Lula da Silva em Portugal. Tempo de pensar no futuro e de "alargar mais e mais horizontes"

por Inês Moreira Santos - RTP
Ricardo Stuckert - RTP

Depois do encontro entre Marcelo Rebelo de Sousa e Lula da Silva, no Palácio de Belém, os dois chefes de Estado falaram aos jornalistas em conferência de imprensa. Enaltecendo a figura do homólogo brasileiro e a participação na Cimeira luso-brasileira, o presidente da República falou de paz, de acordos e de "futuro", alargando "mais e mais horizontes". O chefe de Estado do Brasil, por sua vez, agradeceu o convite e o "relançamento" das relações bilaterais entre os dois países.

“Na sequência do convite que formulei no dia primeiro janeiro deste ano, sejam bem-vindos a esta pátria irmã que já acolheu o presidente Lula seis vezes”, começou por dizer Marcelo Rebelo de Sousa, dirigindo-se ao presidente brasileiro e à primeira-dama, recordando as anteriores visitas de Estado oficiais a Portugal do chefe de Estado.

Mencionando declarações de Cavaco Silva, durante a última visita de Lula da Silva a Lisboa, o presidente da República Portuguesa classificou o homólogo como “uma das grandes figuras do nosso tempo e um amigo de Portugal”.

“O seu percurso de vida é, desde muito cedo, o da coragem perante a adversidade, da tenacidade perante os obstáculos, da generosidade perante as dificuldades dos mais fracos”
, recordou o discurso de Cavaco Silva. “Os grandes líderes distinguem-se pela sua capacidade de traduzir ideais em realizações concretas e mobilizadoras da esperança. Esse é indiscutivelmente o caso de Lula da Silva”.

“Eu não diria melhor”
, frisou, em nome próprio, Marcelo Rebelo de Sousa.

“Sejam bem-vindos a esta pátria que tanto deve a centenas de milhares de irmãos brasileiros”, continuou o chefe de Estado português.

Agradecendo a presença e participação do presidente brasileiro e da respetiva comitiva na Cimeira luso-brasileira, Marcelo Rebelo de Sousa afirmou que esta visa “tratar a situação dos nossos Estados, dos nossos povos, desses irmãos brasileiros em Portugal e dos nossos compatriotas no Brasil”.

Esta é uma cimeira que também discutir a construção do futuro “na cooperação científica, na inovação, na criatividade, na tecnologia, no digital, na energia, na educação, na economia”.

“É tempo de futuro, de olhar para a frente, de alargar mais e mais horizontes. É esse o significado primeiro e decisivo da vossa visita”, disse Marcelo, referindo os laços entre Portugal e Brasil com mais de 200 anos.
Ocasião "extraordinariamente especial"
Lula da Silva, em discurso no Palácio de Belém, começou por dizer que “é sempre com prazer” que reúne com “amigos portugueses”.

“Hoje a ocasião é totalmente especial: realizo a minha primeira visita de Estado deste meu terceiro mandato e retribuo a gentileza do presidente Marcelo Rebelo de Sousa em comparecer na cerimónia da minha posse”, agradeceu o presidente do Brasil.

E em tom de brincadeira, recordando a visita de Marcelo ao Brasil, Lula disse: “Lá no Brasil, cometeu um lapso: você foi nadar no lago Paranuá. E foi mergulhar e na semana seguinte apareceu um jacaré. Então da próxima vez, por favor, não deixe o presidente Marcelo nadar no lago Paranuá”.

Esta visita também é “especial”, uma vez que marca o “relançamento” das relações bilaterais entre Portugal e Brasil, como frisou Lula, afirmando que debateu com o homólogo português “iniciativas para melhorar” as relações económicas e comerciais e “para dinamizar as atividades culturais e de cooperação educacional”.

“Eu penso que Portugal e o Brasil têm um potencial enorme extraordinário para dobrar o nosso fluxo de comércio exterior”, sublinhou, acrescentando a necessidade de ambos os países serem mais “ousados”, “desaforados” e que “discutam mais, conversem mais e projetem perspetivas de futuro” entre si.

“Eu acho que muitas vezes pecamos porque conversamos pouco. Muitas vezes pecamos porque pensamos que (…) não precisamos de conversar”, comentou. “Mas nós precisamos de conversar porque o papel de um Presidente da República é abrir a porta, mas quem sabe fazer negócio e quem tem competência para fazer negócio são os empresários. Portanto, nós temos de juntá-los em todas as nossas reuniões para que os nossos negócios possam crescer”.

Também os desafios devem ser partilhados, na visão de Lula. “Se é verdade que Portugal descobriu o Brasil em 1500, é verdade que neste século XXI o Brasil descobriu Portugal”.

Nunca houve “tantos brasileiros em Portugal como agora”, salientou ainda, referindo que há muitos cidadãos de classes mais altas a viver em território português.

O presidente do Brasil disse ainda que "não quer agradar a ninguém", sobre o conflito entre a Rússia e a Ucrânia, mas sim encontrar "uma terceira via" para a paz.

"Estamos numa situação em que a guerra entre a Rússia e Ucrânia está a afetar a humanidade (...) e é por isso que temos de encontrar um grupo de pessoas que esteja disposto a falar em paz e não em guerra"
. Por isso, acrescentou: "eu não quero agradar a ninguém, eu quero é construir uma forma de colocar os dois à mesa", lembrando que o que parecia impossível aconteceu na II Guerra Mundial.

Agora, defendeu, Lula da Silva, "o facto está criado, a guerra (...) e eu quero é escolher uma terceira via que é da construção da paz", salientou, assegurando que não vai visitar nenhum dos dois países até que a situação esteja estabilizada.

Por isso, avançou: "Vou falar com mais países (...) e quem sabe um dia, que deve estar perto, a gente vai encontrar um jeito de sentar à mesa para conversar".

Lula da Silva frisou ainda, respondendo às questões dos jornalistas, que, desde o início que a posição do Brasil "é muito clara", de condenação à Rússia pela invasão da Ucrânia, mas de procurar reunir um conjunto de países que possam convencer as duas partes a sentarem-se à mesa para uma negociação.
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