Libaneses saem à rua em protesto, com a moeda a atingir um novo mínimo
Centenas de libaneses saíram às ruas na quinta-feira para protestar contra a desvalorização da moeda nacional, que atingiu novos mínimos em relação ao dólar, numa altura em que o país iniciou o desconfinamento.
Em Beirute e noutros pontos do país, manifestantes bloquearam estradas e queimaram pneus, gritando `slogans` para protestar contra a crise económica, enquanto agitavam bandeiras libanesas, segundo a agência de notícias Associated Press (AP).
Pouco depois da meia-noite, um número crescente de manifestantes avançou pelo centro de Beirute, atirando pedras à polícia e aos militares, que responderam com gás lacrimogéneo.
A fúria dos manifestantes teve como alvo estabelecimentos bancários, com vários a atirar pedras a bancos privados, em protesto pelo seu papel no agravamento do mal-estar económico do país. Uma agência vazia de um banco privado, em Beirute, foi incendiada, avançou a AP.
O primeiro-ministro, Hassan Diab, cancelou os encontros marcados para hoje e convocou uma sessão de emergência para discutir a crise financeira, segundo a AP.
O governador do banco central do Líbano instou as agências de câmbio a manter as taxas impostas pelas instituição.
Apesar dos esforços para controlar a desvalorização da moeda, a libra libanesa caiu para mais de 6.000 dólares na quinta-feira, contra 4.000 no mercado negro nos últimos dias. A libra tinha mantido uma taxa fixa de 1.500 face ao dólar durante quase 30 anos.
O Governo libanês está há semanas em conversações com o Fundo Monetário Internacional (FMI), depois de ter solicitado um plano de resgate financeiro, não havendo sinais de um acordo iminente.
Os protestos iniciaram-se há uma semana, em 06 de junho, data em que as autoridades começaram a aligeirar as medidas de confinamento, imposto em meados de março para combater a propagação do novo coronavírus. Nesse dia, 48 pessoas ficaram feridas, segundo a Cruz Vermelha libanesa.
A crise financeira no Líbano é anterior à pandemia de coronavírus, que deixou o país bloqueado durante vários meses.
O Líbano vive a pior crise económica desde a guerra civil libanesa (1975-1990), com o descontentamento social a desencadear, em outubro de 2019, um movimento inédito de protesto contra a classe política, acusada de corrupção e incompetência.
Nessa altura, os protestos levaram à demissão do Governo.
O novo Executivo, empossado no início de 2020, elaborou um programa de reformas e iniciou conversações com o FMI.
As estimativas oficiais indicam que 45% da população do Líbano (cinco milhões de habitantes) vive abaixo do limiar da pobreza.