Mais de 18 mil alunos em risco de perder exames em Nampula

Mais de 18 mil alunos do distrito de Memba, norte de Moçambique, arriscam perder os exames finais deste ano letivo, nas próximas semanas, devido à insegurança provocada pelos ataques terroristas na província de Nampula, foi hoje anunciado.

Lusa /

"Desde o dia 30 de setembro de 2025 os postos administrativos de Lúrio e Chipene têm sido palco de ações armadas, que resultaram na paralisação das aulas em 33 escolas, afetando 18.740 alunos e 160 professores", afirmou o diretor do Serviço Distrital de Educação, Juventude e Tecnologia de Memba, Silvério Rassul.

O responsável acrescentou que, nestas incursões - segundo dados oficiais com registo de pelo menos 370 casas incendiadas - de grupos insurgentes, que atuam na vizinha província de Cabo Delgado desde 2017, "foi incendiado um bloco administrativo na Escola Primária de Inacuto, com destruição de arquivos e diversos documentos escolares nas comunidades de Napera e Munari".

De acordo com o dirigente, alunos da 6.ª classe e da 9.ª à 12.ª classes correm o risco de não realizar os exames da primeira chamada do ano letivo de 2025, que termina nas próximas semanas.

"Neste momento há algum movimento no nosso distrito, não na vila, mas em algumas comunidades, e estamos preocupados com esta situação", disse ainda Silvério Rassul, revelando que alguns professores conseguiram escapar da violência.

"Recebi agora uma mensagem de dez colegas que estavam na mata entre o posto administrativo de Lúrio e o distrito vizinho de Mecufi, mas que já atravessaram a margem do rio Lúrio para uma comunidade vizinha do nosso distrito", relatou.

Por sua vez, embora sem avançar dados, o diretor provincial da Educação em Nampula, William Tunzine, reconheceu que a situação ultrapassa o distrito de Memba, pois estende-se igualmente a Eráti, onde há zonas em que a segurança ainda não foi restabelecida desde então.

"Há uma zona em Eráti que não está muito boa. Este problema que nós já estamos a ter nestes dois distritos, pensávamos que a situação estivesse controlada, mas infelizmente voltaram a ter este problema", lamentou.

O governador da província de Nampula, Eduardo Abdula, assegurou que as autoridades estão a acompanhar de perto o desenrolar da situação e que as Forças de Defesa e Segurança permanecerão nos locais afetados pela insegurança: "Nas áreas onde prevalece a situação de insegurança, vamos aguardar pela informação das forças no terreno. Nos últimos dois dias, as nossas forças estão nos locais, estão a trabalhar".

O governador admitiu que o número de alunos em situação de risco é elevado, mas sublinhou que estão a ser estudadas alternativas. "Estamos a avaliar formas de os movimentar para fazerem exames em zonas seguras, para não pôr em risco a vida dos meninos", afirmou.

As autoridades moçambicanas contabilizaram 370 casas destruídas em Nampula nos ataques terroristas do início deste mês, que provocaram pelo menos um morto e ainda "muitos feridos" entre os insurgentes, disse em 20 de outubro o governador, Eduardo Abdula.

"Queimaram cerca de 370 casas, aproximadamente 370 casas. Esse é o número que eu retive, cerca de 370. E hoje estamos a carregar bens, estamos a levantar os bens. Eu vou ver se conseguimos, ainda hoje, reunir pelo menos um camião para os deslocados lá em Chipene e Lúrio", disse aos jornalistas o governador, após uma visita de vários dias às aldeias atacadas no distrito de Memba.

Quase 93 mil pessoas fugiram de Cabo Delgado e Nampula desde finais de setembro devido ao recrudescimento dos ataques terroristas no norte de Moçambique, duplicando o número de deslocados em poucos dias, segundo anteriores dados da Organização Internacional para as Migrações (OIM).

O Presidente de Moçambique, Daniel Chapo, considerou, em 06 de outubro, como "atos bárbaros" e contra a "dignidade humana" os ataques terroristas que se registam no norte do país.

Cabo Delgado, província rica em gás, é alvo de ataques terroristas há oito anos, com o primeiro registado em 05 de outubro de 2017, no distrito de Mocímboa da Praia.

 

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