Madagáscar reconhece chefe do Estado-Maior escolhido por unidade militar

O ministro das Forças Armadas do Madagáscar reconheceu hoje como chefe do Estado-Maior um oficial escolhido por uma unidade militar que se colocou ao lado dos manifestantes exigindo a saída do presidente Andry Rajoelina.

Lusa /
Ativistas num protesto em Antananarivo, Madagáscar, a 11 de outubro. Foto: Razafindrakoto Mamy - EPA

O general Démosthène Pikulas foi empossado como chefe do Estado-Maior das Forças Armadas numa cerimónia no Estado-Maior, com a presença do ministro das Forças Armadas, Manantsoa Deramasinjaka Rakotoarivelo.

"Dou-lhe a minha bênção", declarou o ministro, referindo-se a Pikulas, que foi escolhido pela unidade CAPSAT, a qual se juntou, no sábado, aos protestos antigovernamentais.

Uma unidade militar malgaxe anunciou no domingo que assumia o controlo das forças armadas, declarando que "doravante, todas as ordens do Exército malgaxe - terra, ar e mar - emanarão do quartel-general do CAPSAT" (Corpo de Armas do Pessoal e dos Serviços Administrativos e Técnicos), numa declaração em vídeo.

Soldados do CAPSAT participaram também numa cerimónia em Antananarivo em homenagem às vítimas mortais das manifestações, sendo recebidos com entusiasmo pelos civis.

Até ao momento, não houve reação oficial do comando militar sobre esta decisão.

O país tem sido, nas últimas duas semanas, palco de um movimento de protesto desencadeado por frustrações com os cortes incessantes de água e eletricidade, que evoluiu para uma contestação mais ampla, nomeadamente dirigida contra o Presidente Andry Rajoelina, de 51 anos.

Milhares de manifestantes, instigados pelo movimento "Gen Z" - jovens nascidos entre 1997 e 2012 -, voltaram a reunir-se na quinta-feira em Antananarivo, capital de Madagáscar.

Pelo menos 22 pessoas morreram nas manifestações e cerca de 100 ficaram feridas, segundo um balanço da ONU de 29 de setembro, números que o chefe de Estado classificou na quinta-feira como "errados".

Depois de um tom inicialmente conciliador e da demissão do Governo, o Presidente mudou de posição ao nomear um militar como primeiro-ministro, assim como três novos ministros - das Forças Armadas, da Segurança Pública e da Polícia.

Inspirados pelas recentes mobilizações juvenis no Quénia e no Nepal, estes protestos são considerados os mais graves que a ilha vive há vários anos e representam o maior desafio político para Rajoelina desde a sua reeleição em 2023.

Andry Rajoelina foi eleito pela primeira vez em 2018 e reeleito em 2023, num sufrágio boicotado pela oposição e marcado por uma elevada abstenção, com mais de metade dos eleitores inscritos a não votar.

Em reação às recentes nomeações no Governo, mais de 200 organizações da sociedade civil malgaxe expressaram na quinta-feira preocupações sobre o risco de uma deriva autoritária e de uma governação militar no país.

Também na quarta-feira, o secretário-geral da ONU, António Guterres, apelou às autoridades malgaxes para que respeitem o direito internacional dos direitos humanos durante os protestos.

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