"Lançamento de míssil": a mensagem que avisou os japoneses

por Sandra Salvado - RTP
Reuters

O Governo japonês já testou um sistema capaz de emitir alertas quando o país está a ser alvo de um possível ataque. Chama-se J-Alert - Sistema de Informação de Emergência - e foi utilizado pelo Governo nipónico, esta segunda-feira, quando a Coreia do Norte lançou um míssil em direção ao território japonês.

Ai Onodera estava a dormir profundamente em Hokkaido, no norte do Japão, esta terça-feira, quando um alarme no seu telemóvel a acordou de repente, às 6:02 da manhã: “Lançamento de míssil. Lançamento de míssil. A Coreia do Norte lançou um míssil. Abrigue-se num edifício sólido ou subterrâneo”.

Quatro minutos antes, às 5h58 da manhã, a Coreia do Norte lançou um míssil balístico que sobrevoou o Japão, o que não acontecia desde 2009, e estava a dirigir-se em direção às principais ilhas, no Norte do Japão.

Três minutos após o lançamento, o primeiro-ministro, Shinzo Abe, ordenou aos funcionários que se reunissem e analisassem as informações que chegavam sobre o lançamento. Um minuto depois, o Governo enviou um alerta no seu sistema nacional, informando os residentes do Norte do país, incluindo Onodera, sobre a ameaça do míssil.

Em declarações à Reuters, e completamente em pânico, Onodera conta que ligou a televisão. Todos os canais estavam a exibir informações com o mesmo aviso. Rapidamente, Onodera ligou ao seu marido, que estava numa viagem de negócios. “Estava aterrorizada que não o pudesse voltar a ver”, disse a mulher de 33 anos residente em Sapporo.

Em 2007, a Agência de Gestão de Incêndios e Catástrofes lançou este sistema baseado num satélite que permite às autoridades locais transmitir mensagens de alerta diretamente aos meios de comunicação social e aos cidadãos.


No Japão, o sistema só ganhou um novo impulso quando a Coreia do Norte fez um teste com míssil, em fevereiro deste ano.

O objetivo é que a informação transmitida, antecipadamente, acelere os tempos de evacuação e ajude a coordenar a resposta de emergência, caso seja necessário.

Assim que foi detetado que um míssil poderia ser lançado pela Coreia do Norte sobre o Japão, o Governo japonês emitiu informações de emergência para os governos locais através do J-Alert.

As informações são transmitidas pela Secretaria-Geral do Governo japonês, através do sistema da Agência de Gestão Incêndios e Catástrofes. Todas as cidades transmitem uma “sirene” de alerta e, logo em seguida, surgem outras informações e orientações à população.

O alerta é também divulgado às três maiores operadoras de telemóveis do país: KDDI Au, NTT Docomo e Softbank.


A população é imediatamente informada com uma mensagem no telemóvel. Em caso de ataque com mísseis, a primeira informação transmitida é sobre a confirmação do lançamento do projétil pelo país vizinho. Logo depois, sobre o aviso de passagem do míssil e, no caso de queda no território, um alerta de evacuação ou alerta para a população se refugiar num edifício sólido.

Apenas alguns minutos depois do primeiro aviso, às 06h06, o míssil entrou no espaço aéreo de Hokkaido, de acordo com um comunicado do Governo divulgado pouco depois. Às 6h07, o míssil - que voava a cerca de 12 mil quilómetros por hora e a uma altitude máxima de 550 quilómetros – atravessou a ilha, em direção do mar.
População não sabia o que fazer
Em diversas cidades do Norte, as sirenes soaram e os altifalantes alertaram os residentes para tomarem precauções. Alguns saíram de suas casas enquanto outros confessam que não tinham a mínima ideia do que deveriam fazer.

Algumas pessoas que ainda vivem em casas temporárias, após o terramoto e tsunami de março de 2011, questionaram nas redes sociais: “O que é que eles querem dizer com edifícios sólidos? Nós não temos nenhum.”

“Sentimo-nos impotentes ao saber que não há nada que possamos fazer, mesmo enquanto o míssil passa pelos céus do Japão”, afirmou à Reuters Hiroaki Kumasaka, de 38 anos, que trabalha numa editora e estava na estação de Tóquio para uma viagem de negócios. E acrescentou que enviou uma mensagem à família a dizer: “O Japão já não é seguro”.

Nas últimas semanas, a Coreia do Norte lançou vários mísseis em direção ao Japão, mas a maioria deles caiu no Mar do Japão, na zona oeste do país. As crescentes ameaças levaram a que várias cidades costeiras na principal ilha japonesa de Honshu executassem exercícios de mísseis.
 
Hokkaido, uma ilha com 5,5 milhões de habitantes, conhecida pelos resorts de esqui, marisco, cerveja e batatas, estava a planear, para sexta-feira, o que parecia ser o primeiro exercício.


Às 6h12, cerca de 14 minutos depois do lançamento perto da capital da Coreia do Norte, em Pyongyang, o míssil caiu no Oceano Pacífico a 1180 quilómetros a leste do Cabo de Erimo.

O alerta da Agência de Gestão de Incêndios e Catástrofes de que o míssil tinha passado por cima de Hokkaido foi enviado dois minutos depois.

Andrew Kaz, um americano de 24 anos, que trabalha como professor assistente de línguas na parte oriental de Hokkaido, em Kushiro, disse que estava preocupado com a potencial resposta do Japão e dos Estados Unidos.

“Eu sei que isto já aconteceu anteriormente mas sinto-me pequeno e sem rumo”, afirmou à Reuters. “Parece que está tudo igual, mas dá para ver que as pessoas estão abaladas”.

Atualmente, sempre que o regime de Pyongyang realiza um teste com projéteis, o sistema J-Alert notifica os Governos municipais, caso a trajetória dos mísseis implique que estes possam atingir território nipónico.


c/agências
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