Mais de 10.000 famílias deslocadas em Chiúre
O Mecanismo de Resposta Rápida (MRR) estima que mais de 10 mil famílias tenham fugido, em menos de uma semana, de aldeias do posto administrativo de Chiúre Velho, na província moçambicana de Cabo Delgado, após novos ataques.
"Entre 24 e 28 de julho, a escalada de ataques e o aumento do medo de violência por parte de grupos armados não estatais nas aldeias de Nantova, Micolene, Ntonhani e Chiúre Velho, no posto administrativo de Chiúre Velho, provocaram a deslocação de 10.075 famílias", lê-se num relatório de campo daquela plataforma, que visa fornecer assistência imediata e coordenada a populações afetadas por crises.
Segundo o MRR, as famílias refugiaram-se na sede de Chiúre, distrito do sul da província, palco de ataques de grupos armados desde 24 de julho, nos centros de Micomi (6.329 agregados) e Namassir (5.297 agregados), "com as autoridades enviando os recém-chegados para locais de deslocados internos próximos".
O MRR é implementado por meio de uma colaboração entre várias organizações, incluindo o Governo de Moçambique, agências das Nações Unidas, organizações não-governamentais e a Cruz Vermelha, com o objetivo principal de responder rapidamente às necessidades das emergências, garantindo que as pessoas mais vulneráveis recebam apoio vital, como alimentos, abrigo, água, saneamento e proteção.
De acordo com o mecanismo, uma avaliação levada a cabo, entre finais de julho e início deste mês, com parte dos agregados familiares afetados pelos conflitos armados naquele posto administrativo, permitiu identificar que 96% das famílias têm a alimentação como uma das três principais necessidades e 67% ressentem-se da falta de abrigo.
"Cerca de 67% das famílias pretendem regressar ao seu local de origem nos 30 dias seguintes à recolha dos dados, sendo a falta de segurança (94%) e o trauma psicológico (12%) referidos como as principais barreiras ao regresso", avança.
Em resposta à insegurança naquela região, o MRR explica que equipas de organizações de apoio realizaram uma avaliação rápida das necessidades nos centros de Miconi e Namissir, "para identificar as necessidades mais urgentes dos deslocados".
Pelo menos três corpos foram encontrados no posto administrativo de Chiúre Velho, na província moçambicana de Cabo Delgado, disse hoje à Lusa fonte oficial.
Segundo fonte da Força Local (paramilitares que apoiam o combate aos grupos de rebeldes que atuam em Cabo Delgado desde 2017), os corpos, baleados, foram encontrados na terça-feira, nas matas da localidade, numa zona de produção de mandioca, milho e gergelim, a cerca de 30 quilómetros da vila sede de Chiúre, sul da província.
"São corpos de maiores de idade, acharam e comunicaram as autoridades do distrito, mas ninguém sabe quem são porque o estado dos corpos não é dos melhores", relatou a mesma fonte, a partir de Chiúre.
Mais de 57 mil pessoas foram deslocadas desde 20 de julho em Cabo Delgado após o recrudescimento de ataques de extremistas, segundo dados da Organização Internacional para as Migrações (OIM).
De acordo com o mais recente relatório da OIM, com dados de 20 de julho a 03 de agosto, divulgado esta semana, "a escalada de ataques e o crescente medo de violência" por parte de grupos armados não estatais nos distritos de Muidumbe, Ancuabe e Chiúre levaram à deslocação de 57.034 pessoas, num total de 13.343 famílias.
Elementos associados ao grupo extremista Estado Islâmico reivindicaram na segunda-feira novos ataques nos distritos de Chiúre e Muidumbe, com pelo menos cinco pessoas decapitadas, num momento crescente de violência naquela província moçambicana.
Vários distritos de Cabo Delgado, sobretudo Chiúre, estão a registar uma crescente atividade por parte de elementos destes grupos nos últimos dias. Na semana passada, extremistas reivindicarem também a decapitação, em locais diferentes, de pelos menos três cristãos moçambicanos.