Líbano e Israel reúnem em meio de ataques das IDF

Representantes diplomáticos do Líbano e Israel reuniram-se Naqoura, no sul do Líbano, nesta sexta-feira. O encontro aconteceu no âmbito do comité de monitorização do cessar-fogo assinado pelos dois países, em novembro de 2024, enquanto Israel ataca o sul do país.

RTP /
Foto: Aziz Taher - Reuters

Os representantes diplomáticos do Líbano, Israel, Estados Unidos e França, assim como da Força Interina das Nações Unidas no Líbano (UNIFIL), reuniram em Naqoura para abordar o desarmamento do Hezbollah e o regresso dos deslocados, assim como a reconstrução económica do país.

Este foi o segundo encontro a incluir representantes diplomáticos de Israel e do Líbano em mais de 40 anos. O primeiro ocorreu a 5 de dezembro.

Enquanto o Líbano elegeu como prioridade o regresso dos deslocados às vilas no sul do país - alvo de ataques de Israel - como “pré-requisito para abordar todos os outros detalhes”, o Governo israelita destacou a discussão de “projetos económicos que demonstrem o interesse mútuo na eliminação da ameaça do Hezbollah e na garantia de segurança sustentável para os moradores de ambos os lados da fronteira”.

O encontro ocorreu no dia seguinte a uma reunião entre representantes do Líbano, Estados Unidos, França e Arábia Saudita, em Paris, que discutiu o apoio ao exército libanês para fortalecer as suas posições no sul do país, controlado pelo Hezbollah e Israel.

O presidente do Líbano, Joseph Aoun, agradeceu o apoio dado ao país e espera “uma ampla cooperação internacional nesta conferência para fornecer o apoio necessário à modernização das capacidades do exército e das forças de segurança e ao aprimoramento de sua prontidão”.
Ataques de Israel entre conversações
O encontro aconteceu no dia seguinte a ataques das Forças de Defesa de Israel (IDF) ao sul e nordeste do Líbano na quinta-feira, alegadamente para destruir infraestruturas do Hezbollah.

Os locais atacados foram Hermel, Zghrine e Boudai, no nordeste, e Tayibe e Kfarkila, no sul, na fronteira com Israel. As IDF anunciaram a morte de um “terrorista do Hezbollah” em Tayibe, que estaria a operar “para recolher informações sobre a atividade das Forças de Defesa de Israel (IDF) no sul do Líbano.

O exército israelita também alega que o homem “participava nas tentativas do Hezbollah de restabelecer a sua infraestrutura”.

Os ataques tiveram o apoio do presidente do parlamento libanês, Nabih Berri, que afirmou que os ataques foram feitos “para honrar a reunião do mecanismo de amanhã [sexta-feira]”, referindo-se ao comité de monotorização do cessar-fogo, e que demonstram “apoio” ao exército libanês.

Já no fim de semana, Israel tinha dado ordem de evacuação aos habitantes de Yanouh, suspeitando da existência de infraestruturas do grupo islamita xiita Hezbollah. No entanto, o ataque acabou por ser adiado, após um pedido do exército libanês para inspecionar o local e “abordar a violação do acordo [de cessar-fogo]”, algo aceite pela IDF.
Violações do cessar-fogo e desarmamento do Hezbollah
Apesar do cessar-fogo assinado entre os dois países, em novembro de 2024, o Líbano tem sido alvo constante de ataques militares por parte das IDF, com o objetivo de destruir instalações do Hezbollah. Os ataques já provocaram mais de 300 mortos, cerca de 130 deles civis, de acordo com as Nações Unidas.

Israel mantém posições militares no sul do Líbano, apesar do cessar-fogo incluir a retirada do país. A justificação dada por Telavive de evitar o rearmamento do Hezbollah tem sido contestada, tendo o primeiro-ministro libanês afirmado estar aberto para expandir o mandato da comissão militar de monitorização do cessar-fogo para incluir uma investigação às alegações israelitas, juntamente com o destacamento de tropas norte-americanas e francesas.

O Hezbollah, apesar de considerado como um “Estado dentro do Estado”, saiu fortemente enfraquecido após a guerra entre Israel e o Líbano, em 2024, com a morte de vários dirigentes destacados, como líder histórico Hassan Nasrallah. No entanto, o grupo não se compromete com o desarmamento, tendo o governo do Líbano procedido a conversações para persuadir o Hezbollah a entregar as armas voluntariamente até dia 31 de dezembro, data limite estabelecida pelo governo de Beirute em agosto.

Em conferência de imprensa, na quarta-feira, o vice-primeiro-ministro libanês, Tarek Mitri, admitiu que as negociações estão perto de estar concluídas.
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