Malária propaga-se "agressivamente" pelo Sudeste Asiático

por RTP
<i>Anopheles</i>, espécie de mosquito que transmite a Malária Reuters

Podemos estar perante uma "potencial emergência global de saúde", alerta um estudo publicado esta segunda-feira pela revista científica The Lancet. Quase 80 por cento dos mosquitos que transportam a malária já se tornaram resistentes aos tratamentos mais comuns.

Da Tailândia ao Vietname, do Camboja ao Laos. A malária começou a espalhar-se “agressivamente” pelo Sudeste Asiático. A maior parte dos mosquitos que transmitem esta doença evoluiu no sentido de resistir aos tratamentos mais utilizados. Esta condição pode acarretar “consequências desastrosas”.

"É uma doença difícil de lidar. As ferramentas que temos são modestamente eficazes, mas drogas e inseticidas desgastam-se; depois de dez, 20 anos, os mosquitos tornam-se resistentes", afirmou Adrian Hill, diretor do Instituto Jenner, da Universidade de Oxford.

Podemos estar perante uma "potencial emergência global de saúde", revelaram os cientistas.

De acordo com os dados de um estudo publicado na segunda-feira pela revista científica The Lancet, quase 80 por cento dos parasitas que transportam malária tornaram-se imunes às substâncias mais comuns.

"Estas descobertas preocupantes indicam que o problema da resistência a múltiplas drogas piorou substancialmente no sudeste da Ásia desde 2015", revelou Olivo Miotto, do Instituto Wellcome Sanger , da Universidade de Oxford.

“Essa variedade de parasitas resistentes e altamente bem-sucedida é capaz de invadir novos territórios e adquirir novas propriedades genéticas”, acrescentou o cientista que liderou o estudo.

Basta uma picada da fêmea do mosquito Anopheles para se contrair malária. Apesar de ser uma doença previsível e possivelmente tratável, a Organização Mundial de Saúde divulgou que, todos os anos, existem cerca de 219 milhões de casos em todo o mundo. Só em 2017, morreram 435 mil pessoas – maioritariamente crianças com menos de cinco anos.

"Existe uma preocupação real de que, em 2020 [os casos] voltem a subir”, referiu Adrian Hill. O que fazer?
A malária pode ser tratada através da combinação de dois medicamentos – artemisinina e piperaquina. Esta ligação permite destruir os organismos e matar o protozoário parasita - Plasmodium falciparum - que provoca a doença. Contudo, os dados mais recentes revelaram que este tipo de tratamento deixou de ser eficaz. As taxas de ineficácia foram “assustadoramente altas”.

Segundo o relatório publicado pela Lancet, esta combinação de medicamentos apresentou falhas de eficácia que rondam os 87 por cento no nordeste da Tailândia, os 62 por cento no oeste do Camboja, os 53 por cento no sudoeste do Vietname e os 27 por cento no nordeste do Camboja.

“As implicações podem não ser tão severas como pensamos”, revelou o professor da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres Colin Sutherland. Ainda assim, não restam dúvidas que “estes parasitas são monstros assustadores”.

"Com a disseminação e a intensificação desta resistência, as nossas descobertas destacam a urgente necessidade de adotar tratamentos alternativos", revelou, por sua vez, Tran Tinh Hien, professor da Unidade de Pesquisa Clínica da Universidade de Oxford.

Na opinião dos cientistas, uma das hipóteses para combater a doença pode passar pela utilização de outro tipo de medicamentos, para além da artemisinina. A criação de um novo tratamento, baseado na junção de três tipos de fármacos diferentes, também pode ser uma solução viável para combater os parasitas que se tornaram resistentes à combinação anteriormente usada.

Ciclos de frios e tremores seguidos de altas temperaturas e suores podem ser identificados como os primeiros sintomas da doença.

Se não houver qualquer tipo de tratamento, a doença pode levar, inicialmente, a problemas respiratórios e à falha de alguns órgãos e, nos casos mais graves, à morte.
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