Mais de cinco mil deslocados no norte regressaram às zonas de origem em Nampula

As autoridades moçambicanas estimaram hoje que mais de cinco mil deslocados, correspondentes a mais de mil famílias, já regressaram às suas zonas de origem na província de Nampula, norte do país, alvo de ataques terroristas.

Lusa /

"As famílias deixaram tudo para trás devido ao pânico. Hoje, testemunhamos como estão a colaborar com o regresso, mas sabemos que o desafio maior será a alimentação. Por isso, trabalhamos com vários parceiros para garantir que cada família receba o seu kit de apoio", disse a presidente do Instituto Nacional de Gestão e Redução do Risco de Desastres (INGD), Luísa Meque, em declarações à Lusa.

Dados avançados pela responsável indicam que se trata de um total de 5.625 pessoas de 1.127 que se tinham refugiado nos distritos de Eráti e Memba, na província de Nampula, que faz fronteira com Cabo Delgado, esta última alvo da violência desde 2017.

"Deste total, 658 famílias retornaram a Chipene e 469 a Mazua", disse Luísa Meque, esclarecendo que a retoma às zonas de origem é acompanhada de apoio humanitário que visa garantir condições mínimas para a reinstalação.

O INGD recordou que muitas dessas famílias abandonaram as suas casas sem possibilidade de recolher pertences, o que torna o apoio nutricional e material essencial nesta fase. Por esse motivo, as autoridades e organizações parceiras reforçaram a assistência, distribuindo kits básicos que incluem produtos alimentares e utensílios domésticos.

O Governo está a avaliar as intervenções nas áreas de alimentação, saneamento, nutrição, proteção infantil e prevenção da violência baseada no género desde o início da violência que culminou com deslocados, adiantou a presidente do INGD.

De acordo com o mais recente relatório da organização de Localização de Conflitos Armados e Dados de Eventos (ACLED, na sigla em inglês), dos 2.270 eventos violentos registados desde outubro de 2017, quando começou a insurgência armada em Cabo Delgado, um total de 2.107 envolveram elementos associados ao Estado Islâmico Moçambique (EIM).

Estes ataques provocaram em pouco mais de oito anos 6.341 mortos, refere no novo balanço, noticiado pela Lusa em 28 de novembro, incluindo as 12 vítimas reportadas nestas duas semanas de novembro.

O relatório aborda igualmente a movimentação de elementos do EIM pelos distritos de Eráti e Memba, na província vizinha de Nampula, relatando que "até 21 de novembro, já haviam realizado 13 ataques contra comunidades civis nos dois distritos e matado pelo menos 21 civis", movendo-se em "pelo menos três grupos".

"A atividade do EIM na província de Nampula atingiu o seu ponto mais alto em novembro, com 16 eventos nas primeiras três semanas do mês e a maior taxa mensal de mortalidade desde o início da insurgência. 

Novembro é o terceiro mês consecutivo em que o EIM tem estado ativo no norte de Nampula, marcando a atividade mais sustentada na província desde o início da insurgência", acrescenta a ACLED, assumindo que estas "repetidas incursões" sugerem que o grupo "pode estar a procurar reforçar as ligações existentes na área, possivelmente com vista a reforçar as rotas de abastecimento para recrutas e mercadorias".

A província de Cabo Delgado, também no norte de Moçambique, rica em gás, é alvo de ataques extremistas há oito anos, com o primeiro ataque registado em 05 de outubro de 2017, no distrito de Mocímboa da Praia.

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