Líder da oposição moçambicana critica falta de esclarecimento de duplo homicídio
A bancada parlamentar do Podemos, líder da oposição moçambicana, criticou hoje a polícia por falta de esclarecimento do homicídio de Elvino Dias e Paulo Guambe, há um ano, pedindo "justiça" para os "símbolos da resistência e coragem moral".
"Um ano inteiro, senhora presidente. A Polícia da República de Moçambique ainda não se dignou a esclarecer os factos e nem trazer à barra da justiça os autores materiais e morais deste crime hediondo", criticou Forquilha Albino Forquilha, deputado do partido Povo Otimista para o Desenvolvimento de Moçambique (Podemos), líder da oposição moçambicana.
Moçambique viveu cerca de cinco meses de protestos e agitação social após as eleições, que eclodiram a partir de Maputo, em 21 de outubro de 2024, dois dias após o duplo homicídio do advogado Elvino Dias e de Paulo Guambe, apoiantes do ex-candidato presidencial Venâncio Mondlane, que na altura era apoiado pelo partido Podemos.
Ao reagir, no parlamento, à apresentação do Fundo de Desenvolvimento Económico Local (FDEL) pelo Governo, o partido Podemos lembrou o duplo homicídio, referindo que os dois políticos em causa representam "símbolos da resistência cívica e da coragem moral" e que acreditaram que "a política é um ato de serviço e não de submissão, de entrega e não de medo".
"Hoje, em nome do povo que eles amaram, exigimos justiça para eles e para os demais moçambicanos que tombaram por acreditar que um moçambicano melhor é possível, justiça para as famílias que vivem entre a dor e o esquecimento. Justiça porque sem ela a paz é apenas uma ilusão escrita em papel", disse o deputado.
Nas mesmas declarações, o parlamentar prometeu avançar ações para imortalizar Paulo Guambe e Elvino Dias, referindo que a sua memória é uma inspiração para se governar com "lealdade e dignidade".
"Passa-se um ano desde o bárbaro e o cobarde assassinato desses bravos filhos da pátria, militantes da causa do povo que ousaram erguer a voz em defesa da justiça social, da dignidade humana e da verdade nacional", lembrou Forquilha.
O Conselho Constitucional proclamou em 23 de dezembro, dois meses e meio após a votação, Daniel Chapo como vencedor da eleição presidencial, com 65,17% dos votos nas eleições gerais de 09 de outubro, seguindo-se Venâncio Mondlane, com 24%, mas que nunca reconheceu os resultados.
A plataforma eleitoral Decide, organização da sociedade civil que monitoriza os processos eleitorais avançou este mês, num balanço final, que a agitação social terá provocado 411 mortos e mais de 7.200 detidos.
No mesmo período - os protestos prolongaram-se até março último -, 3.700 pessoas ficaram feridas, das quais mais de 900 por arma de fogo, além de cinco pessoas ainda dadas como desaparecidas, existindo o registo de 17 execuções "com indícios políticos", segundo o relatório desta plataforma.
A Federação Moçambicana de Empreiteiros estimou também que mais de 300 empresas de construção encerraram durante as manifestações pós-eleitorais, admitindo a existência de muitas que ainda não conseguiram reabrir.
A Organização dos Trabalhadores de Moçambique - Central Sindical disse, no dia 13 de outubro, que dos mais 12 mil trabalhadores que perderam emprego durante os tumultos, cerca de três mil continuam sem indemnização.
Daniel Chapo e Venâncio Mondlane reuniram-se em Maputo, pela primeira vez desde as eleições, em 23 de março, e no dia seguinte o ex-candidato presidencial apelou ao cessar da violência, não se tendo registado casos de agitação social associados à contestação eleitoral desde então.