Mundo
Luaty Beirão coloca ponto final na greve de fome
O ativista angolano anunciou o fim da greve de fome que iniciou a 21 de setembro em protesto contra o excesso de prisão preventiva. Na “Carta aos meus companheiros de prisão”, escrita pelo ativista e enviada pela família de Beirão ao jornal Rede Angola, anuncia o fim da greve de fome ao fim de 36 dias.
O “rapper”e músico angolano, de 33 anos, que também tem nacionalidade portuguesa, está internado sob detenção, desde 15 de outubro, numa clínica privada de Luanda, para onde foi transferido pelos Serviços Prisionais por precaução.
Luaty Beirão exigia aguardar julgamento em liberdade ou que a prisão preventiva fosse devidamente fundamentada.
“Junho vai longe. Passámos muitos dias presos em solitárias, alguns sem comer, com muitas saudades de quem nos é próximo. Pelo caminho sentimos a solidariedade da maioria dos prisioneiros e funcionários. Tivemos apoio de família e amigos”, afirma Luaty Beirão na carta. A jornalista da Antena 1, Cristina Santos, lê a carta que o ativista enviou aos companheiros detidos
O músico é um dos 15 ativistas angolanos detidos em prisão preventiva desde junho, sob acusação de atos preparatórios para uma rebelião em Angola e um atentado contra o Presidente da República, José Eduardo dos Santos.
“Nas últimas semanas, em que mantive a greve de fome que decidimos em conjunto, muita coisa mudou. Tive oportunidade de me aperceber do que nos espera lá fora e quero partilhar convosco o que vi”, acrescenta.
“Vi pessoas da nossa sociedade, que lutaram pelo nosso país e viveram o que estamos a viver, a saírem da sombra e a comprometerem-se em nossa defesa, para que a história não se repita. Vi pessoas de várias partes do mundo, organizações de cariz civil, personalidades, desconhecidos com experiências de luta na primeira pessoa que, sozinhas ou em grupo, se aglomeraram no pedido da nossa libertação”.
Segundo Luaty Beirão, “já o sentíamos antes, mas não com esta dimensão. Muito acima das nossas melhores expetativas. E está longe de abrandar. Todos os dias há notícias de anónimos, personalidades ou instituições que se juntam pela nossa libertação”.
Texto dedicado aos companheiros
Na carta dedicada a Domingos da Cruz, Afonso Matias “Mbanza Hamza”, José Gomes Hata, Hitler Jessia Chiconda “Samussuku”, Inocêncio Brito, Sedrick de Carvalho, Fernando Tomás Nicola, Nelson Dibango, Arante Kivuvu, Nuno Álvaro Dala, Benedito Jeremias, Osvaldo Caholo, Manuel Baptista Chivonde “Nito Alves” e Albano Evaristo Bingo, o ativista afirma: “Conseguimos muita atenção em volta da nossa causa. Muita dela recai sobre mim. Por isso pedi para me juntar a vocês em São Paulo e assim, podermos falar a uma só voz”.
Os restantes 14 ativistas aguardam julgamento no hospital-prisão de São Paulo, em Luanda, tendo Luaty Beirão pedido anteriormente para sair da clínica privada onde se encontra por precaução para se juntar aos colegas, em solidariedade.
A 21 de outubro, o grupo de detidos tinha apelado a Luaty Beirão para que colocasse um ponto final que parasse com a greve de fome. “No nosso país muita coisa mudou e outras lamentavelmente se repetem. (…) Ainda assim, a força parece desproporcional. Não vejo sabedoria do outro lado. Digo-vos o que disse noutras situações semelhantes: vamos dar as costas. E voltar amanhã de novo. Vou parar a greve”, sublinha.
Desde o início da greve de fome de Luaty Beirão, a 21 de setembro, a sociedade civil tem realizado ações de solidariedade. Não só em Angola como noutros países – Portugal, Brasil, Reino Unido, Estados Unidos . E a essa sociedade, Luaty agradece.
“À sociedade. Não vou desistir de lutar, nem abandonar os meus companheiros e todas as pessoas que manifestaram tanto amor e me encheram o coração. Muito obrigado. Espero que a sociedade civil nacional e internacional e todo este apoio dos media não pare”.
