Líder cambojano promete empenho na resposta militar contra a Tailândia
O poderoso presidente do Senado do Camboja, Hun Sen, prometeu hoje que o país se empenhará numa resposta militar às agressões da Tailândia, depois de se ter abstido de ripostar na segunda-feira.
Uma estratégia de concentração nos locais onde a Tailândia está a avançar permitirá ao Camboja "enfraquecer e destruir as forças inimigas através de contra-ataques", afirmou Hun Sen, numa declaração publicada na rede social Facebook e na plataforma de mensagens Telegram.
"O Camboja quer a paz, mas é forçado a ripostar para defender o seu território", acrescentou. As forças armadas do Camboja anunciaram hoje que os novos combates mataram oito civis e feriram duas dezenas.
Hun Sen foi primeiro-ministro do Camboja entre 1984 e 1993 e novamente entre 1998 e 2023, ano em que passou o poder executivo ao filho, Hun Manet, mas continua a ser amplamente considerado como o líder do país.
Camboja e Tailândia acusam-se reciprocamente de terem iniciado os confrontos.
O primeiro-ministro tailandês, Anutin Charnvirakul, afirmou na segunda-feira que as operações militares serão realizadas conforme necessário para defender o país e proteger a segurança pública.
"A Tailândia nunca desejou violência. Gostaria de reiterar que a Tailândia nunca iniciou uma luta ou invasão, mas nunca tolerará uma violação da sua soberania", disse.
Banguecoque começou por anunciar no domingo a morte de um soldado por disparos provenientes do outro lado da fronteira, que deu como justificação para acionar a sua aérea e bombardear várias infraestruturas militares e vias estratégicas de acesso ao longo dos mais de 800 quilómetros da fronteira conjunta.
Hoje, o exército tailandês anunciou a morte de mais três soldados e disse que as forças cambojanas dispararam artilharia contra uma aldeia na província de Sa Kaeo esta madrugada, embora o ataque não tenha causado vítimas.
O contra-almirante tailandês Surasant Kongsiri anunciou, por outro lado, que a marinha está a reforçar posições no leste da Tailândia, perto da fronteira com o Camboja.
Uma declaração separada da 2.ª Região do Exército da Tailândia, situada ao longo da fronteira, anunciou que meio milhar de abrigos temporários foram montados em quatro províncias fronteiriças, acomodando 125.838 pessoas. Espera-se que outros refugiados dos combates se recolham junto de familiares em áreas seguras.
A Tailândia e o Camboja têm um histórico de inimizade ao longo dos séculos e passam por tensões periódicas ao longo de fronteira terrestre.
Um cessar-fogo acordado para encerrar cinco dias de combates em julho foi mediado pela Malásia e imposto em outubro por pressão do Presidente dos EUA, Donald Trump, que ameaçou retirar privilégios comerciais às duas nações.
O acordo exigia a remoção de armas pesadas e equipamentos da fronteira; devolução de 18 militares cambojanos capturados; cessação da divulgação de informações falsas, acusações e retórica prejudicial; implementação de medidas para restaurar a confiança mútua e relações diplomáticas plenas; e a coordenação de operações para remover minas terrestres.
Nenhuma dessas ações parece ter sido implementada na íntegra ou de boa-fé por qualquer um dos lados. Após o cessar-fogo, ambas as nações continuaram a travar uma guerra de propaganda acirrada usando desinformação, juntamente com pequenos surtos de violência transfronteiriça.
Em novembro, a Tailândia suspendeu a aplicação do acordo, depois do rebentamento de uma mina, que alegou ter sido instalada pelo Camboja recentemente.
O Camboja afirma que as minas são resquícios de décadas de guerra civil que terminou em 1999.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, expressou preocupação com os novos combates, especialmente o uso de ataques aéreos e armas pesadas, e exortou as partes beligerantes a renovarem o compromisso com o cessar-fogo.