Mais de dois terços das mulheres jornalistas e ativistas são atacadas nas redes sociais
Mais de dois terços das mulheres jornalistas, defensoras dos direitos humanos e ativistas denunciaram casos de violência em linha, com mais de 40% a reportarem mesmo casos de ataques físicos associados aos abusos digitais.
A informação foi divulgada terça-feira pela agência da ONU para as mulheres (UN Women, na expressão em inglês) que promove os direitos destas, a sua afirmação e a igualdade de género.
O documento foca-se no agravamento da violência dirigida a estas mulheres, a par da generalização das redes sociais e da inteligência artificial, e recolhe contributos de mais de 6.900 defensores dos direitos humanos, jornalistas e ativistas.
"A violência `online` contra as mulheres tornou-se uma crise global crescente", afirma-se no texto, acrescentando-se que "o que começa no ecrã pode rapidamente evoluir para assédio, intimidação e até ataques no mundo físico".
Mais de 40% dos inquiridos relataram ataques, abusos e asseio no mundo físico, que associaram a violência `online`, na forma de ataque físico ou sexual, perseguição, assédio verbal e `swatting`, um estratagema que leva as autoridades a comparecer em uma casa a responder a um alerta falso de violência no seu interior.
Mulheres escritoras, influenciadoras e fornecedoras de conteúdos para as redes sociais que se focam em direitos humanos são atacadas com frequência, se bem que o uso de novos instrumentos como as imagens falsificadas (`deepfake`) ou conteúdo manipulado, segundo o estudo compilado com parceiros, como a Comissão Europeia e o gabinete de estudos TheNerve.
A investigadora principal do estudo, Julie Posetti, em declarações aos jornalistas em Genebra, disse que o registo dos casos no mundo físico associados à violência digital contra mulheres jornalistas mais do que duplicou nos últimos cinco anos, com 42% de respondentes em 2025 a identificarem esta "trajetória perigosa e potencialmente mortal".
Posetti também mencionou preocupação com a "misoginia digital" e a "manoesfera" promovidas por alguns influenciadores digitais e ataques pessoais contra algumas mulheres jornalistas por dirigentes governamentais, incluindo Donald Trump.
"Quando um presidente ou um primeiro-ministro ou alguns dirigentes seniores fazem este tipo de ataque, tende a agitar a multidão digital", disse.
"Não é um apito de cão, que é uma forma subtil de desencadear uma reação massiva. É um ataque aberto", acrescentou Posetti, professora de jornalismo e diretora da Iniciativa da Integridade de Informação no TheNerve.
Os autores apelam para legislação reforçada e acompanhamento melhor para identificar a violência contra as mulheres associada a tecnologia, mais responsabilização das empresas tecnológicas e aumentar esforços para amplificar as vozes de homens a falarem contra tais práticas.
"As mulheres que defendem os nossos direitos humanos, que reportam as notícias ou lideram movimentos sociais estão a ser atacadas com abusos concebidos para as envergonhar, silenciar e excluí-las do debate público", afirmou a diretora da UN Women, Sarah Hendricks, disse. "Cada vez mais, estes ataques não param nos ecrãs - vai até às portas das casas das mulheres", acentuou.