Mundo
Legislação francesa tenta proteger livrarias independentes da concorrência da Amazon
O Governo francês declarou os livros um bem essencial e também declarou guerra às grandes empresas tecnológicas, como a Amazon. Em causa está o valor que estes “gigantes” cobram pelos portes de envio de livros. O executivo francês considera os preços “concorrência desleal” e propõe nova legislação para ajuda às livrarias independentes por todo o país.
Tal como em Portugal, negócios independentes como as livrarias sofreram com a pandemia de covid-19, em França. Os proprietários queixam-se da concorrência desleal de gigantes tecnológicos como a Amazon, que cobram apenas um cêntimo de portes de envio.
Durante um dos confinamentos, Emmanuel Macron mostrou-se a favor de proteger estes negócios tornando a leitura uma “prioridade nacional”. Para isso, numa decisão que parece ser unânime na classe política francesa, o governo, a partir do próximo ano, vai fixar um preço mínimo aos portes de envio para os gigantes tecnológicos, especialmente a Amazon.
As livrarias tornaram-se num símbolo de resistência contra um mundo cada vez mais digitalizado. No sul de França, numa pequena localidade rural, Anne Helman receou o efeito da pandemia mas diz que viu um crescimento no número de pessoas na sua livraria, com muitas pessoas a dizerem que preferiam o contacto físico com o livro do que comprar pela internet.
“Nunca tinha vendido tantas cópias de “A Peste”, de Albert Camus. As crianças procuraram livros de fantasia. Os adultos quiseram romances e clássicos, particularmente ligados a histórias sobre vírus e apocalipse. Existiu [durante o confinamento] um novo entusiasmo em comprar localmente e apoiar livrarias independentes; parece que é visto como a coisa certa a fazer”, declarou Helman.
A ministra francesa da Cultura exortou os cidadãos a não comprarem online e agora o Parlamento pretende limitar as vantagens destas empresas na internet, esperando que se possa criar um precedente pela Europa fora para proteger as pequenas livrarias. O preço mínimo para os portes de envio em compras online ainda está a ser discutido.
Considerando os livros um “bem essencial” em França, Emmanuel Macron decretou que as bibliotecas estivessem abertas mais horas e quer obrigar as grandes empresas a cobrar mais portes de envio, algo que suporta a noção francesa de “excecionalismo cultural”, que pretende proteger livros e livrarias independentes.
A lei francesa bane os portes grátis na compra de livros e empresas como a Amazon contornaram o problema cobrando apenas um cêntimo pelo envio de livros.
“As livrarias locais normalmente cobram entre seis a sete euros para enviar um livro para casa do comprador e isso criou um enorme fosso”, disse Geráldine Bannier, que fez a proposta na câmara baixa do Parlamento francês. “Isto é uma luta pela diversidade para as pessoas escolherem onde podem comprar os seus livros. Isto é muito importante para nós”.
Confinamentos levam a ajuda aos pequenos negócios
Mais de 20 por cento das compras de livros em França são feitas por via online. O Governo francês decidiu entrar em ação por ter percebido o impacto da pandemia nas pequenas livrarias. Durante os dois primeiros confinamentos, estes negócios ficaram fechados, sendo motivo de duras críticas por parte de escritores e editoras.
Apesar de fechados, as livrarias foram reembolsadas pelo Governo francês, que devolveu os custos dos portes de envio. Isto levou a que muitos donos de livrarias conseguissem manter até 70 por cento do seu negócio.
No terceiro e último confinamento, o Governo francês considerou o livro um bem essencial e as livrarias ficaram abertas, com um número histórico de clientes a afluirem aos locais físicos de venda. Com esta preocupação, a queda nas vendas de livros em local físico foi apenas de três por cento, apesar dos meses que muitas livrarias estiveram fechadas.
Amazon queixa-se da nova leiSe as livrarias independentes veem ao fundo do túnel uma luz para fazer negócio em concorrência com as grandes empresas tecnológicas, a Amazon, por exemplo, já se queixou da nova lei que o Governo francês quer impor a partir do início de 2022.
A empresa declarou que fixar um preço nos portes de envio “vai pesar no poder de compra dos consumidores” e afetar leitores em cidades pequenas e zonas rurais. Os políticos em França fizeram um contraponto, alegando que a compra online é, na sua maioria, feita nas grandes cidades e zonas urbanas, enquanto as livrarias independentes estão mais presentes nas zonas rurais.
É o caso do negócio de Wilfrid Séjeau, dono de uma livraria na região de Borgonha, que afirmou ter vendido pelo menos 70 livros durante o segundo confinamento, embrulhando muitos como presentes. Quando a sua livraria reabriu no terceiro confinamento, houve um aumento do número de clientes na loja e todos eles vinham da zona rural que circundava o negócio.
“As pessoas perceberam que há certas coisas que são valiosas”, disse o vendedor sobre o laço que se cria entre o vendedor de livros e o comprador. “Uma pessoa pode gostar de comprar livros na Amazon mas também pode ter o gosto de ir a uma livraria e ver os livros por si próprio. As pessoas costumavam “guardar” um livro no “carrinho da Amazon, agora dizem-nos que preferem reservar no meu site”.
