Mães da Praça de Maio cumprem última Marcha da Resistência

As Mães da Praça de Maio completam hoje em Buenos Aires a 25ª e última Marcha da Resistência frente à sede do Governo argentino, coincidindo com a 1500ª das habituais vigílias de quinta-feira, que irão continuar.

Agência LUSA /

Hebe de Bonafini, a presidente da associação, justificou a sua decisão com o facto de o Presidente Nestor Kirchner ter respondido a grande parte das aspirações das mães dos "desaparecidos" da ditadura militar (1976-1983).

"Já não temos um inimigo no Casa do Governo. Não é que as Mães tenham mudado, é que há um novo momento político no país e na América Latina", explicou Bonafini ao diário argentino Página/12.

Para as Mães, o Presidente Kirchner, oriundo da ala mais à esquerda do Partido Justicialista (peronista), é um "amigo".

"Fez coisas que nós julgávamos impossíveis, como por exemplo nomear uma mulher para o Ministério da Defesa (Nilda Garré) que vai mudar a forma como são instruídos os militares, o que para nós era um sonho", disse a mesma Bonafini à AFP.

Duas dezenas e meia de Mães, a mais nova com 74 anos, começaram a marcha na quarta-feira às 18:00 argentinas (21:00 em Portugal) ao som da Internacional em redor do obelisco colocado na Praça de Maio, onde desde 1977 se manifestam para exigir informações sobre os seus familiares desaparecidos durante o regime militar.

Apesar de a vigília das quintas-feiras prosseguir, a Marcha da Resistência, feita uma vez por ano desde há 25 anos, acaba hoje em vez de, como habitualmente, a 08 de Dezembro, de modo a coincidir com a 1500ª das vigílias de quinta-feira.

"Se conseguimos obter alguma coisa é porque nunca abandonámos a luta, nem por um minuto", garantiu Bonafini.

Os partidos de esquerda acompanharam as Mães nesta ocasião histórica que começou com um concerto de vários cantores, músicos e bandas iniciado na quarta-feira às 18:00 e que se prolongou pela madrugada de hoje.

Para a ocasião, o obelisco da Praça de Maio, baptizado como "a pirâmide" - bem mais pequeno que o Obelisco, situado na avenida 9 de Julho e símbolo da cidade - foi coberto com retratos a preto e branco dos 30.000 desaparecidos da ditadura argentina.

Dedicada aos seus filhos desaparecidos, mas também às "empresas recuperadas" pelos seus assalariados, esta última Marcha da Resistência também mostra a militância que levou o movimento a assumir contornos mais políticos e provocou mesmo dissidências, com o surgimento das Mães da Praça de Maio-Linha Fundadora e as Avós da Praça de Maio.

"As mães sempre estiveram implicadas nas lutas sociais. Pelo menos desde 1986, que foi a primeira vez em que nos integrámos numa greve de fome, dessa vez ao lado dos estudantes de medicina", adianta Hebe de Bonafini.

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