Líder da Confederação dos Sindicatos Europeus diz que países com sucesso são os que levam diálogo social a sério
Bruxelas, 13 nov (Lusa) -- A secretária-geral da Confederação dos Sindicatos Europeus considera que os países resgatados correm o risco de ver desmantelado o modelo social e advertiu que os países de sucesso são aqueles onde "os governos levam o diálogo social a sério".
Em entrevista à Lusa, em Bruxelas, em vésperas de uma jornada de luta europeia contra a austeridade, a 14 de novembro, que inclui uma greve geral em Portugal, Bernadette Ségol lamenta que, "apesar de os factos mostrarem que estas políticas não estão a resultar", Bruxelas e os governos insistem na mesma "receita", esperando que as economias dos países sob austeridade acabem por recuperar um dia, mas, teme, à custa de importantes perdas.
"Mas o que vai acontecer entretanto é o desmantelamento do modelo social, a capacidade negocial dos sindicados e o enfraquecimento da proteção social e dos serviços públicos. É isso que está em jogo hoje em dia", apontou, acrescentando que foram direitos que levaram décadas a ser conquistas e "muito dificilmente" serão recuperados.
Sublinhando que a Confederação dos Sindicatos Europeus (CES) "nunca disse que nada deve ser alterado", Bernadette Ségol defende todavia que tal não deve ser decidido pela `troika` nos países sob programas de ajustamento, mas sim alvo de "negociações sólidas e construtivas, contra as desigualdades e salários baixos, por exemplo", que envolvam os parceiros sociais.
"Os países com mais sucesso em termos de competitividade, são os nórdicos. E porquê? Porque os governos levam o diálogo social a sério e negoceiam as soluções, não as impõem", disse.
Ségol diz por isso compreender que as pessoas se manifestem e disse não conseguir entender, isso sim, as recentes palavras da chanceler alemã, Angela Merkel, que na passada quarta-feira, num debate em Bruxelas, e referindo-se ao caso grego, defendeu ser inútil as pessoas passarem o tempo a lamentar-se e a fazerem greve cada vez que há uma privatização.
"Se as pessoas veem todos os seus benefícios cortados e não serem tomadas medidas de fundo contra a fraude fiscal e a corrupção, devem calar-se? Se lhes foi prometido que haveria resultados e estes não aparecem, o que devem fazer? Percebo perfeitamente a reação do povo grego. As pessoas não são números, têm uma vida", sublinhou.
Questionada sobre o facto de, mais uma vez, a greve geral em Portugal não juntar as duas grandes centrais sindicais -- a UGT não adere à iniciativa da CGTP --, a secretária-geral dos sindicatos europeus escusou-se a "fazer julgamentos", mas lembrou que "os sindicatos em Portugal apoiam a linha para o crescimento, solidariedade e empregos na Europa que é levada a cabo pela CES, e, no comité executivo da CES, ambos assinaram o pacto social para a Europa".
"Penso que são os sindicatos que devem decidir o que é o melhor a fazer a 14 de novembro. Claro que a unidade dos sindicatos é boa, mas não me cabe a mim fazer julgamentos sobre os dois sindicatos em Portugal", declarou.