Kiev anuncia "corredores temporários" no Mar Negro para exportação de cereais

As Forças Navais da Ucrânia anunciaram, esta quinta-feira, que há novos "corredores temporários" no Mar Negro para permitir o transporte de cereais, apesar de a Rússia ter ameaçado que os navios poderiam ser alvo das forças de Moscovo. Estas rotas vão permitir, numa fase inicial, a saída das embarcações que estão bloqueadas nos portos ucranianos de Chornomorsk, Odessa e Pivdenny, desde o início da invasão russa.

Inês Moreira Santos - RTP /
Sergey Dolzhenko - Reuters

“Foram anunciados corredores temporários para os navios comerciais que entram e saem dos portos marítimos ucranianos no Mar Negro”, anunciou a Marinha ucraniana num comunicado.

Estes corredores temporários estão abertos desde a meia-noite desta quinta-feira, segundo confirmou à AFP o porta-voz da marinha ucraniana, Oleg Tchalyk. No entanto, não há informação sobre quanto tempo estas rotas estarão a funcionar.

De acordo com a nota, Kiev propôs estas novas rotas à Organização Marítimas Internacional, que reconheceu que a Ucrânia tem direito à livre navegação comercial garantido pelo Direito marítimo internacional. Contudo, a ameaça militar da Rússia permanece ao longo de todos os corredores agora abertos, podendo passar apenas as embarcações que confirmem oficialmente que têm condições para navegar.

"O corredor será muito transparente, vamos colocar câmaras nos navios e haverá uma transmissão para mostrar que esta é uma missão puramente humanitária e não tem propósito militar", explicou ainda Oleh Chalyk, porta-voz da marinha ucraniana.

Os navios ucranianos que exportam cereais, continuou, “não representam qualquer ameaça militar”.

Não foi imediatamente esclarecido se algum navio já tinha deixado a costa ucraniana nem se estas novas rotas foram acordadas com Moscovo.
Cereais bloqueados nos portos ucranianos

Recorde-se que em meados de julho, a Rússia pôs termo ao acordo que permitia a saída de cereais ucranianos dos portos do sul do país desde o verão passado. Os cereais estavam retidos nos portos devido ao bloqueio imposto por Moscovo, no âmbito da guerra que iniciou contra o país vizinho em 24 de fevereiro de 2022.

A 19 de julho, Moscovo avisou que qualquer navio que usasse os portos ucranianos seria considerado um alvo potencial. Kiev reagiu no dia seguinte, dizendo que o mesmo se aplicaria aos navios russos.

Desde então, o número de ataques no Mar Negro aumentou de ambos os lados, e o exército russo atacou várias vezes Odessa, um importante porto no sul da Ucrânia, bem como os portos fluviais de Izmaïl e Reni.

Para Kiev estes ataques são uma forma de Moscovo dificultar as exportações de cereais. De facto, as perturbações nas exportações de cereais e outros produtos agrícolas provocadas pela guerra fizeram recear uma situação de insegurança a nível global.

A Organização das Nações Unidas tem alertado para o risco de a decisão da Rússia de pôr termo ao acordo piorar a crise alimentar global, prejudicando ainda mais os países pobres, ao manter os cereais de um dos maiores exportadores do mundo fora do mercado.

Moscovo afirma, por seu lado, regressará ao acordo apenas se receber melhores condições para as próprias exportações de alimentos e fertilizantes. O presidente turco, Tayyip Erdogan, mediador do acordo à semelhança da ONU, diz que espera persuadir o presidente russo, Vladimir Putin, a voltar às negociações neste mês.

"Acho que não será exagero dizer que o presidente Erdogan é provavelmente o único homem no mundo que pode convencer o presidente Putin a regressar ao Acordo de Cereais do Mar Negro", disse o ministro dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia, Dmitro Kuleba, à Reuters esta quinta-feira.
PUB