“Uma coisa que aprendemos com a pandemia de covid-19 é que o capitalismo digital progrediu e existe a necessidade de preservar lugares e momentos em que podemos estar juntos, desconectados e offline”, concluiu.
Durante um dos confinamentos, Emmanuel Macron mostrou-se a favor de proteger estes negócios tornando a leitura uma “prioridade nacional”. Para isso, numa decisão que parece ser unânime na classe política francesa, o governo, a partir do próximo ano, vai fixar um preço mínimo aos portes de envio para os gigantes tecnológicos, especialmente a Amazon.
As livrarias tornaram-se num símbolo de resistência contra um mundo cada vez mais digitalizado. No sul de França, numa pequena localidade rural, Anne Helman receou o efeito da pandemia mas diz que viu um crescimento no número de pessoas na sua livraria, com muitas pessoas a dizerem que preferiam o contacto físico com o livro do que comprar pela internet.
“Nunca tinha vendido tantas cópias de “A Peste”, de Albert Camus. As crianças procuraram livros de fantasia. Os adultos quiseram romances e clássicos, particularmente ligados a histórias sobre vírus e apocalipse. Existiu [durante o confinamento] um novo entusiasmo em comprar localmente e apoiar livrarias independentes; parece que é visto como a coisa certa a fazer”, declarou Helman.
A ministra francesa da Cultura exortou os cidadãos a não comprarem online e agora o Parlamento pretende limitar as vantagens destas empresas na internet, esperando que se possa criar um precedente pela Europa fora para proteger as pequenas livrarias. O preço mínimo para os portes de envio em compras online ainda está a ser discutido.
Considerando os livros um “bem essencial” em França, Emmanuel Macron decretou que as bibliotecas estivessem abertas mais horas e quer obrigar as grandes empresas a cobrar mais portes de envio, algo que suporta a noção francesa de “excecionalismo cultural”, que pretende proteger livros e livrarias independentes.
A lei francesa bane os portes grátis na compra de livros e empresas como a Amazon contornaram o problema cobrando apenas um cêntimo pelo envio de livros.
“As livrarias locais normalmente cobram entre seis a sete euros para enviar um livro para casa do comprador e isso criou um enorme fosso”, disse Geráldine Bannier, que fez a proposta na câmara baixa do Parlamento francês. “Isto é uma luta pela diversidade para as pessoas escolherem onde podem comprar os seus livros. Isto é muito importante para nós”.
Confinamentos levam a ajuda aos pequenos negócios
Mais de 20 por cento das compras de livros em França são feitas por via online. O Governo francês decidiu entrar em ação por ter percebido o impacto da pandemia nas pequenas livrarias. Durante os dois primeiros confinamentos, estes negócios ficaram fechados, sendo motivo de duras críticas por parte de escritores e editoras.
Apesar de fechados, as livrarias foram reembolsadas pelo Governo francês, que devolveu os custos dos portes de envio. Isto levou a que muitos donos de livrarias conseguissem manter até 70 por cento do seu negócio.
No terceiro e último confinamento, o Governo francês considerou o livro um bem essencial e as livrarias ficaram abertas, com um número histórico de clientes a afluirem aos locais físicos de venda. Com esta preocupação, a queda nas vendas de livros em local físico foi apenas de três por cento, apesar dos meses que muitas livrarias estiveram fechadas.
Amazon queixa-se da nova leiSe as livrarias independentes veem ao fundo do túnel uma luz para fazer negócio em concorrência com as grandes empresas tecnológicas, a Amazon, por exemplo, já se queixou da nova lei que o Governo francês quer impor a partir do início de 2022.
A empresa declarou que fixar um preço nos portes de envio “vai pesar no poder de compra dos consumidores” e afetar leitores em cidades pequenas e zonas rurais. Os políticos em França fizeram um contraponto, alegando que a compra online é, na sua maioria, feita nas grandes cidades e zonas urbanas, enquanto as livrarias independentes estão mais presentes nas zonas rurais.
É o caso do negócio de Wilfrid Séjeau, dono de uma livraria na região de Borgonha, que afirmou ter vendido pelo menos 70 livros durante o segundo confinamento, embrulhando muitos como presentes. Quando a sua livraria reabriu no terceiro confinamento, houve um aumento do número de clientes na loja e todos eles vinham da zona rural que circundava o negócio.
“As pessoas perceberam que há certas coisas que são valiosas”, disse o vendedor sobre o laço que se cria entre o vendedor de livros e o comprador. “Uma pessoa pode gostar de comprar livros na Amazon mas também pode ter o gosto de ir a uma livraria e ver os livros por si próprio. As pessoas costumavam “guardar” um livro no “carrinho da Amazon, agora dizem-nos que preferem reservar no meu site”.
Vicent Chabault, sociólogo da Universidade de Paris, disse que viu o seu livro ("Um elogio às livrarias: contra a amazonização") a vender bem. Chabault explicou que as livrarias independentes, apesar de frágeis, tornaram-se num símbolo de resistência contra as plataformas digitais.
“Uma coisa que aprendemos com a pandemia de covid-19 é que o capitalismo digital progrediu e existe a necessidade de preservar lugares e momentos em que podemos estar juntos, desconectados e offline”, concluiu.