Maré "branca" de cocaína nas praias atlânticas de França

por RTP
Tempestades em outubro podem ter obrigado os traficantes a atirarem borda fora parte da carga de droga encontrada nas praias francesas Reuters

Desde outubro, já foram recolhidos 1100 quilos de cocaína dos areais franceses do Atlântico. A zona onde pequenos fardos cheios da droga têm sido encontrados, estende-se agora das Landes até Finisterra, afirmou esta terça-feira o procurador da república de Rennes, Philippe Astruc.

"Desde meados de outubro, com uma grande intensificação no início de novembro, constatámos a chegada de fardos de cocaína ao litoral francês, chegadas que se estendem das Landes até à ponta bretã", disse Astruc, esta terça-feira.

Um lote de cinco quilos, que faz parte da "mesma carga", foi recolhido hoje em Camaret-sur-Mer (finistère), explicou o procurador.

A recolha de droga, que começou a dar à costa no dia 18 de outubro, deverá ultrapassar em breve a quantidade já recuperada, acreditam as autoridades.

"Cada maré traz o seu lote de produto. São chegadas relativamente grandes, de uma centena de quilos por dia em todo o litoral", disse Astruc à TV5. "Por isso não excluo que durante alguns dias continuem a chegar" aos areais.
Saúde pública em risco
Pelo menos cinco praias foram já interditadas na Gironda e vários municípios estão a proibir e a vigiar os acessos, até por questões de saúde pública.

"Quis fazer uma comunicaçao firme este fim-de-semana, pois receamos que as pessoas queiram recolher estes produtos para consumo próprio, o que é extremamente perigoso, e que traficantes ou aprendizes de traficantes tirem proveito da benção e pensem podemos fazer daqui algum dinheiro", explicou o procurador.

A cocaína tem ainda por cima um grau de pureza elevado, "de cerca de 83 por cento", revelou ainda.

"É absolutamente proibido apanhar, transportar e recolher este tipo de produto. É um crime punível com até 10 anos de prisão", sublinhou o magistrado, apelando ao "civismo" dos habitantes das regiões afetadas, os quais devem alertar a polícia em caso de descoberta destes fardos.

Segunda-feira, um adolescente de 17 anos, oriundo de Toulouse em férias na Gironda, foi interpelado pelos agentes na posse de cinco quilos de cocaína apanhada numa praia de Lacanau, fechada ao público. Continuava detido preventivamente esta terça-feira.
Caso "excecional"
Devido à ondulação e às correntes marinhas, a maior parte da carga deverá ter-se perdido no mar, referiu ainda o magistrado.

Uma parte da droga, que tem sido encontrada em fardos do tamanho de uma caixa de sapatos, envoltos em celofane para serem herméticos, foi recuperada no mar alto pelos serviços alfandegários.

O procurador referiu que este é um caso "excecional", sobretudo devido à quantidade de fardos que "chegam de forma esparsa ao longo de um território tão vasto".

A procuradoria de Rennes, responsável pelos casos de criminalidade organizada, já intercetou noutras ocasiões quantidades semelhantes de droga.

"Em termos de quantidade recolhida estamos na ordem de outras apreensões", relativizou Astruc, lembrando o ano de 2015 em que foram apreendidas duas cargas de cocaína em duas ocasiões, uma de 1,6 toneladas, a dois velejadores, e a segunda de 1,4 num navio cargueiro fundeado no porto de Havre.
Carga atirada borda fora
Astruc acredita que esta "maré branca" se pode dever a "uma redução de carga devido a uma avaria ou a uma tempestade".

Esta é também a opinião da maioria dos especialistas.

"Estatisticamente, a hipótese marítima é a mais provável, já que, de acordo com os serviços de informação europeus, cerca de dois terços da cocaína que entra na Europa chegam por via marítima", referiu, à Agência France Presse, David Weinberger, especialista de drogas no instituto francês de Altos Estudos para a Segurança e Justiça.

Pouco caro e mal vigiado, o frete marítimo é privilegiado pelos traficantes, revelou Weinberger.

"As alfândegas mundiais controlam apenas cerca de um a dois por cento dos contentores", lembrou, sem contudo pôr totalmente de parte a hipótese de que esta carga, encontrada nas praias francesas, possa ser  proveniente da eventual queda de um avião privado no mar alto.
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