Médico italiano diz ter ajudado Piergiorgio Welby a morrer

Um médico italiano, Mario Riccio, afirmou ter ajudado a morrer Piergiorgio Welby, um italiano que sofria há 30 anos de distrofia muscular e reivindicava o direito de morrer, desligando quarta-feira o respirador artificial que o mantinha vivo.

Agência LUSA /

"Acedi à sua vontade de morrer", declarou o médico durante uma conferência de imprensa organizada em Roma na câmara dos deputados pelo Partido Radical, que apoiava o combate de Welby.

Riccion, um médico anestesista do hospital de Crémone (norte), explicou ter desligado o respirador artificial e dado os medicamentos necessários para evitar o sofrimento do doente.

Disse ter falado com Marco Capatto, dirigente dos radicais, que lhe "pediu se podia ir até à concretização do que era claramente o desejo de Piergiorgio Welby".

"Eu não vi nenhum obstáculo (Ó), considerando que o direito reclamado por Piergiorgio Welby é reconhecido e largamente praticado em Itália", declarou o médico.

Contou ter tido segunda-feira uma "longa conversa com o doente" que "confirmou plenamente a sua vontade de ver desligado o respirador artificial a que estava ligado (Ó) com acompanhamento de um sedativo".

Piergiorgio Welby reiterou a sua vontade quarta-feira, segundo o médico.

O deputado europeu radical Marco Cappato precisou que Piergiorgio Welby morreu quarta-feira "uma meia hora antes da meia noite" (22:30 TMG), "após 88 dias de combate" iniciado com o envio de uma carta ao presidente italiano, Giorgio Napolitano, pedindo o direito de lhe ser desligada a máquina de que dependia a sua vida.

Welby, 60 anos, recorreu aos tribunais para que os médicos lhe suspendessem a respiração assistida após sedação terapêutica, mas uma juíza do Tribunal Civil de Roma, Ângela Salvio, considerou que se tratava de "um direito não tutelado concretamente no ordenamento jurídico".

O caso de Welby - cuja vida dependia desde 1997 de um respirador artificial e era alimentado por uma sonda - gerou um amplo debate sobre a eutanásia em Itália que dividiu as forças políticas.

No sábado passado realizaram-se numerosas vigílias em Itália, bem como em Bruxelas e Londres, a favor de Welby, que contaram com o apoio de 204 parlamentares italianos e europeus.

"O que se passou esta noite foi o respeito, na legalidade, do que ele tinha pedido", afirmou Marco Cappato, que insistiu na vontade do doente de conduzir o seu combate "por todas as vias da legalidade", para fazer sair a questão da eutanásia "da clandestinidade".

Marco Cappato é secretário da associação Coscioni, que luta pelo direito à eutanásia. Piergiorgio Welby era vice-presidente da associação.

Após a morte de Welby, um responsável dos democratas cristãos italianos (UCD, direita), Luca Volonte, denunciou "um homicídio" que "não deve ficar impune".

Em declarações à cadeia televisiva RAI, Luca Volonte, líder parlamentar da UDC, apelou "à autoridade judiciária a deter os culpados daquele homicídio punido pelas leis do Estado".

Por outro lado, criticou o "acto violento, escandaloso e instrumentalizado" pela associação Coscioni e o presidente do Partido Radical, Marco Panella, que apoiaram o combate de Welby pelo direito a morrer.

Ignazzo La Russa, um dos dirigentes da Aliança Nacional (direita), acusou, por seu turno, o Partido Radical de Sinstrumentalização bárbara".

"Para reclamar um debate no Parlamento existem outros métodos", criticou.

Marina Sereni, da Oliveira (esquerda, membro da coligação no poder), reagiu de forma diferente. "Lamentamos não ter podido responder com as leis do Estado num caso tão dramático", comentou.

O primeiro-ministro italiano, Romano Prodi, declarou à RAI que "o respeito absoluto da prioridade da vida é um grande valor que devemos vigiar com todos os meios".

Prodi declarou-se convencido que a legislação "pode chegar até certo ponto", pois em casos como este existem decisões a tomar pelo "doente, quando o possa fazer, os familiares, o médico, sempre com respeito absoluto pela prioridade da vida".

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