Líder de facção criminosa brasileira concede entrevista por telemóvel do presídio

O líder da facção criminosa PCC concedeu uma entrevista à uma emissora de televisão brasileira, através de seu telemóvel, do interior do presídio de segurança máxima, onde está a cumprir pena.

Agência LUSA /

A entrevista com Marcos Williams Herba Camacho, o Marcola, foi transmitida pelo "Jornal da Noite", da TV Bandeirantes, a segunda maior rede brasileira, na madrugada de hoje.

As autoridades policiais já solicitaram uma cópia da entrevista e prometem investigar como o bandido mais temido do Brasil conseguiu um telemóvel.

Apontado como responsável pela onda de violência dos últimos dias em São Paulo, o líder do Primeiro Comando da Capital (PCC) disse que os ataques foram organizados porque "os direitos dos presos não foram cumpridos", como a suspensão das visitas de advogados.

"Eles [autoridades] removeram diversos presos, feriram a lei e não pudemos usufruir de nenhum direito. Por isso acabamos por toma esta atitude, para chamar a atenção", afirmou.

Na quinta-feira passada, 765 presos, entre eles alguns dos principais líderes, foram transferidos para uma prisão de segurança máxima, na cidade de Presidente Venceslau, a 620 quilómetros a oeste de São Paulo.

O presídio já tem "bloqueadores" de telemóveis, o que na prática isola os líderes da quadrilha, evitando assim o planeamento de acções criminosas.

Marcola negou, entretanto, que tenha orientado os seus seguidores para assassinar agentes policiais e civis, durante a onda de ataques.

"Existem oportunistas, pessoas que acabam por tomar atitudes não permitidas(Ó). A culpa, o cancro, são eles (outros bandidos), não a gente", disse.

Segundo Marcola, a decisão de iniciar os ataques foi tomada "em conjunto com a direcção do PCC, em que cada um deu sua opinião".

O criminoso salientou igualmente que não fez qualquer acordo com as autoridades policiais para pôr fim aos ataques, como noticiaram os "media" brasileiros.

"Os ataques pararam, foram usados para resolver uma situação quando precisámos. Mas eles [autoridades] não estão a querer parar. Estão a agir de forma brutal, matando, declarando uma guerra e esquecendo que, assim, deixam a sociedade à mercê", afirmou.

A Secretaria da Administração Penitenciária, responsável pelos presídios de São Paulo, anunciou em comunicado que vai investigar a autenticidade da entrevista e a forma como Marcolza obteve um telemóvel.

Desde sexta-feira, já foram registados 281 ataques, 55 autocarros foram incendiados, 44 agentes policiais e civis mortos e 94 suspeitos de envolvimento nos ataques abatidos pela polícia.

O Tribunal de São Paulo determinou quarta-feira a imediata suspensão do funcionamento de telemóveis na região dos seis principais presídios do Estado de São Paulo.

O juiz Alex Tadeu Monteiro Zilenovski determinou ainda que as operadoras suspendam o sinal de telemóveis nas prisões de Avaré, Presidente Venceslau, Iaras, Araraquara, São Vicente e Franco da Rocha.

O objectivo da medida é isolar os líderes da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC), que utiliza telemóveis para comandar os membros do grupo fora dos presídios.

PUB