Lula da Silva admite crise política no Brasil

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou, em carta à Confederação Nacional dos Bispos (CNBB), instância máxima da Igreja Católica no Brasil, ter "plena noção da gravidade" da crise política no país.

Agência LUSA /

A carta, enviada na terça-feira, foi lida durante a 43ª Assembleia Geral da CNBB, que reúne cerca de 300 bispos do Brasil em Indaiatuba, em São Paulo, até o próximo dia 17.

"Todos os erros e desvios devem ser apurados e punidos, doa a quem doer", escreveu Lula da Silva.

"Tenho a esperança - prosseguiu - de que este seja um processo purificador para a vida política do país".

Confessando que a actual crise o entristece, afiançou, no entanto, que ela não abate o seu ânimo nem a disposição de trabalhar e governar.

Alguns bispos interpretaram a carta como uma tentativa do presidente brasileiro de ganhar apoio da Igreja e evitar críticas acirradas ao seu governo durante a Assembleia.

Na terça-feira, uma comissão de padres, freiras e religiosos ligados à CNBB apresentou um documento que faz duras críticas ao governo Lula da Silva.

"As medidas encaminhadas pelo Executivo tomaram um cunho neo-liberal, tanto no plano económico, quanto no plano social", lê-se no documento.

Os religiosos também criticaram o Partido dos Trabalhadores, considerando que "o PT entrou no jogo do clientelismo e escorregou para a corrupção, aliás, cometendo erros infantis".

O documento servirá de base para que os bispos elaborem uma declaração oficial sobre a actual crise política brasileira.

O escândalo de corrupção política no Brasil começou a 14 de Maio com a divulgação de uma gravação de vídeo em que um então funcionário dos Correios recebia três mil reais (mil euros) para favorecer uma empresa privada.

Envolvido nas denúncias, o deputado Roberto Jefferson, então presidente do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), aliado do governo, acusou o Partido dos Trabalhadores, no início de Junho, de pagar mesadas de 10 mil euros a parlamentares em troca de votos favoráveis ao governo do Congresso.

Uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) criada no Congresso para investigar as denúncias acabou por revelar a existência de um "saco azul" do PT.

O "saco azul" era movimentado através das empresas de publicidade de Marcos Valério de Souza, por meio de levantamentos bancários de grandes quantias em dinheiro.

Os recursos foram utilizados para pagamento de dívidas de campanha e supostamente também para pagar as "mesadas" de deputados em troca de apoio político.

Roberto Jefferson acusou também o antigo ministro da Casa Civil da Presidência José Dirceu de tentar que a empresa Portugal Telecom financiasse ilegalmente partidos brasileiros.

José Dirceu e a Portugal Telecom negaram de forma veemente as declarações de Jefferson.

Todas as denúncias continuam a ser analisadas por duas comissões de inquérito instaladas no Congresso e podem resultar na cassação do mandato de vários parlamentares, entre eles Roberto Jefferson e José Dirceu.

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