Los Angeles cancela recolher obrigatório, com manifestantes pacíficos nas ruas

por Mário Aleixo - RTP
Los Angeles sem recolhimento obrigatório assistiu a manifestações pacíficas Reuters

O condado de Los Angeles cancelou as ordens de recolhimento obrigatório que estiveram em vigor nas últimas noites, com manifestações pacíficas a decorrerem em vários pontos da região em protesto contra a morte de George Floyd.

No dia em que decorreu uma cerimónia em memória do afro-americano em Minneapolis, e depois de os quatro polícias envolvidos na sua morte terem sido presos e acusados, os protestos continuaram no sul da Califórnia, com maior incidência em Los Angeles.

"A questão é que isto não é apenas sobre George Floyd, é sobre a desigualdade racial que continua a acontecer", disse à Lusa a cantora Zenia, que vive em Los Angeles e participou em vários protestos. "É uma marcha pela consciencialização e contra o statu quo silencioso, mais que qualquer outra coisa".

Depois de milhares de pessoas terem marchado pelas ruas em protestos que terminaram em vandalismo, pilhagens e confrontos com a polícia, as iniciativas de quinta-feira foram pacíficas. Na baixa da cidade, o chefe do departamento da polícia, Michel Moore, ajoelhou-se por alguns momentos, depois de afirmações suas que geraram polémica e de vídeos partilhados nas redes sociais mostrarem agentes a usar balas de borracha e força excessiva contra manifestantes.

"Lembrem-se que os amotinados violentos e os manifestantes não são as mesmas pessoas", sublinhou Zenia, referindo que os que saíram à rua para dar voz ao pedido de justiça foram na grande maioria pacíficos e não se envolveram em pilhagens. "É preciso que se saiba que muitos manifestantes pacíficos foram presos antes do toque de recolher obrigatório, por nenhum motivo", afirmou a cantora.

Segundo Zenia, os grupos que estavam a organizar os protestos "pediam constantemente aos participantes que não atirassem nada à polícia, para serem gentis e cantarem poderosas palavras de ordem de paz e igualdade racial". A cantora disse também que, apesar de os protestos terem levado à detenção dos polícias envolvidos na morte de George Floyd, "a suspeição por perfil racial, desrespeito e desigualdade não param por aqui".

Nem tudo está bem

As pilhagens e incêndios que puseram vários pontos da cidade em estado de sítio durante noites consecutivas, inclusive quando o "mayor" decretou recolher obrigatório, levaram à convocação da Guarda Nacional. Foi isso que a apresentadora de entretenimento Virag Vida viu em Venice, zona de praia ao lado de Santa Mónica, onde um camião militar vindo de San Diego transportou os guardas para patrulhar as ruas.

"Disseram que queriam ter a certeza de que tudo corria bem, acalmar a zona e proteger as lojas", explicou à Lusa. "Muita gente ficou atónita com a sua presença, porque eles têm armas poderosas e um aspeto muito sério".

Em Sacramento, um grupo de legisladores comprometeu-se a introduzir legislação que estabeleça padrões claros para a utilização de balas de borracha pela polícia, segundo o jornal LA Times, depois de vários registos de lesões graves sofridas por manifestantes nos últimos dias.

No conselho municipal da cidade de LA, foi introduzida uma moção para reduzir o orçamento da polícia de Los Angeles e redirecionar cerca de 100 a 150 milhões de dólares (88 a 132 milhões de euros) para comunidades de minorias. O departamento de Polícia de Los Angeles (LAPD, na sigla em inglês) caracterizou a redução como "significativa", argumentando que o seu financiamento é necessário para manter a segurança pública.

George Floyd, um afro-americano de 46 anos, morreu em 25 de maio, em Minneapolis (Minnesota), depois de um polícia branco lhe ter pressionado o pescoço com um joelho durante cerca de oito minutos numa operação de detenção, apesar de Floyd dizer que não conseguia respirar.
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