Legado do ativista Steve Biko permanece vivo quase meio século após a sua morte
Quase 50 anos após a morte do ativista negro `anti-apartheid` Steve Biko, que se assinala na sexta-feira, o seu legado, que defende a autovalorização e o empoderamento das pessoas negras, permanece vivo.
Stephen Bantu Biko nasceu na África do Sul a 18 de dezembro de 1946, dois anos antes da implantação do `apartheid`, sob o qual a vida para a maioria negra foi marcada por dificuldades extremas.
Num período de opressão institucionalizada e de segregação racial no país, a voz de Biko ecoou como um grito de liberdade, tornando-se um dos mais proeminentes ativistas `anti-apartheid`.
O Movimento da Consciência Negra, fundado e liderado pelo ativista, tinha como objetivo restaurar a dignidade e o orgulho dos negros.
O `apartheid` (separação, em africânder), regime de segregação racial, chegou ao país em 1948 após a tomada de posse do Partido Nacional, tendo como base um sistema racial estratificado que dividia a população sul-africana em quatro grupos - os negros, os caucasianos, os mestiços e os asiáticos -, embora a população negra e mestiça da África do Sul já estivesse sob o domínio colonial da minoria branca.
A realidade sentida no país de brutalidade e intimidação governamental moldou e impulsionou a filosofia e o ativismo de Biko.
Steve Biko foi expulso da escola acusado de ativismo político, o que fortaleceu a sua determinação, destacando-se como líder estudantil. Integrou a União Nacional de Estudantes Sul-Africanos (NUSAS), uma organização multirracial, que embora defendesse os direitos dos negros, era vista por Biko como ineficaz.
Frustrado com a falta de representatividade e as limitações dos movimentos multirraciais, decidiu fundar, em 1968, a Organização de Estudantes Sul-Africanos (SASO).
A SASO foi o berço do Movimento da Consciência Negra, que impulsionava a ideia de que a libertação psicológica dos negros era o primeiro passo para a libertação física.
Biko afirmava que a opressão havia desumanizado a população negra e que a restauração da dignidade, elevando os heróis e a herança da história africana, era essencial para desconstruir a mentalidade de inferioridade imposta pelo sistema.
O movimento não se limitou ao meio estudantil. O ativista também fundou a Convenção dos Povos Negros (BPC), que expandiu a filosofia da Consciência Negra para a sociedade civil, focando-se mais tarde em projetos sociais de desenvolvimento comunitário, saúde e educação.
O regime do `apartheid` via Biko como uma ameaça, sendo que, em 1973, as suas atividades, movimentos e declarações públicas foram restringidas, tendo continuado a trabalhar clandestinamente.
Biko foi detido quatro vezes entre 1975 e 1977.
Em 12 de setembro de 1977, Steve Biko morre aos 30 anos em Pretória, capital da África do Sul, após ter sido espancado até entrar em coma pela polícia que o havia detido um mês antes.
A sua morte provocou uma onda de indignação em todo o mundo, tornando-o um símbolo da luta contra o sistema segregacionista do `apartheid` na África do Sul.
Na quarta-feira, o Ministério Público sul africano anunciou a reabertura da investigação sobre a sua morte, com o objetivo de "apresentar ao tribunal provas que lhe permitam determinar se a morte foi causada por um ato ou omissão que (...) implique ou equivalha a uma infração por parte de uma pessoa", segundo a Autoridade Nacional de Acusação (NPA).
Na investigação realizada em 1977, a versão da polícia sul-africana de que Steve Biko se feriu ao bater com a cabeça contra uma parede foi aceite e ninguém foi processado pela morte do ativista.
Após 20 anos, em 1997, ex-polícias confessaram ter agredido o ativista, durante as audiências conduzidas pela Comissão da Verdade e Reconciliação sobre os crimes cometidos durante o período do `apartheid`.
A história do ativista inspirou "Biko", a canção contra o `apartheid` do cantor britânico Peter Gabriel, em 1980, e depois o filme "Cry Freedom" de Richard Attenborough.
A frase "black is beautiful" (negro é lindo), declarada por Steve Biko, ainda hoje transcende fronteiras e ressoa como um hino de orgulho e resistência.
Nenhuma cerimónia oficial está agendada para assinalar a data da morte do ativista.