Mais de 100 manuscritos de Einstein expostos ao público pela primeira vez

Uma coleção de 110 manuscritos de Albert Einstein, a maioria dos quais nunca antes revelados ao público, foi exposta em Jerusalém pela Universidade Hebraica de Israel esta quarta-feira, dias antes do 140.º aniversário do físico. Os documentos incluem cartas pessoais, notas matemáticas e princípios científicos que se pensavam desaparecidos.

RTP /
Entre os manuscritos encontram-se notas matemáticas escritas à mão Ronen Zvulun - Reuters

Os documentos foram doados por uma fundação de Chicago, nos Estados Unidos, depois de esta os ter adquirido a um colecionador do Estado da Carolina do Norte.

Entre os manuscritos encontram-se notas matemáticas escritas à mão entre 1944 e 1948, assim como o apêndice de uma publicação sobre a Teoria do Campo Unificado, que o físico apresentou à Academia de Ciências da Prússia em 1930.

Outro documento consiste numa explicação precisa acerca do princípio básico da física da bomba atómica e dos reatores nucleares.

“Estes manuscritos refletem a forma como Einstein pensava e o modo como trabalhava. A maioria deles são cálculos matemáticos escritos à mão e com muito pouco texto”, explicou o professor Hanoch Gutfreund, da Universidade Hebraica de Israel.
Cartas pessoais
De acordo com o diário israelita Haaretz, um dos 110 manuscritos é uma carta escrita em alemão por Einstein ao seu amigo próximo Michele Besso, um engenheiro judeu que na altura se tinha convertido ao cristianismo.

“Certamente não irás para o inferno, mesmo que tenhas sido batizado”, escreveu o físico. “Tu, que deixaste o judaísmo, não és obrigado a estudar a língua dos nossos antepassados, enquanto eu, um ‘santo judeu’, deveria ter vergonha por quase nada saber. Mas prefiro ter vergonha a ter de a aprender”, acrescentou.

Outra das cartas foi redigida em 1935 e é dirigida ao filho de Einstein, Hans Albert, que na altura residia na Suíça. A missiva descreve a preocupação do pai com a ameaça de guerra, mas também o otimismo do físico, mesmo estando já a completar-se dois anos da chegada ao poder dos nazis.

“Li com alguma preocupação acerca de um movimento significativo na Suíça, incentivado pelos bandidos alemães. Mas acredito que até na Alemanha as coisas começam a mudar. Esperemos que não haja uma guerra na Europa antes disso”, escreveu Einstein.
A natureza da luz
Outras três cartas, todas escritas em 1916, são sobre o trabalho de Einstein acerca da emissão e absorção de luz por átomos. Numa quarta missiva, escrita em 1951, o cientista reconhece que, em quase cinco décadas, não conseguiu alcançar uma conclusão sobre a natureza da luz.

Cinquenta anos de reflexão não me aproximaram da resposta à questão do que são as partículas de luz. Hoje em dia todos pensam que sabem a resposta, mas estão enganados”, defendeu.

Einstein, que renunciou à cidadania alemã depois de Hitler chegar ao poder, passando a residir nos Estados Unidos, foi o vencedor do Prémio Nobel da Física em 1921.

Antes de morrer em Nova Jérsia, em 1955, deixou à Universidade Hebraica a maioria dos seus apontamentos científicos e pessoais, uma vez que foi um dos fundadores da instituição.

Os Arquivos de Albert Einstein, que se encontram num dos campus da universidade, em Jerusalém, contêm mais de 80 mil documentos.
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