Laboratório militar britânico sem provas da origem do agente neurotóxico usado contra Skripal

por RTP
Inspetores da Organização para a Proibição de Armas Químicas (OPCW) chegam a Salisbury, Grã-Bretanha, em 21 de março, 2018, para analisar local do ataque com um agente neurotóxico contra o ex-espião duplo Sergei Skripal. Peter Nicholls - Reuters

O centro de análises da Defesa do Reino Unido não provou que o agente neurotóxico usado para envenenar o espião duplo Sergei Skripal foi produzido na Rússia, afirmou esta terça-feira à televisão Sky News o diretor do laboratório militar de pesquisas.

“Fomos capazes de o identificar como sendo novichok, e de o identificar como um agente de nervos de série militar”, disse Gary Aitken, diretor executivo do Laboratório de Ciência de Tecnologia de Defesa em Porton Down, de Inglaterra.

“Não identificámos a origem precisa, mas demos a informação científica ao Governo, que tem usado diversas outras fontes para chegar às conclusões” que tirou, acrescentou Aitken.

Londres aponta o dedo a Moscovo, acusando a Rússia de estar por trás do envenenamento do ex-espião duplo Sergei Skripal e da filha, na cidade de Salisbury, em Inglaterra, dia 4 de março.  Moscovo tem negado a autoria do ataque e exigido a Londres que lhe remeta amostras do agente utilizado, para as analisar.

Apesar do laboratório militar britânico não ter provado a origem do Novichok, Aitken garantiu que este foi produzido por um "Estado".

Estabelecer a origem do agente requer "outros contributos", esclareceu, alguns deles baseados em informações confidenciais a que o Governo britânico tem acesso.

"O nosso trabalho é providenciar as provas científicas de que agente de nervos se trata em particular, identificámos que pertence a esta família específica e que é de variante militar, mas não é nossa função dizer onde foi produzido", explicou Aitken.

O responsável adiantou que a substância requer "métodos extremamente sofisticados para ser criada, capacidades só possuídas por um Estado". Disse ainda que não há um antídoto conhecido para o novichok.
Novichok não é britânico
O diretor do Laboratório de Porton Down não avançou dados sobre se ali se desenvolvem ou mantêm armazenadas reservas de novichok, mas afastou sugestões de que a substância usada para envenenar os Skripal tenha tido ali origem.

"Não há possibilidade de algo como aquilo ter origem em nós ou ter saído das quatro paredes do nosso laboratório", garantiu.  Serguei Skripal, de 66 anos, e a filha, Yulia, de 33, foram encontrados inconscientes num banco perto de um centro comercial em Salisbury, sul de Inglaterra. Ambos foram internados em estado grave e terão sofrido extensos danos neurológicos.

As acusações de Londres e a negação de Moscovo desencadearam uma crise diplomática entre o Ocidente e a Rússia, com dezenas de países a expulsarem diplomatas russos e a Rússia a responder de forma recíproca.

No total já foram expulsos cerca de 300 diplomatas.

Portugal chamou o seu embaixador em Moscovo, mas não expulsou nenhum dos cerca de 20 diplomatas que a Rússia colocou em Lisboa.

Em entrevista à Lusa esta segunda-feira, o embaixador russo na capital portuguesa afirmou que “entende” a decisão portuguesa mas avisou que, em caso de alguma futura expulsão, Moscovo irá retaliar contra Lisboa.
Rússia acusa Londres de estar por trás do ataque
Para quarta-feira de manhã, está prevista em Haia uma reunião da Organização para a Proibição de Armas Químicas (OPCW), que investigam as alegações de Londres de que a autoria do ataque foi russa.Os inspetores da OPCW têm estado desde 21 de março a analisar o local onde decorreu o ataque. Retiraram amostras para tentar determinar o agente utilizado e a sua origem.

Numa carta, o embaixador russo junto da OPCW, Alexander Shulgin, pediu que a reunião decorra "num ambiente confidencial".

O vice-ministro dos Negócios Estrangeiros, Alexander Grushko, disse esta terça-feira que o envenenamento pode ter sido organizado pelo próprio Reino Unido, para justificar um aumento das despesas militares.

Em comentários reproduzidos por agências russas de notícias, Grushko disse que as tentativas de assassínio podem ter sido "organizadas" pelo Reino Unido porque "este precisa de um grande inimigo".

A Rússia "insiste" por outro lado em ter acesso a Yulia Skripal, que estará consciente e capaz de falar desde a semana passada, assim como a Sergei, que continuará sem responder.

O Governo britânico respondeu que está a analisar a legalidade do pedido russo e igualmente a estudar "os direitos e desejos" da mulher de 33 anos.
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