Kim Jong-un presta raro tributo a soldados norte-coreanos mortos na Ucrânia

Kim Jong-un prestou homenagem aos soldados norte-coreanos mortos durante a guerra entre a Rússia e a Ucrânia, pousando as mãos sobre os caixões repatriados, num raro reconhecimento público de que as suas Forças Armadas sofreram baixas no conflito.

Cristina Sambado - RTP /
Imagens mostram Kim em frente a uma fila de meia dúzia de caixões cobertos com a bandeira da Coreia do Norte pousando brevemente com as duas mãos sobre as urnas KRT via Reuters

As fotografias mostram o líder norte-coreano em frente a uma fila de meia dúzia de caixões cobertos com a bandeira do país e pousando brevemente as duas mãos sobre as urnas. Foram exibidas num ecrã durante um espetáculo de gala realizado no domingo para assinalar o primeiro aniversário de um tratado militar entre a Coreia do Norte e a Rússia.

O evento, que decorreu no Grande Teatro de Pyongyang Oriental, combinou atuações de artistas norte-coreanos e russos com imagens que celebravam o pacto de defesa mútua acordado entre Kim e o presidente russo, Vladimir Putin, em Pyongyang, em junho do ano passado.

As cenas que mostravam Kim e os restos mortais dos soldados mortos seguiam-se às de tropas de ambos os países agitando as suas bandeiras nacionais. Uma das imagens mostrava as páginas de um caderno manchado de sangue, que se crê ter pertencido a um soldado norte-coreano, retirado de um campo de batalha na região russa de Kursk.
Segundo a agência sul-coreana Yonhap, as mensagens no caderno eram as seguintes: “O momento decisivo chegou finalmente” e “Lutemos corajosamente nesta batalha sagrada com o amor e a confiança ilimitados que nos foram concedidos pelo nosso querido Comandante Supremo” - uma referência a Kim. 
A cena seguiu-se a imagens de soldados norte-coreanos e russos agitando as suas bandeiras nacionais com notas patrióticas escritas em coreano. O líder norte-coreano aparece nas fotos aparentemente dominado pela emoção e os membros da audiência a enxugar as lágrimas.

As imagens da gala transmitidas pela televisão estatal norte-coreana KRT mostram Kim, que por vezes parecia emocionado, sentado ao lado da sua convidada, a ministra russa da Cultura, Olga Lyubimova, e da sua filha, Kim Ju-ae. 

A atuação foi recebida com entusiasmo por inspirar confiança nos "laços de amizade e na genuína obrigação internacionalista entre os povos e os exércitos dos dois países que foram forjados à custa de sangue", afirmou a agência de notícias KCNA.

Não é percetível quando se realizou a cerimónia de repatriamento. Kim e outros funcionários, incluindo a sua irmã influente, Kim Yo-jong, e o ministro dos Negócios Estrangeiros, Choe Son-hui, vestem roupas de inverno, o que sugere que os restos mortais dos soldados podem ter sido devolvidos a Pyongyang há vários meses.

Segundo o jornal de Seul Korea Herald, esta foi a primeira vez que os meios de comunicação social estatais mostraram imagens e fotografias aos cidadãos norte-coreanos dos soldados enviados para a Rússia.

A agência noticiosa estatal KCNA afirmou que o evento inspirou confiança nos “laços de amizade e na genuína obrigação internacionalista entre os povos e os exércitos dos dois países, que foram forjados à custa de sangue”.Um ano do tratado de parceria estratégica
Kim e Putin assinaram o tratado de parceria estratégica em junho do ano passado em Pyongyang. O tratado inclui um pacto de defesa mútua.

Após meses de silêncio, os dois países revelaram o destacamento de tropas norte-coreanas e elogiaram o papel “heroico” que desempenharam na ofensiva de Moscovo contra a Ucrânia para recuperar a região de Kursk, no oeste da Rússia.
Pyongyang negou, durante vários meses, que soldados norte-coreanos tivessem sido enviados para combater ao lado das forças russas, o regime está agora a tentar dar uma imagem positiva do seu envolvimento no conflito da Ucrânia. 
“A Coreia do Norte quis provavelmente enquadrar os soldados mortos não apenas como sacrifícios, mas como parte de uma narrativa de vitória”, disse Hong Min, investigador do Instituto Coreano para a Unificação Nacional, à Yonhap.

Em abril, Putin e Kim confirmaram pela primeira vez que as tropas norte-coreanas tinham sido enviadas para o terreno, tendo ambos os líderes descrito os militares como “heróis”.

Na altura, Kim disse que seria construído um monumento em Pyongyang para homenagear os seus soldados e que seriam colocadas flores junto às lápides dos que tinham morrido - vista como a primeira confirmação pública pelo regime de que as suas tropas tinham sido mortas em combate.

A Coreia do Norte enviou cerca de 15 mil soldados para combater na guerra desde o outono passado. Sofreu cerca de 4.700 baixas, incluindo 600 mortes, afirmou Seul em abril. Já a agência de informação sul-coreana afirmou recentemente que poderiam ser enviadas mais tropas em julho ou agosto.


A Coreia do Norte também forneceu à Rússia grandes quantidades de munições, cartuchos de artilharia, mísseis balísticos e outras armas, alegadamente em troca de tecnologia de armamento e de satélites e de assistência económica e de outro tipo por parte do Kremlin.

c/ agências
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