Justiça de Madagáscar confirma prisão de detrator de chá milagroso

por Lusa

O líder da oposição de Madagáscar Harry Laurent Rahajason, preso há 10 meses, viu hoje confirmada a sua sentença de cumplicidade na organização de uma manifestação não autorizada contra uma cura milagrosa da covid-19, promovida pelo chefe de Estado.

"A sentença de 44 meses de prisão do meu irmão acaba de ser confirmada pelo tribunal de recurso de Antananarivo", disse Bodo Fabre, a irmã do antigo ministro das Comunicações, acusando os juízes de parcialidade.

Os advogados de Rahajason tinham descrito o julgamento como um acerto de contas político. "Quando a política entra no tribunal, a justiça sai", disse o advogado Erick Rafidison, apelando à libertação do seu cliente.

Muitos médicos criticaram um chá à base de artemísia, chamado Covid Organics, apresentado como uma cura milagrosa pelo Presidente Andry Rajoelina. Um destes médicos, Berija Ravelomanantsoa, foi preso por ter criticado o chá de ervas na rede social Facebook.

Em 13 de julho de 2020, dois jovens desfraldaram uma faixa numa estrada movimentada da capital, exigindo a libertação do médico. Quando interrogado, um deles terá indicado Rahajason como o instigador desta operação, o qual acabou por ser preso três dias depois.

Na audiência, esta testemunha voltou atrás com as suas acusações. O antigo ministro, de cabelo branco, visivelmente abalado pelos primeiros meses de detenção, disse que não conhecia os manifestantes.

"Sou jornalista por formação. Tenho duas estações de rádio (...). Porque deveria pagar hoje aos jovens para pedir a libertação de alguém que nem sequer conheço", questionou.

O tribunal de recurso, contudo, confirmou a culpa do ministro do ex-Presidente Hery Rajaonarimampianona (2014-2018), por cumplicidade na organização desta manifestação.

"A liberdade de expressão e opinião são garantidas pela Constituição em Madagáscar", recordou o advogado de defesa durante a audiência.

Os advogados franceses do antigo ministro, William Bourdon e Amélie Lefebvre, disseram em fevereiro que tinham encaminhado o caso para o Comité dos Direitos Humanos das Nações Unidas.

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