Já antes, quando da detenção, vários grupos angolanos e internacionais apelaram à libertação dos presos políticos em Angola, exigindo justiça e celeridade para a resolução do processo.
Presos políticos
Além dos 15 detidos em junho, há ainda a contabilizar as ativistas Laurinda Alves e Rosa Conde – constituídas arguidas no mesmo processo a 31 de agosto – que aguardam julgamento em liberdade.
E ainda Domingos Magno, detido a 15 de outubro, por “falsa qualidade”, ao ter, indevidamente, na sua posse um passe de imprensa que lhe daria acesso à Assembleia, onde pretendia assistir ao discurso sobre o Estado da Nação.
Segundo o jornal Rede Angola “é também considerado preso político Marcos Mavungo, detido há seis meses e condenado no dia 14 de setembro a seis anos de prisão, acusado de crime de rebelião contra o Estado”.
Também a eles Luaty Beirão dedica a carta.
“Estou inocente do que nos acusam e assumo o fim da minha greve de fome. Sem resposta quanto ao meu pedido para aguardarmos o julgamento em liberdade, só posso esperar que os responsáveis do nosso país também parem a sua greve humanitária e de justiça. De todos os modos, a máscara já caiu. A vitória já aconteceu”, frisa.
“Abracemos todo o amor que recebemos e agarremos todas as ferramentas. Juntos. Já não somos os ‘arruaceiros’. Já não somos os “jovens revús”. Já não estamos sós. Em Angola, somos todos necessários. Somos todos revolucionários”, acrescenta.
O julgamento de Luaty Beirão e dos restantes ativistas está marcado para 16 de novembro, no Tribunal de Cacuaco, nos arredores de Luanda.
Advogado fala em “pressão emocional”
Luís Nascimento, advogado Luaty Beirão, afirma que o luso-angolano terminou a greve de fome devido à grande pressão emocional que o ativista recebeu, através da carta da mulher mas não só. Entrevista do advogado Luís Nascimento ao jornalista da Antena 1 Nuno Rodrigues
Para o advogado, também o apelo dos outros 14 ativistas para “que Luaty Beirão não se armasse em mártir” foi um dos motivos para que o ativista colocasse um ponto final na greve de fome.
Luís Nascimento considera que com esta greve de fome, Luaty Beirão “acha que conseguiu mobilizar a sociedade angolana que estava apática e na prática colocar a nu uma série de debilidades do sistema”.
Luaty Beirão exigia aguardar julgamento em liberdade ou que a prisão preventiva fosse devidamente fundamentada.
“Junho vai longe. Passámos muitos dias presos em solitárias, alguns sem comer, com muitas saudades de quem nos é próximo. Pelo caminho sentimos a solidariedade da maioria dos prisioneiros e funcionários. Tivemos apoio de família e amigos”, afirma Luaty Beirão na carta. A jornalista da Antena 1, Cristina Santos, lê a carta que o ativista enviou aos companheiros detidos
O músico é um dos 15 ativistas angolanos detidos em prisão preventiva desde junho, sob acusação de atos preparatórios para uma rebelião em Angola e um atentado contra o Presidente da República, José Eduardo dos Santos.
“Nas últimas semanas, em que mantive a greve de fome que decidimos em conjunto, muita coisa mudou. Tive oportunidade de me aperceber do que nos espera lá fora e quero partilhar convosco o que vi”, acrescenta.
“Vi pessoas da nossa sociedade, que lutaram pelo nosso país e viveram o que estamos a viver, a saírem da sombra e a comprometerem-se em nossa defesa, para que a história não se repita. Vi pessoas de várias partes do mundo, organizações de cariz civil, personalidades, desconhecidos com experiências de luta na primeira pessoa que, sozinhas ou em grupo, se aglomeraram no pedido da nossa libertação”.
Segundo Luaty Beirão, “já o sentíamos antes, mas não com esta dimensão. Muito acima das nossas melhores expetativas. E está longe de abrandar. Todos os dias há notícias de anónimos, personalidades ou instituições que se juntam pela nossa libertação”.
