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Macron. Suspensão de venda de armas à Arábia Saudita é "pura demagogia"
O Presidente francês, Emmanuel Macron, opõe-se ao coro internacional de apelos de suspensão da venda armas a Riade, em retaliação pelo assassínio do jornalista saudita Jamal Khashoggi. "É pura demagogia", afirmou esta sexta-feira. As suas verdadeiras razões estarão contudo próximas das invocadas pelo Presidente Donald Trump para se mostrar contra tal decisão.
A venda de armamento "não tem nada a ver com o sr Khashoggi, não se deve confundir", explicou Emmanuel Macron numa conferência de imprensa em Bratislava, Eslováquia.
"Qual é a ligação entre a venda de armas e o assassínio do sr Khashoggi? Percebo a ligação ao que se está a passar no Iémen mas não há ligação com o senhor Khashoggi", exclamou o Presidente francês.
Macron subscreve uma tomada de posição "europeia, em todos os domínios", passando por sanções, e somente "uma vez estabelecidos os factos" sobre o assassínio do jornalista no início de outubro, no consulado saudita em Istambul, Turquia.
Coro contra a venda de armas
O Parlamento Europeu instou os países europeus a suspenderem a venda armas a Riade. E a ministra austríaca dos Negócios Estrangeiros, Karin Kneissl, cujo país detém atualmente a presidência da União Europeia, concorda.
Na imprensa alemã esta sexta-feira, Kneissl disse que a União Europeia devia suspender a venda de armamento à Arábia Saudita em retaliação pela morte de Khashoggi, afirmando que poderia também ajudar a pôr fim "à terrível guerra no Iémen".
Também a Alemanha já afirmou que deverá deixar de aprovar a venda de armas a Riade enquanto o assassínio de Khashoggi não for esclarecido. Berlim estará a pressionar a União Europeia a assumir a mesma decisão.
A chanceler alemã, Angela Merkel, já classificou a morte como um ato "monstruoso" e esta sexta-feira, voltou a referir-se ao assunto. "É necessário clarificar o pano de fundo deste incidente horroroso", afirmou em Praga numa conferência de imprensa ao lado do primeiro-ministro checo Andrej Babis.
"E, se isso não suceder, nós não iremos entregar quaisquer armas à Arábia Saudita", garantiu.
"E, se isso não suceder, nós não iremos entregar quaisquer armas à Arábia Saudita", garantiu.
O primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, afirmou igualmente estar a reconsiderar a venda de armamento a Riade.
Já Donald Trump, Presidente dos Estados Unidos, mostra reticências. "Não aprecio a ideia de pôr fim a um investimento de 110 mil milhões de dólares", declarou Trump, referindo-se à mais recente encomenda de material militar americano pela Arábia Saudita.
Sauditas e as armas francesas
Para a França, a suspensão da venda de armas aos sauditas poderá igualmente ter sérias consequências económicas, sobretudo numa altura em que a Bélgica preferiu adquirir caças F-35 americanos para substituir os seus F-16, em detrimento do Rafale francês.
A Arábia Saudita é o segundo maior cliente de armamento francês e financiou em parte a aquisição pelo Egipto de caças Rafale e de porta helicópteros Mistral, em 2015. Na altura, Emmanuel Macron era ainda ministro da Economia, Jean-Yves Le Drian ministro da Defesa, e o general egípcio Abdul Fatah Khalil al-Sissi tinha derrubado o Presidente eleito Mohamed Morsi.
Riade ajudou a 'desbloquear' a venda de 24 aviões Rafale ao Cairo, que os pretendia para intervir na Líbia e no Sinai, e cuja fatura se elevou a cinco mil milhões de euros. Depois, ajudou os egípcios a adquirir os dois navios Mistral, encomendados pela Rússia mas cuja venda o então Presidente francês François Hollande decidiu suspender. A fatura de 950 milhões de euros foi paga na sua quase totalidade pelos sauditas.
O relatório anual oficial sobre as exportações de armamento de França publicado em junho de 2018, indica precisamente a Arábia Saudita como segundo maior cliente na última década, atrás da Índia e à frente do Qatar, do Egipto, do Brasil e dos Emirados Árabes Unidos.
Em 2017, Paris vendeu oficialmente armamento a Riade no valor de 1.38 mil milhões de euros, só ultrapassado pelas vendas ao Egipto. É preciso sublinhar, contudo, que a maioria destas foi paga por Riade, o que faz dos sauditas os maiores clientes das armas de fabrico francês.