apoiado o acordo, considerando que a paz será mais forte e durável "se for apoiada por cada um dos colombianos".
“Este prémio é vosso”, garante Santos, numa nova declaração ao país. O presidente diz aceitar o Nobel em nome dos colombianos, das vítimas do conflito. “É pelas vítimas e para que não haja nem mais uma vítima, nem mais um morto”, sublinha o presidente.

Juan Manuel Santos dedicou o prémio Nobel a todos aqueles que contribuíram para o acordo de paz, aos negociadores de ambos as partes e tantas pessoas e instituições.

O Governo colombiano e as FARC selaram a 26 de setembro um acordo de paz para pôr fim a uma guerra que vitimou cerca de 220 mil pessoas. No passado domingo, os colombianos rejeitaram em referendo esse acordo.

O antigo Presidente colombiano Alvaro Uribe, que se tem apresentado contra o acordo de paz, já veio felicitar Juan Manuel Santos e, no Twitter, disse esperar que o Nobel permita “alterar os acordos nocivos para a democracia”.

Uribe fez campanha pelo “não no referendo”.
Líder das FARC diz que apenas quer a paz
A entrega do Nobel da Paz apenas a Juan Manuel Santos e não a outro interveniente do acordo de há um mês, as FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), tem vindo a levantar dúvidas e questões aos analistas.

Numa publicação na sua conta pessoal no Twitter, o líder das FARC, Rodrigo Londoño, mais conhecido como Timochenko, veio já dizer que “o único prémio a que aspiramos é a paz com justiça social para a Colômbia, sem paramilitarismo, sem retaliações ou mentiras”.
Vítimas dizem que Nobel “é para todos”
Fabiola Perdomo, uma das representantes das vítimas do conflito armado, saudou a entrega do Prémio Nobel da Paz ao Presidente colombiano.

“Este prémio é para todos, para as vítimas e para o país”, declarou Perdomo a uma rádio da Colômbia. O seu marido foi sequestrado em 2002 e morto cinco anos depois, pelas guerrilhas FARC.

“É um élan para o acordo” de paz, estimando que a “Colômbia merece-o” e que este prémio fica envolto em esperança.

Antiga refém das FARC durante seis anos, Ingrid Betancourt afirmou entretanto a uma televisão francesa que o Nobel deveria ter sido partilhando entre o presidente e as FARC. “É duro para mim dizê-lo, mas creio que sim”, que as FARC mereciam receber o prémio.

A ativista confessou estar satisfeita com a atribuição do Nobel, ainda assim considerando que também se trata de “um momento de reflexão para a Colômbia, de esperança de paz, de alegria de se dizer efetivamente que a paz não tem volta”.
ONU fala de enorme impulso à paz
O ainda secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, sublinhou que a atribuição do Nobel ao Presidente carrega “esperança e encorajamento” aos colombianos.

Esta atribuição, que acontece “num momento crucial, vem trazer esperança e um encorajamento necessários à população colombiana”, refere o secretário-geral em comunicado. Mesmo tendo em conta o “não” dos eleitores no referendo de domingo, Ban Ki-moon considera que o processo “foi longe de mais para voltar atrás agora”.

O porta-voz do alto comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos veio esta sexta-feira dizer que, apesar de não ser hábito fazer um comentário sobre a atribuição do prémio Nobel, considerava que “o alto comissário espera evidentemente que ele venha dar um enorme impulso ao processo de paz”.

As felicitações vieram igualmente do alto comissário para os Refugiados, Filippo Grandi, que veio dizer que o Nobel da Paz é o reconhecimento da “coragem política” de Juan Manuel Santos. “O que eu vi no terreno foi um compromisso extraordinário do Governo, das FARC, da sociedade civil”, afirmou.
“Colômbia merece a paz”
O presidente do Conselho da Europa, Donald Tusk também felicitou Juan Manuel Santos pelo prémio, considerando que o Nobel da Paz é um encorajamento à continuação dos esforços para levar a bom termo o “acordo histórico”.


Foi também através da rede social Twitter que o primeiro-ministro francês Manuel Valls veio saudar a entrega do Nobel ao presidente colombiano, considerando estar feliz por Juan Manuel Santos ter sido homenageado pelo seu combate pela reconciliação.

Presidente português promete apoio
O Chefe de Estado português, Marcelo Rebelo de Sousa, enviou esta sexta-feira, em seu nome pessoal e do povo português, uma mensagem de felicitações ao Presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, pela "merecida atribuição" do Prémio Nobel da Paz.

Na carta dirigida a Juan Manuel Santos, divulgada na página da Presidência da República na Internet, Marcelo Rebelo de Sousa considera que esta foi uma "merecida atribuição" do Nobel da Paz, "pela sua iniciativa e êxito no histórico acordo de paz alcançado na Colômbia, destinado a pôr termo a um conflito que durou mais de cinco décadas e que tanto sofrimento trouxe ao povo colombiano".

O Presidente da República manifesta a esperança de que o acordo de paz entre o Governo da Colômbia e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), entretanto rejeitado em referendo, "se concretize o mais rapidamente possível".

Marcelo Rebelo de Sousa reafirma nesta carta que Portugal quer "trabalhar lado a lado com a Colômbia na fase, não menos importante, que é a da implementação da paz" e "contribuirá com meios humanos e financeiros, tanto para a força de estabilização como para o fundo fiduciário, criados para o efeito".
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