Líderes católicos visitam políticos detidos e garantem que estão "bem de saúde"
Os líderes da Igreja Católica guineense visitaram hoje os políticos detidos pelos militares após o golpe de Estado de 26 de novembro e afirmaram tê-los encontrado "bem de saúde" .
De acordo com a página oficial da rádio Sol Mansi (emissora católica) consultada pela Lusa nas redes sociais, a delegação, chefiada por Dom Camnate Na Bissign, bispo emérito de Bissau, foi composta ainda por José Lampra Cá, bispo de Bissau, Victor Luís Quematcha, bispo de Bafatá, padre Davide Sciocco, vigário-geral da Diocese de Bissau e o padre Domingos Cá.
Em nome do grupo, o bispo Luís Quematcha agradeceu "o gesto de boa vontade do Presidente da República de Transição, general Horta Inta-A", por ter permitido a visita, bem como a resposta do ministro do Interior e Ordem Pública, general Mamasaliu Embalo.
"Foi uma visita humanitária e pastoral (...), estivemos com os prisioneiros, evidentemente a prisão não é um lugar para se estar, toda a gente gosta de estar em casa, mas vimos que fisicamente estão bem", observou o bispo Quematcha.
O bispo de Bafatá, no leste da Guiné-Bissau, e que também coordena as ações da Igreja Católica guineense no sul do país, disse que a delegação transmitiu aos prisioneiros a mensagem de solidariedade da Igreja, mas também "de todo o povo guineense".
Na sequência do golpe de Estado, um autodenominado Alto Comando Militar tomou o poder na Guiné-Bissau, em vésperas do anúncio dos resultados das eleições legislativas e presidenciais.
Nessa operação, foram detidos alguns dirigentes políticos da oposição, nomeadamente Domingos Simões Pereira, líder do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) e da plataforma eleitoral PAI--Terra Ranka, Otávio Lopes, deputado e dirigente, Marciano Indi, do mesmo partido.
Igualmente foi detido o advogado e dirigente do Partido da Renovação Social (PRS), Roberto Mbesba, bem como alguns elementos do corpo de segurança dos quatro dirigentes políticos.
A família, a Liga Guineense dos Direitos Humanos e os advogados de defesa dos detidos têm denunciado o facto de não lhes ter sido permitido contacto com os detidos.
Todos os detidos fazem parte da candidatura de Fernando Dias da Costa - opositor ao Presidente guineense cessante Umaro Sissoco Embaló -, que tem reivindicado vitória nas presidenciais, cujos resultados não foram divulgados devido ao golpe de Estado.
A Comissão Nacional de Eleições (CNE) mostrou-se indisponível para dar continuidade ao processo eleitoral e divulgar os resultados das legislativas e presidenciais de 23 de novembro, devido a alegados atos de vandalismo nas suas instalações.
Na voz do seu secretário executivo adjunto, o juiz Idriça Djaló, a CNE disse que os alegados atos teriam sido protagonizados por "homens armados e encapuzados" no dia 26 de novembro, véspera do anúncio dos resultados provisórios.
A candidatura de Fernando Dias da Costa, atualmente exilado na embaixada da Nigéria em Bissau, condena o "posicionamento ilegal" do secretariado executivo da CNE, que acusa de "usurpação de competências" da plenária do órgão que deveria, defende, ter sido convocada a pronunciar-se sobre o processo.
A Guiné-Bissau está suspensa da CEDEAO, assim como de outra organização regional, a União Africana. O país também foi suspenso da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) e a presidência rotativa da comunidade que ocupava foi-lhe retirada, tendo sido atribuída à Timor Leste.
As eleições tinham decorrido sem incidentes, mas na véspera da divulgação dos resultados oficiais, um tiroteio em Bissau antecedeu a tomada do poder.
Horta Inta-A anunciou que o período de transição terá a duração máxima de um ano e nomeou como primeiro-ministro e ministro das Finanças Ilídio Vieira Té, antigo ministro de Embaló. Um Governo de transição foi, entretanto, empossado, com nomes do executivo deposto e cinco militares entre os 23 ministros e cinco secretários de Estado.
* A delegação da agência Lusa na Guiné-Bissau está suspensa desde agosto após a expulsão pelo Governo dos representantes dos órgãos de comunicação social portugueses. A cobertura está a ser assegurada à distância *