Julgamento de Milosevic retomado com testemunho de jornalista alemão
O julgamento de Slobodan Milosevic continuou hoje no Tribunal Penal Internacional para a ex-Jugoslávia com o testemunho de um jornalista alemão, citado pela defesa a propósito do massacre de Racak em 1999 no Kosovo.
O massacre de 45 pessoas em Racak é uma das principais acusações da pasta do "Kosovo" do processo levantado contra o antigo presidente jugoslavo.
Os advogados oficiosos de Milosevic, nomeados contra a vontade do acusado, obtiveram um mês de suspensão do julgamento para alegadamente preparar a defesa, entretanto dificultada pela recusa de numerosas testemunhas em depor no tribunal e pela ausência de cooperação do "cliente".
O acusado sempre afirmou que Racak era uma toca de combatentes do Exército de Libertação do Kosovo (UCK) e que os corpos encontrados não eram de civis.
Franz Josef Hutsch, jornalista de investigação do semanário alemão Stern e de jornais diários alemães, explicou que tinha viajado até Racak em Janeiro de 1999 com William Walker, que na altura liderava a missão de verificação no Kosovo da Organização para a segurança e a cooperação na Europa (OSCE) destinada a vigiar a aplicação do cessar-fogo.
Além de contar que tinham descoberto numa ravina perto de Racak uma pilha de cadáveres e que posteriormente William Walker tinha precisado que era composta por 45 corpos, Hutsch assegurou que uma centena de combatentes do UCK estavam na cidade e arredores na altura da visita, indo assim no sentido da defesa.
O jornalista também afirmou que as forças rebeldes albanesas no Kosovo tinham uma estrutura própria de um exército, organizavam-se por brigadas e atacavam as vias ferroviárias mais importantes.
Além de albaneses, o UCK integrava "entre 80 e 120 oficiais, mercenários, recrutados do exército muçulmano bósnio e treinados na Turquia", referiu o jornalista. O testemunho deverá continuar durante a tarde.
Slobodan Milosevic é acusado de ser um dos principais responsáveis pelos três grandes conflitos que despedaçaram a ex- Jugoslávia e que provocaram mais de 200 mil mortos, nomeadamente, o da Croácia (1991-1995), o da Bósnia-Herzegovina (1992-1995) e o do Kosovo (1998-1999).
Acusado de genocídio, de crimes contra a humanidade e de guerra, Slobodan Milosevic arrisca-se a ser condenado a prisão perpétua.