Texto dedicado aos companheiros
Na carta dedicada a Domingos da Cruz, Afonso Matias “Mbanza Hamza”, José Gomes Hata, Hitler Jessia Chiconda “Samussuku”, Inocêncio Brito, Sedrick de Carvalho, Fernando Tomás Nicola, Nelson Dibango, Arante Kivuvu, Nuno Álvaro Dala, Benedito Jeremias, Osvaldo Caholo, Manuel Baptista Chivonde “Nito Alves” e Albano Evaristo Bingo, o ativista afirma: “Conseguimos muita atenção em volta da nossa causa. Muita dela recai sobre mim. Por isso pedi para me juntar a vocês em São Paulo e assim, podermos falar a uma só voz”.
Os restantes 14 ativistas aguardam julgamento no hospital-prisão de São Paulo, em Luanda, tendo Luaty Beirão pedido anteriormente para sair da clínica privada onde se encontra por precaução para se juntar aos colegas, em solidariedade.
A 21 de outubro, o grupo de detidos tinha apelado a Luaty Beirão para que colocasse um ponto final que parasse com a greve de fome. “No nosso país muita coisa mudou e outras lamentavelmente se repetem. (…) Ainda assim, a força parece desproporcional. Não vejo sabedoria do outro lado. Digo-vos o que disse noutras situações semelhantes: vamos dar as costas. E voltar amanhã de novo. Vou parar a greve”, sublinha.
Desde o início da greve de fome de Luaty Beirão, a 21 de setembro, a sociedade civil tem realizado ações de solidariedade. Não só em Angola como noutros países – Portugal, Brasil, Reino Unido, Estados Unidos . E a essa sociedade, Luaty agradece.
“À sociedade. Não vou desistir de lutar, nem abandonar os meus companheiros e todas as pessoas que manifestaram tanto amor e me encheram o coração. Muito obrigado. Espero que a sociedade civil nacional e internacional e todo este apoio dos media não pare”.
Já antes, quando da detenção, vários grupos angolanos e internacionais apelaram à libertação dos presos políticos em Angola, exigindo justiça e celeridade para a resolução do processo.
Presos políticos
Além dos 15 detidos em junho, há ainda a contabilizar as ativistas Laurinda Alves e Rosa Conde – constituídas arguidas no mesmo processo a 31 de agosto – que aguardam julgamento em liberdade.
E ainda Domingos Magno, detido a 15 de outubro, por “falsa qualidade”, ao ter, indevidamente, na sua posse um passe de imprensa que lhe daria acesso à Assembleia, onde pretendia assistir ao discurso sobre o Estado da Nação.
Segundo o jornal Rede Angola “é também considerado preso político Marcos Mavungo, detido há seis meses e condenado no dia 14 de setembro a seis anos de prisão, acusado de crime de rebelião contra o Estado”.
Também a eles Luaty Beirão dedica a carta.
“Estou inocente do que nos acusam e assumo o fim da minha greve de fome. Sem resposta quanto ao meu pedido para aguardarmos o julgamento em liberdade, só posso esperar que os responsáveis do nosso país também parem a sua greve humanitária e de justiça. De todos os modos, a máscara já caiu. A vitória já aconteceu”, frisa.
“Abracemos todo o amor que recebemos e agarremos todas as ferramentas. Juntos. Já não somos os ‘arruaceiros’. Já não somos os “jovens revús”. Já não estamos sós. Em Angola, somos todos necessários. Somos todos revolucionários”, acrescenta.
O julgamento de Luaty Beirão e dos restantes ativistas está marcado para 16 de novembro, no Tribunal de Cacuaco, nos arredores de Luanda.
Advogado fala em “pressão emocional”
Luís Nascimento, advogado Luaty Beirão, afirma que o luso-angolano terminou a greve de fome devido à grande pressão emocional que o ativista recebeu, através da carta da mulher mas não só. Entrevista do advogado Luís Nascimento ao jornalista da Antena 1 Nuno Rodrigues
Para o advogado, também o apelo dos outros 14 ativistas para “que Luaty Beirão não se armasse em mártir” foi um dos motivos para que o ativista colocasse um ponto final na greve de fome.
Luís Nascimento considera que com esta greve de fome, Luaty Beirão “acha que conseguiu mobilizar a sociedade angolana que estava apática e na prática colocar a nu uma série de debilidades do sistema”.