Luto pela rainha. Vaga de críticas de trabalhadores aos sindicatos por cancelarem greves marcadas

por RTP
Kacper Pemper, Reuters

O Reino Unido vem sendo abalado por uma vaga de greves, em especial nos sectores de transportes e comunicações, envolvendo centenas de milhares de trabalhadores. Com a morte da rainha, os sindicatos desconvocaram as greves de dias 9, 15 e 17. Mas numerosos trabalhadores manifestaram a sua revolta contra a decisão.

As greves para obter aumentos salariais correspondentes à inflacção, e assim defender o poder de compra, têm vindo a realizar-se escalonadamente desde junho, envolvendo cerca de 200.000 trabalhadores de telecomunicações, transportes urbanos, comboios, estiva, administração local e correios.

Os 115.000 trabalhadores dos correios iam já para o seu quarto dia de greve, marcado para 9 de setembro, e os 50.000 ferroviários sindicalizados iriam fazer na próxima semana, precisamente em 15 e 17 de setembro, respectivamente os seus sétimo e oitavo dias de greve.

O CWU (Communication Workers Union, sindicato das comunicações) foi duramente criticado nas redes sociais pelos seus associados, que frequentemente lhe propuseram a alternativa de manter a greve, mas retirando os piquetes de greve. Na página de Facebook do sindicato desenvolveu-se uma intensa polémica a este respeito.

No Twitter o sindicato anunciara a desconvocação da greve com um pequeno texto, dizendo: "Na sequência da notícia muito triste do falecimento da rainha e em tributo ao serviço que ela prestou ao país e por respeito à sua família, o sindicato decidiu desconvocar a acção de greve marcada para amanhã".

As reacções críticas por parte dos trabalhadores não se fizeram esperar, sublinhando nomeadamente o facto de a empresa já ter procedido ao desconto dos dias de salário, a partir do momento em que foi entregue o pré-aviso de greve. Os trabalhadores foram portanto trabalhar numa  jornada não paga.

Algumas das críticas atingiram um grau de violência verbal insólito na relação entre os trabalhadores britânicos e os seus sindicatos. Num caso, um trabalhador acusou o sindicato de expor os seus associados a acções disciplinares por "preferir lamber as botas de uma morta", aludindo ao facto de que nem todos os trabalhadores foram avisados a tempo sobre a desconvocação da greve por Twitter e portanto irão ter uma falta injustificada.
Um outro não poupa o sindicato ao violento sarcasmo de lhe dizer que acha bem desconvocarem a greve por causa da morte da rainha, embora nunca se tivesse apercebido de que "isso" [a morte da rainha] era uma das suas reivindicações.
O sindicato ferroviário RMT, por seu lado, cancelou as greves marcadas para dias 15 e 17, sujeitando-se a críticas dos seus associados que consideram essa decisão ainda mais gravosa que a do CWU, por consistir na desconvocação de tudo o que estava agendado e não apenas da parte relativa aos dias de luto pela rainha. Com efeito, o CWU tem uma greve marcada para dia 30 e essa mantém-se, ao passo que o RMT não tem agora mais nenhuma no horizonte.
Meia hora depois de ser anunciada a morte da rainha, o RMT tinha feito um tweet com o título “RIP Queen Elizabeth II”, e com o texto: "RMT junta-se a toda a nação em prestar tributo à rainha Isabel. A greve ferroviária planeada para 15 e 17 de setembro fica suspensa. Expressamos as nossas mais sentidas condolências à sua família, amigos e ao país".

A vaga de críticas de associados fez com que o sindicato retirasse o tweet, mas não alterou a decisão de suspender os dois dias de greve.
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