Líder sérvio critica Ocidente por resultado de eleições no norte do Kosovo
O Presidente sérvio criticou hoje as autoridades ocidentais que medeiam as conversações sobre normalização de relações com o Kosovo, chamando-lhes mentirosas e fraudulentas, e afirmou que a minoria sérvio-kosovar não tolerará mais a "ocupação" estrangeira.
Aleksandar Vucic falava um dia depois de as eleições locais no norte do Kosovo, dominado pelos sérvios, terem sido fortemente boicotadas pelos eleitores sérvios locais, o que teve como resultado a eleição de governantes albaneses para a região.
As tensões nos Balcãs Ocidentais, que passaram por guerras sangrentas na década de 1990, agravaram-se desde a invasão russa da Ucrânia, em fevereiro do ano passado.
Vucic saudou o boicote sérvio-kosovar ao escrutínio, afirmando que este representou "uma revolta política pacífica" contra os seus "ocupantes". Os sérvios do norte do Kosovo (ex-província sérvia) acusam as autoridades de Pristina de perseguição e reivindicam autonomia para a sua região.
"O nosso povo no Kosovo mostrou em que país quer viver", declarou Vucic, um líder populista conhecido pelos seus frequentes ataques verbais ao Ocidente, que está agora, aparentemente, irado com a União Europeia (UE) e com os Estados Unidos por permitirem que as autoridades de Pristina realizassem as eleições locais sabendo que o boicote sérvio, para o qual Belgrado apelara, era esperado.
A UE disse hoje que o escrutínio foi organizado de acordo com o enquadramento jurídico kosovar e que foram envidados esforços para que decorresse de forma calma e ordeira.
"Ao mesmo tempo, a UE lamenta que nem todas as partes e comunidades tenham feito uso do seu direito democrático de participar e votar nas eleições", indicou o bloco comunitário europeu num comunicado, acrescentando que "a participação muito baixa, em particular entre os cidadãos sérvio-kosovares, mostra que este processo não é e não pode ser considerado normal".
O Governo do Kosovo saudou "os cidadãos pela sua coragem e tranquilidade" enquanto participavam na votação e afirmou que o escrutínio foi "um exemplo de democracia".
"A campanha de ameaças orquestrada por Belgrado e executada através de intimidação, pressões e chantagem por grupos criminosos levou a uma baixa participação dos cidadãos nas eleições", observou, por sua vez, o primeiro-ministro kosovar, Albin Kurti.
O Kosovo é uma antiga província sérvia cuja população é maioritariamente de origem albanesa.
A guerra que ali se travou entre 1998 e 1999 eclodiu quando os albaneses se revoltaram contra o poder sérvio e Belgrado reagiu com uma violenta repressão.
Cerca de 13.000 pessoas morreram, na maioria de origem albanesa. Em 1999, uma intervenção militar da NATO (Organização do Tratado do Atlântico-Norte, bloco de defesa ocidental) obrigou a Sérvia a retirar do território.
O Kosovo proclamou a sua independência em 2008, e tem havido tensões a fervilhar desde então. A independência da antiga província sérvia é reconhecida por muitos países ocidentais, mas Belgrado opõe-se-lhe, com o apoio da Rússia e da China.
As conversações mediadas pela UE poucos progressos têm feito nos últimos anos, embora os seus dirigentes tenham concordado no mês passado como aplicar um plano patrocinado pela UE para normalizar as relações, após décadas de tensões.
Vucic disse que "provavelmente" participará na próxima ronda de conversações mediadas pelo bloco comunitário europeu com o chefe do executivo kosovar, Albin Kurti, agendada para 02 de maio, em Bruxelas, apesar de "não esperar nada" desse encontro.
"Receio que seja o prelúdio para uma crise muito mais profunda", observou o Presidente sérvio.