Lula da Silva justifica afastamento da esquerda como "evolução da espécie"

O Presidente brasileiro reconhece que se afastou da esquerda, justificando que mudar a postura política ao longo dos anos faz parte da "evolução da espécie humana", escreve hoje a imprensa brasileira.

Agência LUSA /
Imagem de arquivo de Lula da Silva EPA

"Se você conhecer uma pessoa muito idosa esquerdista, é porque ela está com problemas. Se conhecer uma pessoa muito nova de direita, é porque também está com problemas", afirmou segunda-feira à noite Lula da Silva, sob os risos e aplausos de uma plateia formada por empresários e intelectuais em São Paulo onde recebeu o prémio "Brasileiro do Ano" da revista "IstoÉ".

Na opinião de Lula da Silva, com o passar do tempo, "quem é mais de esquerda vai ficando mais de direita e quem é mais de direita vai ficando mais social-democrata, mais de centro".

"As coisas vão confluindo de acordo com a quantidade de cabelos brancos que você tem e a responsabilidade. Não tem outro jeito", acrescentou.

O Presidente brasileiro citou a título de exemplo a sua mudança de atitude em relação ao deputado federal Delfim Netto, do Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), ex-ministro da Agricultura, das Finanças e do Planeamento durante o regime militar.

"Passei vinte e poucos anos a criticar o Delfim e hoje sou amigo dele", referiu o Presidente Lula.

"Quando a gente tem 60 anos, é a idade do ponto de equilíbrio.

A gente se transformaÓ", disse, voltando a enfatizar a sua vontade de "destravar" o Brasil para que o país tenha um crescimento económico sustentável.

Defendeu, ao mesmo tempo, mudanças para que a legislação ambiental não seja um entrave para a aprovação de projectos.

"Ou nós estabelecemos um marco jurídico que resolva isso definitivamente, ou ninguém vai acreditar que os nossos projectos podem dar certo neste país", sublinhou.

O sector mineral divulgou uma nota a endossar a posição de Lula da Silva em relação aos entraves que emperram projectos de infra- estrutura, lembrando que sofre as mesmas dificuldades, como a lentidão nas concessões de licenciamento ambiental.

Hoje, os principais executivos do sector, entre eles os presidentes das duas maiores mineiras do mundo, Roger Agnelli, da Companhia Vale do Rio Doce, e Eleazar de Carvalho Filho, da BHP Billiton Brasil, reúnem-se em Brasília para discutir o problema.

As constantes declarações do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva de que é preciso retirar "entraves ambientais" para desenvolver o Brasil têm deixado preocupados os ambientalistas.

No final de Novembro, o Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), presidido pela ministra do Ambiente, Marina Silva, aprovou um documento que expressa "indignação" e "preocupação" com esses comentários de Lula da Silva.

"As recentes declarações do Presidente qualificando o meio ambiente, os povos indígenas, os quilombolas, o Ministério Público e o Tribunal de Contas da União como entraves ao desenvolvimento do país causam-nos preocupação e indignação, pois sinalizam retrocesso na legislação e na garantia de direitos conquistados pela sociedade brasileira`, diz o texto.

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