Lula deverá ser candidato do PT nas presidenciais 2006 - José Dirceu

O ex-ministro da Casa Civil José Dirceu defendeu hoje que o Presidente brasileiro, Luís Inácio Lula da Silva, deverá ser o candidato do Partido dos Trabalhadores (PT) nas eleições presidenciais de 2006.

Agência LUSA /

"Lula tem de ser candidato. Não tem alternativa até pela própria história dele", disse num encontro com correspondentes estrangeiros em Brasília José Dirceu, o antigo "homem forte" do Governo, que luta hoje para salvar seu mandato de deputado federal.

José Dirceu admitiu que a campanha será dura, mas disse acreditar que um terço do eleitorado brasileiro votará em Lula da Silva em 2006.

Considerou ainda que os maiores adversários serão o candidato do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), o actual presidente da Câmara de São Paulo, José Serra, ou o governador paulista, Geraldo Alckmin.

Na opinião do ex-ministro, "não se pode subestimar" também a eventual candidatura do ex-governador e actual secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro, Anthony Garotinho, do Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB).

José Dirceu disse que se o candidato do PT ganhar as eleições presidenciais do próximo ano "o maior desafio será o da governabilidade" e que uma aliança com o PMDB será "fundamental".

Se o PBSD ganhar, entretanto, "vai colher tempestade", advertiu o deputado, numa sinalização de que o PT fará uma oposição ferrenha, em represália às tentativas actuais do partido oposicionista de "desestabilizar o governo e criminalizar o PT".

O deputado rejeitou a possibilidade de uma aliança futura entre PT e PSDB.

Lembrou que não foi provada a existência de um sistema de corrupção dentro do actual governo e que "não há base social para fazer um impeachment" do presidente Lula da Silva.

No caso do PT, em que há provas da utilização de um "saco azul", o partido já reconheceu os erros e pediu desculpas ao país, disse o ex-ministro e um dos fundadores do partido.

"Não estou dizendo que não é grave. +Caixa dois+ ("saco azul") é crime eleitoral e crime penal. Mas não há consistência histórica dizer que o PT é corrupto", assinalou.

Dirceu disse que não pode ser responsabilizado pelo "saco azul" do PT, já que não estava na direcção do partido.

Considerou "um monte de mentiras" as denúncias de envolvimento da Portugal Telecom e do Banco Espírito Santo no escândalo do "mensalão", o alegado esquema de transferência de dinheiro do Partido dos Trabalhadores para deputados em troca de votos favoráveis ao governo.

"Se vão suspender o meu mandato será por uma decisão política.

Mas eu não vou aceitar a suspensão. Vou acatá-la, mas vou continuar lutando pelos meus direitos políticos", afirmou, numa referência à batalha judicial que hoje trava para tentar impedir a perda do mandato de deputado.

No caso da suspensão de seu mandato, José Dirceu ficará inelegível a cargos públicos até 2016.

"Sou sobrevivente de várias lutas. A suspensão do meu mandato ou não é apenas um capítulo", afirmou José Dirceu, que foi exilado em 1969 e viveu na clandestinidade no Brasil na segunda metade dos anos 70, tendo feito cirurgia plástica e adoptado nova identidade.

O antigo ministro forte do governo Lula disse que continuará a ser militante político no Brasil e revelou que está a escrever actualmente um livro sobre os 30 meses em que dirigiu a Casa Civil da Presidência da República.

Reconheceu como erros a saída de muitos dirigentes do PT ao mesmo tempo para integrar o governo, a não consolidação de uma aliança com o PMDB e a falta de reconhecimento do relevante papel da sociedade civil.

O deputado procurou minimizar os actuais atritos sobre a condução da política económica brasileira entre os ministros da Fazenda, Antonio Palocci, e da Casa Civil, Dilma Rousseff, que critica a austeridade fiscal adoptada pela equipa económica do governo Lula da Silva.

O ex-ministro disse que a crise foi criada pela oposição com a ajuda dos media, mas posicionou-se: "Sou solidário com o Palocci neste momento por uma questão política e não por concordar com a condução da política económica".

O deputado participa entre hoje e sábado em actos públicos no Rio de Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte, em defesa do seu mandato.

A votação no plenário da Câmara dos Deputados sobre a suspensão ou não do mandato de José Dirceu deverá ocorrer até o final deste mês.

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