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Líderes do golpe no Níger querem processar presidente Bazoum por "alta traição"
A junta militar que tomou o poder no Níger afirmou esta segunda-feira que "reuniu as provas necessárias para processar" o presidente deposto por "alta traição", acusando-o de minar a segurança do Estado. Caso seja considerado culpado, Mohamed Bazoum pode ser condenado à pena de morte.
O anúncio foi feito na televisão estatal pelo coronel Amadou Abdramane, poucas horas depois de a junta militar que derrubou o presidente Mohamed Bazoum ter dito que estaria disponível para resolver diplomaticamente a crise.

Coronel Abdourahmane, da junta militar | Balima Boureima - Reuters
Bazoum poderá enfrentar a pena de morte caso seja considerado culpado, ao abrigo do código penal do Níger.
As alegadas provas
O coronel deixou claro que as acusações a Bazoum acontecem após as alegadas trocas de mensagens. Nas declarações da junta não foram identificados os países ocidentais. Também não foi referida a data para o julgamento.
"Campanha de desinformação"
Abdramane declarou que o regime militar "reuniu as provas necessárias para processar perante as autoridades nacionais e internacionais competentes o presidente deposto e os seus cúmplices locais e estrangeiros, por alta traição e por minar a segurança interna e externa do Níger".
Coronel Abdourahmane, da junta militar | Balima Boureima - Reuters
Nas semanas que se seguiram ao golpe de julho, a junta autonomeou um novo governo. No processo, os revoltosos alavancaram o sentimento anti-francês e contra o ex-governante para obterem apoio entre a população.
As alegadas provas
Em declarações difundidas pela televisão estatal, Abdramane referiu-se a mensagens que Bazoum terá enviado a países estrangeiros durante a prisão domiciliária.
Neste relato da junta, é afirmado que políticos de alto estatuto da África Ocidental e os “seus mentores internacionais” fizeram falsas alegações e tentaram impedir uma solução pacífica para a crise, com o objetivo de “justificar uma intervenção militar”.
"Campanha de desinformação"
Pessoas próximas do presidente deposto, bem como dirigentes do partido de Bazoum, referem que a eletricidade e a água da família foram cortadas e começa a escassear comida.
Por sua vez, o presidente deposto também informou a Human Rights Watch de que o filho precisa de uma consulta médica devido a um problema cardíaco grave. Porém, a junta já veio afirmar que, realizada uma consulta, “o médico não levantou preocupações sobre o estado de saúde do presidente deposto e dos seus familiares”.
Por sua vez, o presidente deposto também informou a Human Rights Watch de que o filho precisa de uma consulta médica devido a um problema cardíaco grave. Porém, a junta já veio afirmar que, realizada uma consulta, “o médico não levantou preocupações sobre o estado de saúde do presidente deposto e dos seus familiares”.
Abdourahmane acusa então os políticos da África Ocidental e parceiros internacionais de “alimentar uma campanha de desinformação para desacreditar a junta”.O presidente democraticamente eleito do Níger foi deposto por membros de sua guarda presidencial a 26 de julho. Desde então, Bazoum está em prisão domiciliaria na capital, Niamey.
O bloco regional da CEDEAO na África Ocidental ordenou o envio de uma força militar de prontidão e impôs sanções económicas, enquanto o governo civil não fosse reposto. A junta denunciou estas medidas como "ilegais, desumanas e humilhantes".
O Conselho de Paz e Segurança da União Africana está reunido a partir desta segunda-feira para discutir a crise do Níger. Em cima da mesa está a possibilidade de anular a decisão do CEDEAO, caso ache que a paz e a segurança nesta região do Continente Africano estão ameaçadas pela possível intervenção militar.
Os vizinhos do Níger, Mali e Burkina Faso, também governados por juntas militares que tomaram o poder via golpes de Estado, argumentaram que uma "intervenção seria equivalente a uma declaração de guerra contra eles próprios".