Lula da Silva defende mudança da geografia económica da América do Sul

O presidente brasileiro, Luiz Inacio Lula da Silva, defendeu hoje, em Caracas, "a integração da América do Sul" como alternativa à "geografia económica" do mundo.

Agência LUSA /

"Uma parte do século XX foi europeia, a outra parte foi dos Estados Unidos, se tivermos consciência e agirmos com ousadia teremos condições para fazer do século XXI o século da Venezuela, do Brasil e da América do Sul", sublinhou o presidente brasileiro.

Falando na sessão de abertura do Encontro Empresarial Venezuela-Brasil, que teve lugar no palácio presidencial de Miraflores, Lula da Silva realçou: "a solução para as economias da América do Sul não está no Norte (EUA), está na nossa integração".

"A integração da América do Sul é prioridade número um da política externa do meu governo e exige o aumento dos intercâmbios comerciais no contexto dum acordo regional", frisou.

"Não temos o direito de deitar fora a oportunidade de podermos mudar a geografia comercial do mundo", disse, realçando a necessidade de "concretizar (com a Venezuela) uma aliança estratégica, profunda, que tenha em conta as potencialidades dos dois países, os conhecimentos científicos e tecnológicos".

A "aliança estratégica" entre o Brasil e a Venezuela será delineada numa vintena de documentos, em várias áreas, incluindo a militar, a assinar pelos dois governantes antes da conclusão da visita oficial de 24 horas de Lula da Silva.

"Tem que ser feito duma maneira tão sólida que, mesmo quando deixar de existir Lula ou Chávez no poder, as sociedades brasileira e venezuelana tenham a convicção da importância do processo, para que tenha continuidade e ambas as nações possam usufruir das riquezas que Deus nos deu", adiantou Lula da Silva.

Depois de referir que ambos os presidentes do Brasil e da Venezuela têm ainda dois anos de mandato, o responsável brasileiro convidou os presidentes da Venezuela, Hugo Chávez, da Argentina, Néstor Kirchner, e do Peru, Alejandro Toledo, a deixar uma "herança ao seu povo", contribuindo para que a América do Sul "atinja a maioria política e económica, adoptando a liberdade e a soberania como repartição das riquezas".

"Se dedicarmos os próximos dois anos à integração da América do Sul, à política de complementaridade entre os países, vamos dar um passo gigantesco", disse.

Lula da Silva ressaltou a materialização de diversos acordos, entre eles na área petrolífera e do gás, iniciados em 2003, altura em que, disse, o comércio bilateral ascendeu a 1.600 milhões de dólares (1,2 mil milhões de euros).

O presidente brasileiro considerou que as trocas comerciais bilaterais deverão ascender a três mil milhões de dólares em 2005.

Lula deu os parabéns a Chávez pela "sabedoria" com que tratou as recentes divergências com a Colômbia e congratulou-se com os resultados do referendo de Agosto de 2004, que ratificou a permanência de Hugo Chávez no poder.

"As divergências políticas são inerentes à democracia e só existem onde existe democracia. O povo venezuelano deu uma demonstração extraordinária de que é dono do seu nariz, dos seus actos", declarou.


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