Marte. Depois das sondas lançadas por China e EAU, NASA inicia nova missão

A NASA vai lançar esta quinta-feira a missão Perseverance, que tem como objetivo a procura de sinais de vida microbial no Planeta Vermelho. Os cientistas procuram perceber se alguma vez houve condições para a existência de vida em Marte. Depois das sondas de China e EAU, esta é a terceira missão a partir para aquele planeta em pouco mais de uma semana.

Andreia Martins - RTP /
A missão Perseverance vai ser lançada esta quinta-feira a partir da Florida, Estados Unidos. NASA

“Estamos prontos para o lançamento. Vivemos tempos extraordinários com a pandemia do novo coronavírus, e ainda assim perseveramos e protegemos esta missão, porque é muito importante”, afirmou Jim Bridenstine, administrador da NASA.

O lançamento está marcado para esta quinta-feira às 7h50 locais (12h50 em Lisboa) a partir de Cape Canaveral, na Florida.

Após uma viagem de sete meses, a missão Perseverance deverá chegar à cratera Jezero, Marte, a 18 de fevereiro de 2021. A partir desse momento, a missão tem duração prevista superior a dois anos (equivalente a um ano marciano).

O equipamento, no valor de 2,7 mil milhões de dólares, tem o tamanho de um carro, pesa mais de uma tonelada e será o quinto rover da NASA a chegar a Marte.

Este robô está equipado com um pequeno helicóptero, Ingenuity, que será o primeiro a tentar voar noutro planeta. Conta ainda com várias câmaras, microfones e um braço robótico. Com estas ferramentas, o equipamento irá recolher amostras de rocha e do solo para que uma futura expedição as possa trazer de volta à Terra antes de 2031 para serem estudadas.



A própria cratera Jezero, onde se prevê que a missão pouse em fevereiro, terá sido o delta de um antigo lago ou rio profundo e é atualmente um depósito de rochas sedimentares, onde se poderá ter preservado vida microbiana fossilizada. Em várias línguas eslavas, jezero significa “lago”.

O objetivo central desta missão é determinar se já houve vida em Marte. No entanto, pretende-se também caracterizar com mais pormenor o clima e a geologia do planeta, bem como preparar expedições humanas no futuro.

A missão é lançada numa altura em que a Terra e Marte estão numa posição favorável para que a viagem seja efetuada, tendo em conta as órbitas de ambos os planetas.

Bethany Ehlmann, geóloga planetária do Instituto de Tecnologia da Califórnia, que também integra a missão Preserverance, destaca que as descobertas feitas em Marte podem ajudar a desvendar segredos da própria Terra.

“Sabemos através da exploração que este mundo aqui ao lado também pode ter sido habitável. Na altura em que a vida na Terra ainda se estava a desenvolver, Marte já seria habitável, com lagos e rios”, acrescentou, em declarações ao Washington Post.  
Corrida ao espaço?

Este lançamento da NASA será o terceiro a nível mundial em pouco mais de uma semana. A 23 de julho, a China lançou a Tianwen-1 (nome retirado de um poema da China antiga, escrito por Qu Yuan, e que significa "Questionar a Verdade dos Céus").

Esta é a primeira tentativa de Pequim de pousar no Planeta Vermelho e também de colocar uma sonda em órbita. Na prática, a Tianwen-1 pretende orbitar, aterrar e lançar um rover no Planeta Vermelho.

A sonda foi lançada a partir de Hainan, uma ilha que se situa no ponto mais a sul do país, e deverá chegar a Marte também em fevereiro de 2021.

Dias antes da missão chinesa, também os Emirados Árabes Unidos deram o seu primeiro grande passo para além da órbita da Terra.

A missão Amal (que significa “Esperança” em árabe) partiu no dia 19 de julho com destino a Marte a partir do centro espacial de Tanegashima, no Japão, tornando-se no primeiro país do mundo árabe a juntar-se às missões interplanetárias.

Esta sonda deverá começar a orbitar Marte a partir de fevereiro de 2021. A partir desse momento deverá orbitar em volta do planeta durante 687 dias terrestes (equivalente a um ano marciano), com o objetivo de descobrir informações sobre a dinâmica da atmosfera.

De acordo com a Associated Press “a sonda Amal está programada para acompanhar a sonda Maven da NASA, enviada a Marte em 2014 para estudar como o planeta passou de um clima quente e húmido, que pode ter abrigado vida microbiana (…), para passar a ser o lugar frio e árido de hoje”,

As várias missões simultâneas em curso podem, no entanto, significar algo mais do que uma corrida ao espaço, diferente da rivalidade entre Estados Unidos e União Soviética durante a Guerra Fria.

Apesar dos desentendimentos na Terra, os países parecem estar unidos na descoberta dos mistérios do cosmos. Na semana passada, a Agência Espacial Europeia congratulou a Administração Nacional Espacial da China pelo lançamento, assim como o administrador da NASA.

"Com este lançamento, a China está a caminho de se juntar à comunidade internacional de exploração científica de Marte. Estados Unidos, Europa, Rússia, Índia e em breve os Emirados Árabes Unidos vão receber-vos em Marte para juntos embarcarmos num emocionante ano de descoberta científica. Viaja em segurança, Tianwen-1!", escreveu Jim Bridenstine no Twitter.

John Logsdon, professor do Instituto de Política Espacial da Universidade George Washington, em declarações à ABC News refere que “há sempre competição porque os cientistas são competitivos e todos querem as melhores descobertas possíveis, mas numa perspetiva mais ampla é o mundo que lucra com várias missões."

"Queremos aprender mais sobre Marte, por isso quanto mais missões existirem, melhor estamos. Uma missão não poderá impedir outras de fazer o seu trabalho”, acrescentou.
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