Kuomintang regressa ao poder em Taiwan com promessa de aproximação à China

O candidato do Partido Nacionalista, Ma Ying-jeou, venceu por larga margem as eleições presidenciais em Taiwan. Após oito anos na Oposição, o Kuomintang retorna ao poder com a promessa de reatar os laços económicos e comerciais com a China.

Carlos Santos Neves, RTP /
"Manterei o diálogo com a China sobre numerosos assuntos, mas garantirei a identidade de Taiwan e a sua segurança", afirmou Ma Ying-jeou Eddie Cheng, EPA

Depois de oito anos de governação do Partido Democrático Progressista, sob a liderança de Chen Shui-bian, Taiwan abre agora caminho a uma mudança de rumo na política regional. Uma inflexão que a História poderá vir a descrever como um primeiro capítulo da reunificação com a China. Isto apesar de o candidato do Kuomintang garantir que vai manter a independência política face a Pequim.

No discurso de vitória, Ma Ying-jeou, de 57 anos, prometeu fazer do seu futuro mandato um ciclo de mudança e de assunção de responsabilidades.

“É uma vitória para a população que espera uma mudança, uma política de abertura e de reformas”, afirmou o até agora presidente da Câmara de Taipe, perante milhares de apoiantes concentrados na sede de campanha do Kuomintang.

A ascensão de Ying-jeou – doutorado em Direito pela Universidade de Harvard – à Presidência de Taiwan acontece na esteira da vitória do Kuomintang nas eleições legislativas de Janeiro. No desenho do novo Parlamento, os nacionalistas ocupam 81 dos 113 assentos.

De acordo com os resultados definitivos das presidenciais, Ma Ying-jeou obteve 58,45 por cento dos votos, contra 41,55 por cento do candidato do Partido Democrático Progressista, Frank Hsieh.

O Presidente pró-independentista Chen Shui-ban, cujo mandato fica marcado por uma política de desafio sistemático a Pequim e de reforço dos laços com os Estados Unidos, deixará o cargo a 20 de Maio. Sairá de cena fragilizado por uma impopularidade galopante e acossado pela justiça, que já inculpou a sua mulher por corrupção.

”Acordo de paz”

Sem deixar cair por completo a insígnia da “separação política”, o candidato do Kuomintang não escondeu, ao longo da campanha eleitoral, os seus projectos de reaproximação, propondo mesmo um “acordo de paz” com a República Popular da China que ponha termo a um conflito que perdura desde 1949, ano em que Taiwan declarou a independência, ao cabo de uma guerra civil.

No domínio da economia, o Kuomintang de Ma Ying-jeou traça como prioridade a criação de “um mercado comum com o grande vizinho” e o restabelecimento de voos directos e ligações marítimas no estreito da Formosa.

No discurso de vitória, o futuro Presidente procurou, uma vez mais, apaziguar os receios dos adversários da reunificação: “Queremos normalizar as relações comerciais com a China. Manterei o diálogo com a China sobre numerosos assuntos, mas garantirei a identidade de Taiwan e a sua segurança”.

O eleitorado foi também convocado às urnas para se pronunciar sobre dois referendos relativos à adesão da ilha à ONU. O primeiro referendo, promovido pelo Partido Democrático Progressista, pretendia auscultar os eleitores sobre a adesão às Nações Unidas com a designação de Taiwan. A segunda consulta popular, proposta pelo Kuomintang, perguntava se o território deveria aderir às Nações Unidas e, nesse caso, qual a denominação.

Em 1971, a República da China (designação oficial de Taiwan) perdeu o seu lugar nas Nações Unidas para a República Popular da China. Pequim bloqueou, desde então, todas as iniciativas de Taiwan para retornar ao seio da ONU.

Ambos os referendos foram largamente ignorados pelo eleitorado e não reuniram uma participação suficiente para poderem ser validados.
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