Le Monde denuncia "expulsão encoberta" do correspondente em Moscovo

O jornal francês Le Monde denunciou esta quarta-feira a "expulsão encoberta" do seu correspondente em Moscovo, Benjamin Quénelle, cuja acreditação foi revogada após ter sido suspensa durante quatro meses.

RTP /
Hans Lucas via AFP

“Pela primeira vez desde 1957, o Le Monde está impedido de manter um correspondente em Moscovo”. É assim que começa o artigo do diretor do jornal, Jerome Fenoglio, onde denuncia em francês mas também em russo esta “decisão arbitrária” que constitui “um novo obstáculo à liberdade de informação”, num país onde “jornalistas independentes russos trabalham em condições cada vez mais difíceis”.

O diretor do diário francês destaca ainda que esta decisão “não tem precedentes”, nem mesmo nos tempos da União Soviética.

“Mesmo nos momentos mais tensos da Guerra Fria, o Le Monde continuou o seu trabalho em Moscovo e noutros locais, fazendo investigações e reportagens para contar e explicar a realidade e complexidades deste país-continente”, sublinha Jerome Fenoglio.

Segundo o diretor do jornal, o jornalista Benjamin Quénelle passou mais de vinte anos ininterruptos a trabalhar na Rússia, primeiro para os jornais La Croix e Les Echos e depois para o Le Monde.

Depois de ter visto a sua acreditação de imprensa suspensa há quatro meses, o jornalista “acaba de ser notificado pelas autoridades russas do cancelamento deste documento, o que equivale, efetivamente, a proibi-lo de exercer a sua profissão de correspondente na capital russa e em todo o país”, adianta o diretor no mesmo artigo.

Jerome Fenoglio acrescentou ainda que o MNE russo reconheceu, nas discussões que teve com a diplomacia francesa, que esta proibição é “uma medida de retaliação após a recusa de Paris em emitir um visto de imprensa a alegados jornalistas do diário Komsomolskaya Pravda, conhecido por ser próximo do Kremlin”.

“Instamos as autoridades russas a reverter esta decisão, que foi ditada por considerações que nada têm a ver com a nossa publicação”, destacou o diretor do jornal Le Monde.

Fenoglio assegura a “absoluta determinação” do diário francês em continuar a publicar “notícias políticas, económicas e sociais da Rússia”, considerando que é “mais importante do que nunca” acompanhar o que se passa no país “com informações fiáveis, aprofundadas e independentes”.
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